Os dois mapas que vou apresentar revelam dados sobre os ataques terroristas atuais na capital potiguar e a mancha de homicídios na cidade. O primeiro foi feito pelo Prof. Carlisson, Geografia da UFRN. O segundo foi elaborado pelo mestre em Demografia pela UFRN, Pedro Freitas.
Sobrepor as duas cartas evidencia que os atuais ataques terroristas no RN tiveram como alvo prioritário as regiões mais pobres da cidade, as periferias. Isso expõe a predisposição dos terroristas para atacar trabalhadores autônomos, seguranças, transeuntes, pequenos empresários e comerciantes. Cotejar os dois mapas revela o que todos os trabalhadores pobres do país já sabem: que as facções criminosas promovem narcoterror nas regiões periféricas das cidades, onde muitos moram.
Por isso, não há amizade e identificação entre trabalhadores e bandidos ali, mas uma guerra silenciosa. Facções assassinam, oprimem, aterrorizam, expropriam, roubam, estupram, degolam, assaltam pessoas pobres e trabalhadores(as) nas ruas, calçadas, nos carros, ônibus e paradas de ônibus. O salve não modificou muito a realidade da periferia de Natal, só criou o medo de uma periferização da capital inteira!
Diferente do que alguns sociólogos, antropólogos e grupos de pesquisa da UFRN têm apontado, não é “a sociedade” que tem sofrido igualmente com os salves, mas, principalmente, as periferias.
Muitos intelectuais, pesquisadores e militantes dos direitos dos apenados e Direitos Humanos têm insistido na estória de que os ataques terroristas estão sendo causados, sobretudo ou com forte relação, pelas condições de vida dos presos nas cadeias. No jargão policial, essa é uma “estória cobertura”, um disfarce. Eles insistem nesse disfarce mais do que as próprias facções. Mas não se vê nenhum conteúdo reivindicatório nos ataques terroristas atuais. Só ataques aos trabalhadores. Esses ataques não demandam condições mais humanas nas cadeias, ao contrário, tem servido para promover e manter o narcoterror e o domínio geopolítico e econômico das facções no Estado. Mantidas inalteradas todas as coisas, este será o primeiro de uma leva desse tipo.
Longe de servir para garantir direitos e regalias para os apenados, esses terrorismos servirão para que essas organizações criminosas imponham arregos (impostos) sobre os pequenos empresários desses bairros e cidades. Por isso mesmo estão todos sendo vítimas potenciais. Eles passarão a cobrar uma mensalidade para que não assaltem, incendeiem ou mandem fechar esses pequenos comércios, garagens e mercados. Como fazem facções e milícias em outros Estados.
O policial mais recruta sabe que esses ataques estão, na verdade, ocorrendo devido às mortes de dois bandidos, em confrontos que ocorreram nas Rocas, e pelo consequente aumento da atividade policial, ali onde criminosos quiseram incitar uma passeata com fantasia de apelo civil por “paz” e atacaram uma companhia da Polícia Militar, com explosivos. A paz, para a facção, é um ótimo cenário para seu crescimento econômico e político. Esse salve é uma queda de braço que as facções travaram com o Estado oficial. E olhem o resultado!
Não existirá uma cadeia cinco estrelas que impedirá a empresa anarcocapitalista faccionada de crescer aqui fora, de ampliar seu domínio territorial, sua força, seu poder, sua dominação dos corpos e seu genocídio da população negra e pobre (por volta de 70% dos homicídios na cidade são provocados pelo “tráfico de drogas”, a maioria, homens, negros e pobres). O que o RN inteiro tá engolindo em poucos dias é um grande gole do veneno que as periferias bebem diuturnamente, em quantidade um pouco mais diluída.
Um segundo efeito que esse discurso produz, disparado por alguns intelectuais da UFRN e militantes dos Direitos Humanos, é o de conferir ilegitimidade para qualquer ação bélica que o Estado tome na retomada do seu monopólio legítimo da força, da justiça e do tribunal. É que, alimentando o discurso de que há um “protesto” justo aqui, atacar e enfrentar esses homens com a força coercitiva do Estado – o que é urgente! – passará a ser entendido como o sufocamento das demandas “da população carcerária negra e pobre”. Quando, vemos, a população negra e pobre, na verdade, é a vítima, o Outro da facção criminosa e do crime. Criminosos não representam a população negra e pobre! Ambos não devem ser confundidos pelo arraigado preconceito brasileiro.
Esses não são “protestos” por demandas prisionais, e menos ainda, por qualquer motivo, legítimos, mas ataques terroristas direcionados à classe trabalhadora para que ela reconheça seu lugar subalterno frente a essas organizações anarcocapitalistas, que monopolizam tribunais privados, “segurança” privada, taxação privada e controle empresarial-militar dos corpos e das vidas da gente pobre do país.
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