Produzir cápsulas de tamanho reduzido e úteis para o tratamento de inflamações pulmonares, com uso do óleo de copaíba em seu interior, é a mais nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A invenção recebeu o nome de Nanocápsulas poliméricas biocompatíveis contendo óleo de copaíba para tratamento de inflamações pulmonares e tem como autores Victor Moraes Rodrigues, Daniel Torres Pereira, Wógenes Nunes de Oliveira, Lucas Amaral Machado, Éverton do Nascimento Alencar e Eryvaldo Sócrates Tabosa do Egito.
O óleo de copaíba é amplamente utilizado pela medicina popular devido às suas atividades anti-inflamatórias, principalmente no manejo da bronquite e da asma. O desafio dos cientistas foi driblar algumas características inadequadas — como viscosidade, odor e solubilidade — que comprometem seu uso. O grupo encontrou na forma de nanocápsulas a solução. “Podemos defini-las como nanopartículas formadas por um núcleo oleoso revestido por uma membrana polimérica. Essas são capazes de modificar a maneira como os óleos naturais ficam disponíveis por diferentes mecanismos. Nessa possibilidade de alteração, conseguimos aumentar a capacidade de o óleo ser solúvel, situação que facilita sua absorção e permite uma liberação efetiva em diferentes tecidos, como o pulmonar”, pontua o professor Sócrates Tabosa do Egito, coordenador do grupo.
Fora a composição em si, outro componente importante é o tamanho da partícula. O próprio prefixo nano dá a indicação: são peças minúsculas. Por assim serem, seu perfil farmacocinético é afetado e o que o corpo faz com o fármaco ou o produto natural nesses casos é diferente. Portanto, fatores como o tempo de permanência da substância na corrente sanguínea e a sua estabilidade em fluidos orgânicos, como os compartimentos pulmonares, são alterados pela dimensão das cápsulas.
Na junção desses aspectos, o desenvolvimento do produto se destaca como uma alternativa promissora para levar o óleo à área a ser tratada e superar as desvantagens de seu uso in natura. É o que destaca Victor Moraes Rodrigues, à época aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS/UFRN), cuja dissertação rendeu como fruto o produto objeto do depósito de pedido de patente, solicitado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no mês de janeiro.
“O desenrolar da pesquisa teve como pressuposto que o óleo de copaíba é majoritariamente constituído por uma fração volátil rica em sesquiterpenos e uma fração não-volátil rica em diterpenos, como o β-cariofileno e o ácido copálico, respectivamente. Devido à presença destes componentes, ele apresenta diferentes atividades biológicas importantes, podendo-se destacar o efeito anti-inflamatório pulmonar, por exemplo, em condições patológicas como asma e bronquite. A partir disso, desenvolvemos a alternativa tecnológica para permitir a administração pulmonar direta no tratamento de inflamações pulmonares e que, por conseguinte, resultou na obtenção de um produto inovador nanotecnológico”, descreve Victor Rodrigues.
Esta é a décima patente na qual os cientistas do Laboratório de Sistemas Dispersos (LaSID) do Departamento de Farmácia da UFRN têm participação. Os projetos envolvem desde contribuições com equipes da física (Um GPS no combate à infecção) até o desenvolvimento de uma microemulsão (Maracujá, para mais do que calmante), passando por uma formulação cosmética que potencializa redução dos danos causados pela radiação solar (Bloqueio às radiações) e pela criação de uma lente de contato capaz de liberar medicamentos, de forma controlada, de várias classes terapêuticas (Tecnologia resulta em lentes de contato para tratamento de conjuntivite e glaucoma).
“No cenário da pesquisa, a patente está ganhando muito espaço, pois, para conseguirmos financiamento em editais do CNPq, são pedidos produtos e ideias inovadoras que sirvam como ponto de partida para a indústria e grupos maiores apoiarem as pesquisas nas universidades. É um ciclo no qual, embora os artigos ainda ocupem uma posição central, propicia-se o crescimento pelo interesse no depósito de patentes, ao mesmo tempo em que se incita uma postura diferente”, identifica Wógenes Nunes de Oliveira, que desenvolve atividades como pós doutor Júnior no LaSiD e é um dos inventores. De acordo com o grupo, essa patente das nanocápsulas para tratar infecções do trato respiratório faz parte de um projeto maior, que é desenvolver medicamentos para o SUS usando óleos naturais, no caso o de copaíba.
“O objetivo final é ter um produto, um lote de nanopartículas, que vamos secar, pois não tem como pulverizar um óleo no pulmão. Então colocamos dentro de uma cápsula para fazer a bombinha que a pessoa dispara e respira, procedimento similar, embora não idêntico, ao tratamento da asma, e vamos entregar ao SUS como uma nova tecnologia para combater processos inflamatórios pulmonares”, pontua o professor Sócrates do Egito. “Esse processo permite que o paciente não sinta o cheiro do óleo, tampouco o visualize. Quando chegamos na parte da secagem, a pessoa consegue inalar o produto farmacêutico”, complementa.
Em vídeo, dois dos envolvidos falaram um pouco sobre a nova tecnologia
Patentear
Antes de mais nada, ter a patente de um produto significa, para o INPI, ter o direito de impedir terceiros de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar, sem o consentimento do seu titular, o produto inventado. O titular da patente poderá conceder licença a terceiros, mediante remuneração ou não. Essas obrigações surgem já a partir do depósito do pedido.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN