As conexões de energia solar distribuída no Rio Grande do Norte cresceram em 2022 mais que a média do Nordeste e do Brasil, segundo dados da Associação Potiguar de Energias Renováveis (APER-RN). De acordo com o levantamento, o crescimento em comparação com 2021 foi de 107,9% no RN, 96,7% no Nordeste e 84,8% no Brasil. Em 2022, segundo dados da APER-RN, o Estado atingiu pela primeira vez a marca de pelo menos uma usina nos 167 municípios do Rio Grande do Norte.
Entre os fatores que explicam o crescimento, segundo interlocutores do setor, estão a disponibilização de linhas de crédito em vários bancos, a disseminação da informação acerca da energia distribuída e a ampliação no número de empresas que fornecem os serviços. “Quando a energia solar começou a ser difundida no Estado, tivemos uma aceitação boa porque não era estranho pensar em fontes de geração de energia renovável. Outro ponto interessante são as características naturais: o nível de radiação no RN, em algumas regiões, chega a ser o melhor do Brasil”, explica Cássio Maia, presidente da APER-RN.
Dados da APER, apontam que o RN fechou 2022 com 37.030 sistemas conectados à rede. A título de comparação, em 2017, esse número era de apenas 301 sistemas. A potência conectada atualmente em KW é de 366.033,34. Ainda de acordo com o boletim anual da entidade, 83% dos sistemas conectados em 2022 são residenciais, 14% industriais e 3% na zona rural do estado.
Sob o sol do desenvolvimento: energia solar transforma economia no RN – YouTube
O sistema instalado pelo agricultor José Carlos Martins, 43 anos, está entre esses 3%, no município de Vera Cruz, a 50km de Natal. Ele fez financiamentos via Banco do Nordeste para instalação de placas solares para utilizar na sua plantação de batatas, feijão verde, coco e macaxeira, espalhadas em vários hectares na zona rural da cidade.
“É algo muito útil aqui para nós. É um custo que conseguimos tirar bem rápido devido a alta energia. Eu pago algo meu. Fiz a energia solar e aconselho a todos para fazerem, principalmente o pequeno produtor. Eu uso a energia para a irrigação das minhas plantações e pagava muito alto o valor, cerca de R$ 6 mil. Isso vai praticamente zerar agora”, explica Martins.
A economia que ele tem chega a 95% em relação ao que gastava anteriormente. Suas placas podem gerar até 6,5 mil kw/mês.
Empresários também têm buscado utilizar a energia solar em seus empreendimentos visando economia na conta de energia e aumento no faturamento. Um deles é José Haroldo dos Santos, 60 anos, proprietário da Gráfica Sul, em Natal. Seu sistema solar foi instalado em Serrinha dos Pintos, sua cidade de origem, que fica no Alto Oeste potiguar, a 383 quilômetros da capital potiguar. De lá, consegue utilizar a energia gerada na sua gráfica, que consome 10 mil kw/mês.
“As empresas hoje que estão preparadas para o mercado e visam o futuro precisam entrar pelo caminho de produzir sua própria energia. Isso traz muitos benefícios. Minha gráfica, com minha usina de porte médio em Serrinha dos Pintos, gera 10 mil kw”, aponta. Com energia, ele estima que gastava em torno de R$ 5,5 mil.
Empregos
Segundo dados e levantamento do Movimento Solar Livre, o setor de energia solar gera pelo menos 11 mil empregos no Rio Grande do Norte. Em todo o País, são mais de 514 mil empregos gerados de forma direta.
“Essa atividade tem um impacto social importante, pois ela é feita basicamente de empresas de pequeno porte, que contratam a mão de obra local. Você não importa empregos, qualifica-se a mão de obra das cidades e a utiliza para fazer as instalações das placas, seja na mercearia, na cantina do bairro, ou na sua casa”, aponta Rodrigo Mello, diretor do Instituto Senai de Energias Renováveis (ISI-ER).
Um levantamento recente realizado pelo MAIS RN, Núcleo de Gestão Estratégica da Federação das Indústrias do estado (FIERN) – a pedido do SENAI, mostrou que o número de empregos com carteira assinada no setor de energias no Rio Grande do Norte, avançou 14,4% em 2022, na comparação com 2021, e, para este ano, a perspectiva é de mais crescimento.
