Sonhar em construir uma família, engravidar, ter filhos, fazer planos. E, por algum motivo, ver esse sonho desmoronar, vivenciar o luto a partir da perda do bebê. Muitas são as famílias que passam por essa experiência de dor e, na maioria das vezes, falta a sensibilidade em lidar com a questão da perda gestacional. Em razão disso, foi criado o Dia Internacional de Sensibilização da Perda Gestacional e Neonatal, lembrado em 15 de outubro.
Estima-se que a prevalência da perda gestacional varia entre 15 e 20% das gestações. Segundo estimativas internacionais, o Brasil se encontra em uma faixa intermediária de taxa de mortalidade fetal, de 5 a 15 a cada 1 mil nascimentos.
Frente a esta realidade e considerando a presença da morte no contexto da assistência materno-infantil, a Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vinculada à rede Ebserh, dispõe de uma equipe multidisciplinar que atua diretamente na atenção integral à mulher diante da perda gestacional e neonatal.
“A perda de um bebê durante a gestação ou logo após o seu nascimento geralmente representa um fato marcante na vida de um casal, podendo ser constituído por momentos traumatizantes, lembrados em uma próxima gestação”, comenta Gildeci Pinheiro, assistente social da MEJC.
O Grupo de Perda Gestacional, criado em outubro de 2016 e constituído por profissionais de saúde e discentes de graduação e pós-graduação interessados na temática, promove encontros periódicos com a participação de mulheres atendidas pela Maternidade e seus familiares, promovendo o cuidado integral à mulher, com vistas à adaptação à nova realidade.
Laisa Sabino, mãe do Davi, que partiu com nove dias de nascido, é uma das mães que fazem parte do grupo. Para ela, o pequeno será sempre o seu primeiro filho e continuará fazendo parte da família. “Davi viveu pouco tempo entre nós, mas nos deixou um amor infinito e uma saudade eterna, nunca deixará de ser lembrado e amado, pois filho é único e insubstituível”, relata a mãe.
Voz à dor
O Grupo de Perda Gestacional da MEJC, tendo como base as experiências das pacientes que vivenciaram a perda gestacional, criou o projeto Com Amor, com objetivo de acolher o sofrimento das mães e suas famílias e funcionar como suporte, validando os sentimentos e incentivando o enfrentamento da vivência do luto.
“A escuta compassiva e o apoio no processo de luto são divisores de águas que permitem que essas pessoas vivam dia após dia sabendo que existe com quem contar e que a dor delas não é menor ou menos importante”, afirma Caroline Lemos, psicóloga da MEJC.
Nesse momento, vale ressaltar a importância do acolhimento emocional. Mostrar aos casais que emoções como tristeza, frustração e choque precisam ser vivenciadas e até são esperadas diante da perda. As ações do projeto têm ajudado cada vez mais os familiares a superarem a fase e ressignificarem a dor.
É o caso de Jolly Tavares, que já era mãe de um filho de 7 anos, resolveu engravidar e, logo após o nascimento prematuro de Oliver, em agosto de 2019, com 30 semanas de gestação, o bebê não resistiu e veio a óbito. Hoje ela está grávida novamente e aguarda ansiosa pelo nascimento do novo integrante da família. “Apesar do sentimento de colo vazio, com a perda do meu segundo filho, meu coração é cheio de amor e ainda tenho muito amor para dar”, relata.
Imagem: Reprodução
Fonte: Agecom/UFRN