Desde novembro, a comunidade acadêmica pode presenciar a floração dos ipês plantados nos campi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em Natal e no interior, fenômeno que vem modificando as cores do ambiente em tons de amarelo e roxo. O show da natureza atrai olhares e provoca muitas reações positivas, como também a percepção de que existe um grande trabalho de jardinagem e arborização realizado por profissionais da Diretoria de Meio Ambiente (DMA), unidade vinculada à Superintendência de Infraestrutura (Sinfra/UFRN). O caso dos ipês é ainda mais particular, porque é um esforço coletivo que envolve professores, técnicos e estudantes.
Nesta época de florada, o espetáculo é percebido em todo o anel viário que circula o Campus Central, em Natal, mas também nos campi do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres/UFRN), em Caicó, e na Faculdade de Engenharia, Letras e Ciências Sociais do Seridó (FELCS/UFRN), em Currais Novos. A proposta de colorir a Universidade ganha reforço na primeira gestão do professor José Daniel Diniz Melo na Reitoria, quando solicitou à DMA que reforçasse o plantio. A ideia do reitor, que ainda está em discussão, é fazer com que as pessoas adotem uma dessas árvores como “filha” e se comprometam em cuidar delas.
A professora Selma Jerônimo, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT/UFRN), que desde 2014 já vinha se movimentando nesse sentido, aceitou o desafio e, em conjunto com seus colegas (professores e estudantes) começou um plantio ao redor do Centro de Biociências, em 2020, com o apoio da DMA. Inicialmente, foram plantadas 52 mudas, hoje já são 130. Duas vezes por semana ela e a equipe do IMT regam os canteiros e realizam adubação algumas vezes no ano. “A ideia é promover a diversidade valorizando as espécies nativas”, diz a professora, que não esconde a alegria durante os períodos de floração.
No geral, a DMA planta, desde 2020, ipês amarelos (também chamados de craibeiras), ipês roxos e brancos no anel viário. Segundo Bruno Macêdo, biólogo e gestor ambiental da DMA, as árvores foram escolhidas para representar a persistência e a resiliência da vida durante a pandemia de covid-19. Mas o trabalho da diretoria vai além dos ipês: o pau-brasil, árvore que deu nome ao país, também é plantado na UFRN. “Trata-se de uma espécie nativa da Mata Atlântica que, aqui no Rio Grande do Norte, apresenta um porte que, a depender dos tratos culturais, pode variar de 6 a 12 metros de altura”, explica o biólogo. Bruno também destaca que a espécie tem uma madeira nobre e é muito querida pela comunidade local.
No Ceres, o projeto de extensão Nativas, educação ambiental para promoção da Caatinga” realiza plantações de árvores nativas no campus desde o início deste ano. Segundo Sandra Kelly, coordenadora do projeto e professora do Departamento de Geografia do Ceres (DGC), o grupo é formado por voluntários, alunos e pessoas da comunidade que plantam árvores como jucás, ipês, timbaúbas, mororós, angicos, mulungus e catingueiras. O grupo também criou a Trilha da Raposa, que é adornada por diversas espécies de árvores da Caatinga.
Já no campus da Felcs, foram plantados, em 2022, mais de 50 ipês amarelos. Para o diretor da faculdade, Alexandro Gomes, os ipês são uma maneira de atender às expectativas da comunidade universitária em relação à beleza e ao clima do campus. “As árvores ajudam a embelezar o ambiente, mas também contribuem para um clima mais ameno, sobretudo na região do Seridó”, afirma.
Mas não é só beleza. A presença dos ipês oferece benefícios por suas propriedades medicinais, como também contribui para aumento da biodiversidade das áreas em que são cultivadas. Além disso, estimula as pessoas a diminuirem o ritmo para contemplar o desabrochar das flores. Do tupi “árvore de casca grossa”, os ipês são plantas caducifólias, ou seja, perdem suas folhas e as substituem por flores coloridas.
Escolha das espécies
De acordo com Bruno Macêdo, as espécies utilizadas na arborização dos campi da UFRN são baseadas, de forma geral, em três critérios principais: origem, aspectos morfofisiológicos e histórico de adaptabilidade ao espaço urbano. Em relação à origem das espécies, é dada a prioridade para as nativas de biomas encontrados no RN, que são a Caatinga e a Mata Atlântica potiguar. Mesmo assim, explica Bruno, não há nenhuma proibição quanto ao uso de espécies exóticas a essa flora. Contudo, não são utilizadas espécies “da moda”, já que a repetição de uma mesma espécie contribui para a disseminação de doenças e parasitas.
Ainda no que se refere aos aspectos morfofisiológicos, que dizem respeito à sua forma e aos aspectos fisiológicos do órgão ou estrutura, é levado em consideração o design próprio da espécie em comparação ao local em que será inserida, já que permanecerá no mesmo local por décadas. Por isso, esclarece o biólogo, é preciso analisar a morfologia (forma, configuração, aparência externa) da espécie, desde a semente até a sua fase adulta, bem como as exigências necessárias para mantê-la em seu ótimo estado fisiológico. O histórico de adaptabilidade é outro fator importante. Segundo Bruno, apenas o fato de a espécie ser nativa da região não a torna adequada para ser utilizada na arborização urbana. Um exemplo citado é o cajueiro, que é muito utilizado em bosques, mas que, por ser associado a cupins, torna-se contraindicado a ser plantado próximo a construções urbanas.
Segundo Bruno Macêdo, “a UFRN dispõe de uma equipe de monitoramento de pequenas podas, a qual circula diariamente pelo Campus Central observando possíveis riscos para neutralizá-los e registrar a ocorrência. A equipe também realiza pequenas podas nos passeios, visando à acessibilidade”, explica. O biólogo complementa: “Essa equipe recebeu treinamento de atualização em julho deste ano”.
O serviço prestado pela DMA geralmente não passa despercebido, pois comissões de visita e os próprios discentes da UFRN reconhecem seu empenho e dedicação em oferecer um serviço de qualidade, e em ocasiões como a floração dos ipês, a atenção aumenta. Contudo, a recente valorização do trabalho de arborização não chegou ao conhecimento dos responsáveis por esse feito. Bruno Macêdo afirma que não soube que o trabalho estava sendo elogiado. “Fico feliz em saber que o empenho da UFRN, feito por várias mãos, tenha agradado à comunidade universitária”.
Fonte: Agecom/UFRN