Você já pensou na textura das coisas ou prestou atenção no cheiro e no som ao seu redor? Cada objeto ou acontecimento carrega em si um experimento sensório distinto, mesmo as coisas consideradas mais simples. Essa é uma das propostas do Jardim Sensorial, projeto de extensão da UFRN que permite aos visitantes perceberem o mundo a partir da utilização de todos os sentidos. Para os que não têm uma deficiência, a ação é benéfica como ferramenta educacional divertida que permite explorar e aprender sobre percepção e sensação na interface com a natureza. Para pessoas com autismo e outros distúrbios de processamento sensorial essa experiência é um lugar seguro e confortável que os ajuda a acalmar e estimular suavemente os sentidos.
Localizado no Parque das Ciências, no Museu Câmara Cascudo (MCC/UFRN), em Natal, o Jardim foi criado para ensinar, socializar, curar e fornecer terapia hortícola, bem como estimular física e mentalmente pessoas doentes. A acessibilidade e inclusão social permite que as pessoas com certas limitações tenham seus outros sentidos explorados, além de ser um ambiente que ensina sobre sustentabilidade. Com o propósito de garantir uma boa experiência na visita, os organizadores planejaram e estudaram as melhores opções, como as plantas e recursos que atingirão o propósito desejado.
De acordo com o trabalho Jardim Sensorial da UFRN: espaço de inclusão e sustentabilidade, publicado na Revista Projetar, para a criação do parque foi preciso avaliar o ambiente, as práticas que ocorreriam, a escolha de materiais, o acesso e as árvores. Cada detalhe do local foi pensado com o intuito de estimular sensações nos visitantes, além de proporcionar conhecimentos sobre o meio ambiente, aliando a educação à diversão. Por esse motivo, o Jardim Sensorial está incluído nas metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), lançados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O projeto foi desenvolvido de maneira interdisciplinar, envolvendo uma equipe de professores e alunos de Arquitetura, Design, Biologia, Química e Física. A professora responsável pela criação é Magnólia Araújo, do Departamento de Microbiologia e Parasitologia, do Centro de Ciências Biológicas (CB/UFRN). Para os visitantes que queiram ampliar seus sentidos, a visita também pode ser feita de olhos vendados. Dessa forma, são encorajadas a tocar, cheirar, saborear e interagir com o ambiente ao seu redor trazendo à tona o sentido de respeito e responsabilidade pela natureza.
Magnólia afirma que foi muito importante acompanhar, em 30 dias, a execução do Jardim. “Durante a pandemia da covid-19 nos revezamos para mantê-lo firme, forte e bonito. Foi muito gratificante acompanhar o processo de desenvolvimento e até o nascimento do Jardim, além disso, o Jardim também é muito importante para as crianças, pois elas precisam ter acesso à natureza e a áreas verdes. Crianças precisam desse estímulo para aprender e esse local é valioso para ensinar durante a infância”, pontuou a docente.
Segundo a professora, a ideia do projeto surgiu em 2015, durante a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (Cientec). “Queríamos ensinar sobre os sentidos e uma maneira de fazer isso é por meio de um jardim sensorial. Não temos muitos aqui no Brasil, mas eles, em outros lugares, são muito difundidos”, afirma. O projeto foi submetido em 2019 e aprovado pela ONU Habitat, programa das Nações Unidas (ONU) para os Assentamentos Humanos. O ambiente se encaixa no Objetivo 11 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que visa tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
Ir a um parque, uma praça e outros lugares onde é possível desfrutar a natureza, escutar os sons dos pássaros que ali vivem é uma das programações que algumas pessoas têm em sua rotina para relaxar. De acordo com Magnólia, áreas verdes e plantas têm uma função calmante. “A simples contemplação de jardins, estar em ambientes que são verdes dão essa sensação de calma. Ele é recomendado, inclusive, para tratamento em pessoas que têm outros problemas”, comenta.
Para os cegos, continua a professora, o jardim tem um sentido de inclusão. “Queremos proporcionar o direito de estar em contato com as plantas, tocando-as e reconhecendo sua imensa diversidade. Fazer um jardim com sensibilidade para pessoas com deficiência e não deficientes e proporcionar informações em braile têm o sentido de inclusão”, explica, acrescentando que os jardins também são importantes para a sustentabilidade do planeta. “Nós promovemos ciência nos jardins, então é possível ensinar sobre as plantas, suas funções, o solo, ar e o ambiente. Buscamos informar como elas crescem e a partir de que. Essas informações podem ser exploradas no jardim”, completa.
Fonte: Agecom/UFRN