Conhecer a história do lugar de onde viemos é saber mais sobre quem somos. Com o objetivo de costurar vestígios do passado e estender o manto de conhecimento de forma acessível para todas as pessoas, nasce, em 2021, o projeto de extensão Aventuras científicas ilustradas: popularizando a ciência potiguar. Composto por uma equipe engajada, interessada pela cultura histórica e divulgação científica, a proposta visa criar um livro ilustrado com as expedições científicas e artigos publicados na Revista Arquivos do Instituto de Antropologia do Museu Câmara Cascudo (MCC). A ideia é usar a publicação de forma pedagógica com uma linguagem simples e atrativa.
A Revista Arquivos do Instituto de Antropologia aborda a trajetória do antigo Instituto de Antropologia (IA), primeiro centro de pesquisa da UFRN, atualmente denominado Museu Câmara Cascudo. A revista também traz artigos científicos das descobertas realizadas, inclusive sobre a primeira expedição feita pelos exploradores do IA. Essa pesquisa aconteceu por conta de uma lenda do município de São Tomé, localizado na microrregião da Borborema, no Rio Grande do Norte. Segundo contam os locais, o último grupo indígena Cariri foi massacrado por uma tropa volante e seus corpos, jogados na fenda de uma rocha que passou a ser chamada Pedra dos Ossos.
Essa história chamou a atenção de quatro pesquisadores potiguares do IA em 1960. Impelidos pelo desejo de desvendar o mistério para confirmar (ou não) a lenda, aventuraram-se nessa jornada. As descobertas foram documentadas na revista e recentemente voltou a despertar a curiosidade de atuais pesquisadores do Museu e dos popularizadores científicos.
A proposta de contar sobre os estudos do antigo Instituto de Antropologia com uma linguagem menos acadêmica e simplificada foi de Glauco Albuquerque, estudante de biologia e bolsista de divulgação científica do MCC. Desde criança, o jovem debruçava-se na leitura dos fascículos da coleção Dinossauros, o que lhe serviu de inspiração. A ideia começou a ganhar forma em 2021 com o projeto Aventuras em Quadrinhos, hoje inativo, mas que deu início a ilustrações sobre as ações realizadas em São Tomé e inspirou a continuidade de outros projetos de extensão na UFRN, como o ativo Aventuras Científicas Ilustradas.
O roteiro estreante aborda a primeira expedição e já foi escrito, o segundo fala de uma pesquisa realizada em Mossoró numa caverna na região de Baraúna e está em andamento. Para isso, Glauco, roteirista do projeto, e sua coordenadora-adjunta, Jacqueline Souza, pesquisaram profundamente em matérias de jornais, nos arquivos do MCC e nos relatórios das pesquisas e encontraram expedições que chamaram de “emocionantes”.
“As expedições que eles (os pesquisadores do IA) fizeram eram cheias de aventuras e emoções, então pensei: ‘vamos contar essa história da forma como ela merece e como aconteceu’. Eles se embrenharam no meio da caatinga, subiram serra, entraram em cavernas, passando por perrengues grandes no meio do nada, acampando com gerador de energia, no meio da escuridão total da noite, enfim, explorando um Rio Grande do Norte que ainda não havia sido explorado, pois eles foram pioneiros”, destaca Glauco.
Jacqueline enxerga a importância de se dedicar a projetos como esse para que as descobertas cheguem de modo compreensível até a comunidade, pois a coordenadora entende a necessidade de se quebrar algumas barreiras que distanciam as pessoas da ciência. Alguns motivos desse distanciamento são a linguagem rebuscada e o desconhecimento das pesquisas que ainda acontecem no Museu.
“O Museu tem que se comunicar de outras formas, não só as pessoas indo fisicamente ao espaço. Essas ações vêm pensando nisso também, em fortalecer a história do Museu. O interessante é que, nacionalmente e até internacionalmente, as pessoas conhecem o Museu, mas a nossa população não conhece. A gente tem um acervo muito rico, que continua gerando conhecimento e as pessoas não sabem, acham que está tudo ali guardado, mas ele é fonte de pesquisas e novas descobertas”, diz a coordenadora, enfatizando que o livro ilustrado não é somente para crianças e acadêmicos, mas para um público variado com interesse em aventuras, quadrinhos e também na história da ciência e dos museus.
Para imergir a equipe na lenda de São Tomé, em 2022, quando a primeira expedição científica no estado completou 60 anos, todos foram conhecer pessoalmente a Pedra dos Ossos, refazer o caminho dos pesquisadores e ter contato com os locais. No município, também realizaram ações educativas na Escola Estadual Amaro Cavalcanti com o corpo docente, alunos e outros moradores. Oficinas de quadrinhos, palestras e debates contaram sobre a lenda e as pesquisas realizadas com os materiais encontrados, além de serem realizadas entrevistas com a população local, que agregou conhecimento sobre o passado de São Tomé.
De acordo com a pedagoga do projeto, Cristiana Medeiros, responsável por comunicar acerca da expedição de forma pedagógica, todo museu de ciências tem como função social a divulgação científica. “É importante mostrar uma memória social para aquela população e trazer a divulgação da ciência de pesquisadores norte-rio-grandenses para entender de onde a gente veio, qual a nossa formação, quem existia ali antes de os portugueses chegarem. E (contar) dos nossos povos originários, que, muitas vezes, são esquecidos, para entender um pouco da nossa identidade, história, memória, além de trazer a ideia de pertencimento social”, destaca Cristiana.
Atualmente, o projeto do livro ilustrado está na fase de encontrar ilustrador e diagramador, mas continua realizando ações educativas com crianças, pessoas com deficiência e com a população de municípios mais distantes do estado para apresentar o Museu, permitir que esse público tenha contato com as descobertas realizadas no Rio Grande do Norte e compreendam mais sobre o local em que nasceu por meio da linguagem simples e atrativa.
Fonte: Agecom/UFRN