De acordo com os números, o crescimento na atividade ficou acima do registrado na indústria potiguar, de 8,3%, e no conjunto de setores da economia, de 5,52%, no mesmo período. Ao todo, 109.092 empregos são gerados pela indústria. Desse total, 8.887 correspondem a ocupações ligadas ao setor de energia, incluindo energia eólica e solar, entre outros segmentos. O levantamento mostra ainda que a participação do setor de energias no total de empregos do setor industrial passou de 7%, em 2021, para 8,2% no ano seguinte.
Banco do Nordeste amplia linhas de crédito
As linhas de crédito para energias renováveis têm ganhado impulso em vários bancos, incluindo o Banco do Nordeste. Só em 2022 para o Rio Grande do Norte, o BNB fez R$ 786,4 milhões em operações para energias renováveis, seja investimentos em energia solar ou eólica. Em quatro anos, o investimento total foi de R$ 5,9 bilhões.
No caso específico do BNB, somente para pessoa física no RN, os números saltaram de R$ 7,9 milhões em 2020 para R$ 12 milhões em 2022. No caso da pessoa jurídica, o salto foi de R$ 14,8 milhões para R$ 44 milhões.
“Nosso Estado está na vanguarda da energia eólica em virtude dos regimes de vento e também se descobriu vocacionado para a produção fotovoltaica, seja na matriz centralizada injetando energia no sistema, seja na produção própria dos negócios, como postos, indústrias, residências”, aponta o superintendente do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte, Thiago Costa e Silva.
Os projetos de energia renovável na área de atuação do Banco do Nordeste (BNB) já receberam mais de R$ 25 bilhões, nos últimos quatro anos. Os valores correspondem a todas as operações de crédito para matrizes eólicas e solares de todos os portes de clientes. Somente em 2022, o BNB contratou R$ 5,9 bilhões. Os dados são da Área de Políticas de Desenvolvimento Sustentável do Banco.
Segundo o presidente do BNB, José Gomes da Costa, o apoio por meio do crédito é um impulso importante para transformação da matriz energética no Brasil. “Nós atuamos para oferecer estrutura de atração a novos negócios, ao mesmo tempo que contribuímos para o País, principalmente em nossa área de atuação, ter uma geração de energia mais limpa. E fazemos isso olhando todo o sistema. Do pequeno gerador, para consumo próprio com placas solares em casa, até os grandes projetos de usinas solares e eólicas”, afirma.
RN é líder em energia eólica
A vocação do Rio Grande do Norte nas energias renováveis também se destaca para a energia eólica. O Rio Grande do Norte se consolida como o maior gerador de energia eólica do País, com 7,43 gigawatts (GW) de potência fiscalizada (em operação). O volume representa 30,20% da produção eólica na matriz energética do Brasil (24,6 GW) e reforça o protagonismo do RN no setor, à frente de estados como Bahia, Piauí e Ceará.
Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), referentes a este mês de fevereiro. Em igual período do ano passado, o levantamento da Aneel indicava que o RN tinha 6,5 GW de potência fiscalizada. Em janeiro passado, segundo dados da Aneel, o RN foi destaque no número de empreendimentos liberados para operação, com uma expansão de 579,6 MW, dos 1.280,2 MW de todo o País.
Números
Quantidade acumulada de sistemas conectados à rede no RN
2022 37.030
2021 17.814
2020 5.904
2019 2.435
2018 799
Municípios com geração distribuída no RN
2022 100%
2021 98,2%
2020 91,0%
2019 71,3%
2018 41,3%
Potência instalada
acumulada em KWP
2022 366.033,34
2021 195.546,00
2020 86.808,46
2019 36.514,69
2018 11.964,47
Crescimento acumulado
de conexões
RN 107,9%
Nordeste 96,7%
Brasil 84,8%
Dados: Aper/RN e Aneel
Crédito das Fotos: Cedida/APER-RN e TVTN
Fonte: TRIBUNA DO NORTE