A exatos 7.770 quilômetros de Moçambique, seu país de origem, oito professores da Universidade Eduardo Mondlan (UEM) cursam doutorado no Programa de Pós-Graduação em Turismo (PPGTur) do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UFRN, em uma parceria para promover a internacionalização das Universidades e a qualificação dos profissionais daquele país. Desde o início de outubro, os doutorandos que integram o corpo docente da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Inhambane estão em Natal cumprindo etapas de preparação para qualificação de suas teses até o final do mês.
O convênio entre as universidades existe há doze anos e, durante esse período, foram realizadas atividades de ensino e extensão e iniciada a fase de fortalecimento da área da pesquisa por meio de doutoramento e capacitação docente. Nesse sentido, Daniel Diniz, Reitor da UFRN, destaca: “A Universidade ganha muito com parcerias como essa, pois a internacionalização é importante para a melhoria da qualidade acadêmica. Por sua vez, os doutorandos têm a oportunidade de estudar em um dos melhores programas de pós-graduação em Turismo do país”.
O professor Fransualdo Azevedo, mediador da parceria desde o seu início, comenta sobre alguns dos principais pontos positivos da relação de cooperação entre as instituições, como a internacionalização do programa de extensão Trilhas Potiguares que, em 2015, realizou uma edição no país estrangeiro, além de palestras e minicursos realizados pelos professores da UFRN.
Nesse contexto, a parceria com o PPGTur foi firmada em 2019 pela oferta de vagas exclusivas para professores da instituição africana, para além das vagas já ofertadas pelo programa. Para a professora Lelianne Barreto, coordenadora do PPGTur, o convênio contribui de forma efetiva para a internacionalização do Programa: “Parcerias como essa realmente fortalecem o programa, dão mais visibilidade, ampliam essa contribuição e o impacto social que o programa desenvolve junto à sociedade, não só nacional, mas também internacionalmente”, registra.
Pesquisas
Entre os doutorandos está o professor Dramane Sumale, que pesquisa o impacto do turismo em comunidades de uma localidade específica de Moçambique e as possíveis relações entre investimentos e benefícios no cotidiano das regiões estudadas. Além disso, ele destaca como o seu principal objetivo, “entender como o turismo contribui para o bem-estar das comunidades que acolhem e recebem essa atividade”.
Já Joana Neves, da área de Comunicação e Marketing, desenvolve uma pesquisa ligada à análise da promoção turística local para compreender como as metas desenvolvidas pelo governo estão inseridas na realidade do país. “A ideia é tentar ver como as políticas estratégicas para promover esse destino são traçadas, tentar perceber de que forma elas influenciam para a captação de turistas e ver como é que isso pode ser melhorado, pegando o exemplo dos que fazem bem”, comenta.
Entre os destaques dos benefícios da parceria entre as Universidade, está a possibilidade de os futuros doutores do PPGTur contribuírem de forma efetiva para o turismo moçambicano. “Esperamos que nossos trabalhos sirvam tanto para as pesquisas quanto para os tomadores de decisão, para que se tenha uma outra visão e possam traçar políticas mais produtivas, levando em consideração os resultados que vamos apresentar”, diz Joana.
Dramane ainda pontua os desafios que serão superados com a ajuda na formação da equipe, “porque vamos observar, por meio de pesquisas, um novo olhar para os recursos culturais locais e tentar trazê-los para a cadeia de turismo”. Ele acrescenta que, com a conclusão dessa turma, a equipe de doutores da escola de turismo da UEM saltará de quatro para doze, uma perspectiva de melhoria na qualidade do ensino e da pesquisa local: “Uma das expectativas é esse impacto muito positivo para nossa Universidade e sobretudo para o turismo, tanto para a nossa escola, quanto para o país, principalmente na área de pesquisas em turismo. Isso porque nosso país ainda carece de ampliar estudos nessa área muito promissora”, avalia.
A professora Leilianne Barreto registra que as principais contribuições dessa parceria são na questão social e em estar, de fato, contribuindo com a formação desses docentes na área de turismo. “Moçambique é um país parceiro que tem várias características similares em questões culturais, inclusive em relação aos destinos turísticos que nós temos aqui na região Nordeste e, muitos desses doutorandos, vão investigar justamente essa comparação”, disse.
Do remoto ao presencial
Os alunos ingressaram no semestre 2020.1 e, antes mesmo do início das aulas, a pandemia da covid-19 impediu o encontro presencial da turma com os professores e alunos do programa. Dramane Sumale registra que foram mais de dois anos de estudos remotos e que, somente agora, com a visita atual, foi possível ter contato físico com a UFRN: “Nós conhecemos nossos professores nas telinhas do ensino remoto e aqui a gente vê a realidade, podemos discutir com mais calor e vivacidade”.
Nesse período de um mês, o corpo docente ligado ao PPGTur concentrou aulas e sessões de orientação para que os alunos pudessem avançar para a qualificação e ter contato presencial com a equipe da UFRN. Além disso, foram organizadas aulas de campo no intuito de que os alunos conhecessem pontos turísticos mais relevantes em Natal e na Região Nordeste, falando sempre do fenômeno do turismo e das transformações associadas a ele. Dentre os destinos estavam: a comunidade indígena Catu e a quilombola Sibaúma; o centro histórico, praias e periferias de João Pessoa (PB); além de bairros e praias de Recife (PE) e o centro histórico de Olinda (PE).
As atividades, durante toda a permanência dos alunos no curso, foram organizadas no sentido de não atrapalhar o andamento dos trabalhos na UEM. Assim, a Universidade organizou um calendário diferenciado para não impedir o andamento dos estudos dos doutorandos – todos os módulos teóricos já foram cursados pelos alunos de forma remota. Por isso, o pró-reitor de pós-graduação da UFRN, Rubens Maribondo, destaca a importância do tempo de permanência em Natal: “É desafiador e necessário, já que faz parte dos passos acadêmicos essenciais para formar doutores, que possam atuar em qualquer lugar”.
Fonte: Agecom/UFRN