Compondo metade da estrutura dos troncos de madeira e sendo o elemento mais abundante nas paredes celulares vegetais, quem poderia imaginar que a celulose seria o ponto de partida científico para a invenção de um material e de um processo de síntese inéditos. Sua aplicação passeia pela área de tecnologia, em LEDs para telas e baterias, da saúde, nas áreas de biossensores, para a detecção de doenças, e da estética, para a fabricação de cosméticos.
Equipe de cientistas do Instituto de Química (IQ/UFRN), coordenada pela professora Luciene Santos, desenvolveu um processo para a produção ultrarrápida de nano carboximetilcelulose, obtido a partir das fibras da celulose, utilizado para dar textura, viscosidade e promover uma secagem rápida dos alimentos, por exemplo. A descoberta, fruto da tese de Heloise Oliveira Medeiros de Araújo Moura, estudante do Programa de Pós-Graduação em Química da UFRN, gerou um depósito de pedido de patente para proteger a nova tecnologia.
Heloise ressalta que a carboximetilcelulose tem ampla aplicação industrial, sobretudo por possuir propriedades físico-químicas únicas, sendo promissora para aplicação nos mais diversos setores da indústria e de nanotecnologia. A pesquisadora destaca que, entre outras características, o material produzido é biocompatível e solúvel em água.
“A inovação da patente está relacionada tanto ao material em si, que é o primeiro nano-biopolímero de coordenação derivado de celulose reportado na literatura, quanto ao processo de síntese, que consiste em um método inédito de conversão da celulose em meio homogêneo, rápido e que utiliza reagentes e solventes ambientalmente amigáveis, que podem ser obtidos a partir de resíduos e de biomassa, além de ser facilmente reutilizados em outros processos de síntese”, explica.
Orientadora do estudo, a professora Luciene da Silva Santos frisa que a invenção do grupo retrata um avanço em direção ao desenvolvimento de processos mais eficientes para o aproveitamento da biomassa de plantas em produtos de alta tecnologia. “A celulose utilizada pode ainda ser advinda do beneficiamento de resíduos agroindustriais, como o bagaço de cana-de-açúcar, tornando o processo mais sustentável, barato e pautado nos princípios da Química Verde. Essa é uma tônica aqui no nosso grupo no Laboratório de Tecnologias Energéticas (Labten). Posso dar como exemplo duas patentes concedidas recentemente que utilizavam, veja só, a areia da praia e o resíduo da cana-de-açúcar como matérias-primas”, descreve a docente.
As invenções citadas por ela podem ser acessadas clicando aqui, para saber mais sobre a sílica a partir da areia da praia, e clicando aqui, para informações adicionais sobre a sílica com a cana-de-açúcar. Outro exemplo de produção do Labten foi um catalisador com cinza da casca de banana, tema de uma reportagem já no ano de 2020.
Luciene destaca que são diversos os processos que o grupo de pesquisa tem desenvolvido na área de biorrefinaria, além de estarem trabalhando na aplicação efetiva do material deste pedido de patente. Oriunda desse contexto, a tese de Heloise Moura, que engloba o processo que deu origem a esta patente e a outras duas publicações envolvendo a caracterização e a conversão de biomassas residuais, foi premiada como o melhor trabalho de doutorado apresentado no 14° Simpósio do Programa de Pós-Graduação em Química da UFRN, agora em julho, sob o título Innovative methodologies in the concept of biorefinery for the analysis and derivatization of lignocellulose, e com a orientação de Luciene Santos.
Especificamente sobre o depósito da patente, além das duas, participaram da pesquisa Anne Câmara, Rainízio Costa e Brendo Silva, atuando nos processos de síntese e análise do material, e o professor Enrique Castellón, nas caracterizações instrumentais e na discussão de resultados. Denominado “Processo ultrarrápido de derivatização da celulose em nano carboximetilcelulose de zinco (nano-ZnCMC) via rota homogênea”, o pedido desta patente passa a integrar o portfólio de ofertas tecnológicas da UFRN, disponível para acesso em www.agir.ufrn.br.
O diretor da Agência de Inovação (Agir) da UFRN, Jefferson Ferreira de Oliveira, explicou que as orientações e as explicações a respeito dos aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas na própria Agir, unidade localizada no prédio da Reitoria. Com mais de 600 ativos protegidos, o gestor faz questão de frisar, por sua vez, que o desafio momentâneo da Universidade é desenvolver estudos de prospecção tecnológica e de inteligência competitiva no campo da propriedade intelectual, de forma a orientar as ações de inovação na UFRN e a facilitar a transferência dessas tecnologias para o setor produtivo.
Na UFRN, a Agência é a unidade responsável pela proteção e pela gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador. Entre suas atribuições, também tem responsabilidade na transferência de tecnologia desses ativos e organização dos ambientes promotores de inovação, acompanhando e estimulando, por exemplo, as atividades das incubadoras da Universidade, bem como as atividades dos parques e dos polos tecnológicos.
Fonte: Agecom/UFRN