Cada macaco tem o que merece, é o que penso logo que escuto alguém dizer: Hoje estamos vivendo melhor! Ainda que a inflação esteja nas alturas, que a comida suma do prato, que haja quantidades absurdas de mortos, nossas florestas estejam ardendo em chamas, tempestades de areia cubram as cidades, secas, você vai ouvir do otimista: Outros países também estão passando pela mesma coisa. De fato. Mas ainda não tinha visto outro país passar por tudo ao mesmo tempo agora, e muito menos seus governantes afirmarem em vídeo que imunizantes causam HIV. Diferentemente dos otimistas, acredito que tudo vai mal, e só vai piorar. A primeira coisa que faço depois de acordar é ler os jornais do dia, então dou de cara com algum pronunciamento do ministro da economia em que ele diz, por exemplo, que o mercado não reflete os números do país, daí procuro logo meus antidepressivos. Não tenho a soberba dos otimistas de afirmar, como eles, que Deus os fez à Sua imagem e semelhança, quando o mais sensato seria assumir de vez sua porção chimpanzé. Pois só um chimpanzé, e não algo semelhante a um deus, pode ser adestrado. Só um animal que reproduz algo sem raciocinar poderia acreditar que a Terra fosse plana, mesmo a despeito da sombra esférica da Terra sobre a lua, a despeito de como um navio que cruza o horizonte desaparece e depois aparece novamente, da viagem de Fernão de Magalhães há mais de quinhentos anos, das proposições científica dos gregos Aristóteles e Eratóstenes antes de Cristo. O chimpanzé que se acha semelhante a um deus é o mesmo que acredita que um pastor defunto vai se levantar do caixão. Então, o que pode ser a simples ideia de um imunizante que causa HIV? Na lógica da república das bananas, o vencido se crê vencedor. Veste com orgulho as cores de sua bandeira – não à toa, amarela–enquanto os grilhões os apertam. Crê no grito do Ipiranga, na queda da monarquia, na república velha-nova dos generais, enquanto o mundo ri do circo. Sim, cada macaco tem o que merece. Nós, as bananas!
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