Pesquisas inovadoras, produção de medicamentos e publicações em revistas de renome internacional. Foi por meio desses fatores que o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA) da UFRN recebeu, na mais recente avaliação quadrienal (2017-2020) da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), o conceito 6, que, segundo a organização, expressa “excelência constatada em nível internacional”. O programa é o primeiro de Medicina II a alcançar a marca no Brasil, estando a um nível do conceito máximo, o 7. A área abrange pesquisas e inovações tecnológicas no cuidado à saúde.
O coordenador do curso, Sócrates Egito, está no comando do PPGCSA pela segunda vez e declara que a principal responsabilidade do programa é garantir a qualidade das produções científicas realizadas pelos discentes. O professor do Departamento de Farmácia (DFARM) afirma seu “compromisso de estimular a internacionalização e incremento da produtividade científica na área de Ciências da Saúde, mediante produção em revistas internacionais de alto impacto”.
Segundo Sócrates, a chave para a conquista do conceito 6 na Capes foi o compromisso de publicar pesquisas apenas em revistas de reputação internacional, garantindo repercussão e impacto mundial. Para o farmacêutico, ter esse nível de reconhecimento para a produção científica significa que todo mundo está lendo aquela produção. “E aí, a gente vai ganhando notoriedade internacional”, reforça.
O PPGCSA teve seu início em 2001, com um curso de mestrado idealizado por José Brandão Neto, que foi professor da Universidade até 2018. Três anos depois, em 2004, veio o doutorado e, por meio disso, mais reconhecimento para o programa a nível nacional. Sob o rígido comando de Brandão, os discentes eram incentivados a produzir teses e pesquisas que teriam impacto internacional. Sócrates, ao chegar no PPGCSA em 2002, notou um programa extremamente robusto, rígido, que acompanhava, de perto, a produção científica dos alunos e dos professores.
O PPCSA tem, atualmente, 36 docentes permanentes, dos quais 23 são bolsistas de produtividade em pesquisa (PQ) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). As pesquisas realizadas pelo programa se concentram, principalmente, nas áreas deDesenvolvimento de Dispositivos Biomédicos e Medicamentos e Aplicação Clínica, Saúde Humana e Cuidado das Pessoas e Biociências Aplicadas à Saúde. Outras linhas de pesquisa são Avaliação e Intervenção Terapêutica na Prática Clínica e Ensino e Bioética em Saúde. Entre os discentes, são 146 matriculados, sendo cerca de 90 doutorandos e por volta de 50 mestrandos. A cada ano, aproximadamente 50 alunos se formam pelo programa.
Linha de frente na pandemia
O PPGCSA foi destaque durante a pandemia da covid-19, com serviços dos pesquisadores do programa sendo essenciais no combate ao vírus no Rio Grande do Norte. Foram realizados projetos e pesquisas nas áreas de diagnóstico, de terapias, de estudos clínicos, de epidemiologia e de cuidado ao idoso. O programa, também, coordenou pesquisas com especialistas no tratamento de epidemias. Hoje, um dos principais focos é a produção de medicamentos que tratam de sintomas persistentes após a infecção pelo coronavírus, um quadro conhecido como “Covid longa”.
Kenio Lima, professor do Departamento de Odontologia (Dod), é pesquisador na área de envelhecimento e de saúde e participou de estudos que investigaram a relação entre as condições de vida de pessoas idosas e o número de óbitos por covid-19 no grupo. Um dos projetos ajudou servidores idosos da UFRN que foram infectados e, ainda, lidavam com sequelas.
Kenio é, desde fevereiro, coordenador-geral da Política de Envelhecimento Ativo e Saudável e Desenho Universal do Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania. O odontologista afirma que seu trabalho formando professores e pesquisadores pelo PPGCSA o levou a integrar o grupo de estudos em Envelhecimento e Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), e, a partir disso, veio o convite para fazer parte do Ministério. “Como fruto das pesquisas, várias produções científicas na área do envelhecimento foram publicadas, e, com isso, pude contribuir para o estudo do envelhecimento no nosso estado e no Brasil”, explica.
Selma Jerônimo, professora do PPGCSA desde o início do programa e diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT), foi condecorada em julho com a Ordem Nacional do Mérito Científico pelo presidente Lula, por seu trabalho como pesquisadora científica. Um momento importante do seu serviço foi durante a pandemia quando coordenou uma força-tarefa com professores, com médicos, com enfermeiros, com bioquímicos e com pesquisadores para combater a disseminação do coronavírus. “Foram mais de 100 pessoas que se prontificaram a trabalhar de forma voluntária; todos tendo a sensação que seria travada uma guerra, sem saber quem iria sobreviver”, relata.
O trabalho de Selma com o IMT durante a pandemia, com a ajuda de discentes do PPGCSA, ajudou milhares de pessoas no Rio Grande do Norte por meio de 100 mil testes moleculares e de ações, como atendimento ambulatorial e via telefone, diagnóstico e pesquisas para combater e entender a evolução do coronavírus. Segundo a professora do Departamento de Bioquímica (DBQ), no teleatendimento a angústia das pessoas era patente, e a conversa com profissionais de saúde minimizou o medo e diminuiu o risco do processo solitário vivido.
Outras pesquisas realizadas pelo PPGCSA durante a pandemia investigaram as variantes da covid-19, o papel das comorbidades, os números de reinfecção e o uso de doações de plasma convalescente, ou seja, sangue de pessoas que se recuperaram do coronavírus, no tratamento da doença. Para Selma, a importância do PPGCSA para a UFRN é evidenciada pela forte presença do programa no campo da pesquisa científica, indo além da sala de aula. “Uma universidade fortalecida poderá cumprir além da sua missão, que inclui formação de pessoal, pesquisa e extensão”, explica.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN