Nasce um novo ícone pop! Apesar de ter sido vendido com um filme de terror, M3gan é muito mais que um excelente longa deste género. Ele flutua entre um drama pesado, nos faz rir em diversos momentos sem forçar a barra, trás suspense em uma dosagem ímpar, e além disso, faz uma crítica social certeira, profunda – digna de um episódio de Black Mirror, da Netflix. Toda essa salada de gênero e emoções, entrega algo único, do qual nunca havia experimentado.
M3gan tem um roteiro profundo, e essa profundidade da trama fica evidente já no início, quando presenciamos o acidente que torna Cady (Violet McGraw) uma criança órfã. Em meio ao capítulo mais doloroso de sua vida, Cady está no meio de uma grande mudança de rotina e também de CEP, pois sua tia, Gemma (Allison Williams) acaba assumindo sua guarda. Definitivamente, ter uma filha não estava nos planos da ambiciosa Gemma, programadora que precisa se reinventar para manter seu emprego em uma conceituada empresa de brinquedos tecnológicos.
Como já era de se imaginar, o relacionamento entre uma criança que acabou de perder os pais, com uma tia nerd solteirona viciada em trabalho, não seria algo nada fácil. E é justamente de um desses momentos de incompatibilidade que nasce a ideia de criar um brinquedo que fizesse parte da família, um brinquedo para que as crianças não precisassem de brinquedo.
O drama de Cady é o plano de fundo para toda a trama. Apesar da crítica social pesada, do humor sutil e muito bem colocado, M3gan tem como ponto forte o luto da criança que encontra em seu “brinquedo favorito” forças para seguir em frente.
No início, é tudo perfeito, M3gan é uma babá, amiga, e até um Google em carne e osso – ou melhor, titanium. Mas com o desenrolar da trama o filme mostra com maestria o perigo e as consequências do que acontece quando o humano é substituído pela máquina.
M3gan tem uma única função, proteger Cady e é justamente quando ela começa a fazer isso que o caos começa, e ela quebra a ordem natural das coisas onde a criança que cuida da boneca, e essa inversão de papéis, bem como a substituição da figura humana por uma IA, mostram que a humanidade pode estar marchando rumo a um caminho obscuro e sem a opção de retorno.
Como mencionado acima, M3gan flutua entre diversos gêneros e transmite diversos sentimentos. É possível chorar, sorrir, se impactar e essa salada de emoções acabam por deixar o ritmo do filme um tanto quanto lento, mas esse é o preço para entregar o máximo em cada núcleo, e o filme de fato faz isso.
Quanto a atuações, seria difícil alguém brilhar mais que a estrela, a M3gan, é claro, mas a tia solteirona e perdida de Allison Williams foi algo bem gostoso de assistir. É natural que M3gan traga à memória um personagem que brilhou muito nos filmes de terror dos anos 90, Chucky, mas que fique algo bem claro: ela não é uma versão feminina
do famoso boneco assassino, ela é só a M3gan.
Ela conquistou com apenas uma produção, o que outros personagens fictícios levaram anos, ou sequer chegaram perto de conquistar. M3gan é um excelente filme, com uma mensagem forte e importante e que nos apresenta uma personagem que esperamos ver mais vezes!
Lúcio Amaral é jornalista e advogado pós-graduado em Direito e Processo Trabalhista. Certificado de Estudos Aprofundados em Psicanálise. Ganhador do II Prêmio de Rádio e Jornalismo em Saúde e Segurança do Trabalho, promovido pelo MPT em 2008.