Podemos ouvir o eco das palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém que dizia isto há 3.000 anos – semelhante a uma frase Shakespeariana ele reflete como um Hamlet pensativo: ‘Vaidade de vaidades! — É tudo vaidade. Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?”
Recentemente alguém que observava meu carango sugeriu: “é bom trocar de carro, esse ai não causa boa impressão. Já saiu de linha.”
Respondi: Bom, ele me leva para onde eu quero ir e me protege da chuva e do sol, tem me servido muito bem. Obrigado pela sugestão, mas quem me vendeu garantiu: “Esse carro dura até acabar”. Gostei da garantia.
Salomão talvez com a intenção de nos alertar sobre a correria desenfreada causada quase sempre pela vaidade inconsciente ou não de possuir coisas para impressionar os outros, nos faz pensar de repente que a vaidade nos prende em um tipo de ansiedade excessiva e desnecessária de atrair a atenção do olhar alheio sempre a partir das nossas habilidades, posses ou privilégios estéticos.
Mas devo alertar: tudo não passa de narcisismo, como já dizia o poeta: “Narciso acha feio o que não é espelho”, e a vaidade perigosamente surge no ambiente dos excessos e das sobras dos desperdícios. Sem os extremos não caberia a inveja nem a cobiça por aquilo que não é nosso.
Obrigatoriamente a sociedade nos impõe o ritmo do momento e o estilo de vida que devemos ter: com quem devemos andar, conversar, falar, vestir e comer. Esquecemos que uma camisa que não carregue uma etiqueta famosa nos protege do frio da mesma maneira que uma de marca; e que um cachorro-quente pode matar a fome tanto quanto um prato exótico nos cinco estrelas do mundo. Mas, venhamos e convenhamos sentar numa lanchonete de calçada não é o mesmo que ser visto sentado no restaurante mais cobiçado da cidade.
Poder dizer para o outro que viajou para aquele lugar ou comprou o último modelo de celular é realmente uma sensação poderosa não é?! Sem falar que tudo isso tem que reverberar nas redes sociais pontualmente.
Fico pensando se por ocasião de algum evento trágico todos ficassem sem enxergar. O desespero talvez não fosse pela perda da capacidade de ver, mas, sim do outro não me ver. O que seria dos corações vaidosos? Como mostrar meu jeans caríssimo? Meus 500 pares de sapatos? A vida não faria mais sentido.
Tudo isso acontece bem aqui, debaixo do sol, onde tudo é vaidade. Mas não desanime nem deixe que se instale um sentimento entediante de que viver é inútil. Na verdade é importante meditar sobre as questões da vida humana, sobre nossas vitórias e derrotas, injustiças e decepções e fazer um balancete de vez em sempre é saudável e revigorante. Pensar em Deus é importante, e principalmente confiar que acima do sol das vaidades existe a simplicidade da esperança, existe céu e se apegar a essa convicção de que o choro da desesperança pode durar uma noite, mas uma nova oportunidade para fazer a vida valer a pena virá pela manhã.
Créditos da imagem: De Bernt