Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que permite auxiliar profissionais clínicos e gestores em saúde na tomada de decisão sobre implementação de dispositivos assistivos em pacientes com diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico (AVE) e que otimiza a estimulação elétrica neuromuscular (EENM) direcionada à movimentação do pé, foi o grande vencedor do Prêmio CAPES de Tese – Dimensions Sciences 2021, destinado a cientistas mulheres que trabalhem com temas voltados para inovação e empreendedorismo na área de biotecnologia. Além dela, outros cinco pesquisadores foram premiados e receberam menção honrosa do Prêmio Capes de Teses.
A tese apresentada pela pesquisadora Luciana de Andrade Mendes, professora do Departamento de Engenharia Biomédica (DEB) do Centro de Tecnologia (CT/UFRN), e orientada pelo professor Guilherme Augusto de Freitas Fregonezi, do programa de pós-graduação em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO), permitiu ainda nortear o delineamento de novas pesquisas na área de desenvolvimento tecnológico e inovação associado à temática de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS).
O estudo de Luciana foi voltado para dois eixos de pesquisa. O primeiro esteve direcionado à ATS por meio da realização de um estudo de revisão sistemática que investigou os efeitos de dispositivos de neuropróteses motoras para facilitar atividades e participação em pessoas após acometimento de AVE. O segundo, foi direcionado para uma exploração de conceitos anatômicos e neurofisiológicos que permitiram o desenvolvimento de nova interface entre o sistema de estimulação elétrica e a perna, em EENM clínica, direcionada à promoção de dorsiflexão do pé – movimento da articulação do tornozelo.
No primeiro eixo, os pesquisadores observaram que a utilização no dia a dia de dispositivo assistivo por pacientes de AVE, seja ele uma neuroprótese motora ou uma órtese mecânica, promove melhora na realização de atividades que envolvem os membros inferiores como na velocidade da caminhada, no equilíbrio, na qualidade de vida e na capacidade de exercício, sem aumento no número de quedas. O que reforça a importância de uso de dispositivo assistivo nesses pacientes. Ela observou ainda haver maior desistência de uso de dispositivo quando se trata de uma neuroprótese motora.
O segundo eixo de pesquisa resultou, a partir das explorações e testes, na estruturação de protótipo de uma nova configuração de eletrodos e vestimenta que considera aspectos anatômicos e neurofisiológicos da ativação da dorsiflexão do pé. O modelo se mostrou compatível com maior produção de força, maior resistência à fadiga e menor desconforto.
Segundo a pesquisadora, nenhuma revisão havia considerado o uso diário de neuropróteses motoras por pacientes com AVE executando suas tarefas em ambiente de casa ou comunidade, nem incluído a diversidade de tipos destes dispositivos, portanto a realização deste estudo de revisão sistemática permitiu combinar o resultado de ensaios clínicos controlados, aleatórios e independentes, por meio de método estatístico específico e incluindo a avaliação da qualidade dos estudos e da certeza da evidência. Isso possibilitou determinar o nível de evidência e aferição de estimativa de efeito de toda a categoria de neuropróteses motoras utilizadas no ambiente natural em que as pessoas vivem na melhora de atividades e participação após o AVE.
Em relação ao desenvolvimento tecnológico, os testes realizados comprovaram que a utilização deste sistema de eletrodos, alinhado às especificidades anatômicas das estruturas nervosas associadas ao movimento de dorsiflexão do pé, permitiu uma melhor resposta à aplicação do estímulo elétrico artificial e, a partir desses resultados, foi estruturado e testado um sistema de eletrodos e vestimenta. Considerando o amplo espectro de desenvolvimento de produto até que este se torne um produto disponível ao público, faz-se necessário ainda a condução de etapas clínicas adicionais e de regulamentação.
“Alinhado à política de incentivo à inovação da UFRN, solicitamos o pedido de patente de invenção no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) desta patente institucional, made in UFRN. Outros produtos também advindos da tese foram dois artigos publicados em periódico com elevado fator de impacto de 9.266 e um editorial em periódico com fator de impacto de 7.914, segundo o Journal Citation Report (JCR) 2020”, acrescentou.
A tese de Luciana foi desenvolvida no Laboratório de Inovação Tecnológica em Reabilitação do Departamento de Fisioterapia (DFST), coordenado pela professora Vanessa Resqueti, e no Laboratório de Neuroengenharia do DEB, coordenado pelo professor George Nascimento. Teve ainda a participação dos professores Túlio Souza do DFST e Íllia Lima, da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (Facisa/UFRN).
A importância do prêmio
O Prêmio CAPES de Tese – Dimensions Sciences é fruto de uma parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a organização americana Dimensions Sciences (DS), cujo objetivo é selecionar pesquisadoras da área de biotecnologia que trabalhem com temas voltados à inovação e empreendedorismo. A Dimensions Sciences é uma organização americana sem fins lucrativos com sede em Washington (EUA), fundada pela cientista brasileira e ex-bolsista da CAPES, Márcia Vasconcellos Fournier.
A tese de Luciana Mendes chegou ao prêmio após passar nas seletivas da Rede RENORBIO e na seletiva nacional da CAPES. Ela considera a iniciativa da DS muito importante, pois, além de honrar as diferentes trajetórias de mulheres brasileiras na ciência, dá visibilidade à qualidade de seus trabalhos científicos e pode inspirar outras mulheres a continuar lutando por seus ideais. “Sinto-me muito honrada em ter sido escolhida pela qualidade da produção científica desenvolvida”, comenta.
Filha única, natural de Caruaru, Pernambuco, Luciana diz que enfrentou muitas dificuldades de ordem pessoal e familiar desde quando decidiu morar na capital para fazer sua graduação e depois pós-graduação. “O meu principal desafio foi pessoal foi de não desistir frente a tantas adversidades com as quais me deparei no início de minha carreira acadêmica”, conta.
Sua história com a UFRN começa em 2007, quando fez mestrado em Fisioterapia. Depois, foi professora substituta na graduação daquele departamento e, desde 2010, é professora do DEB, atuando em duas linhas de pesquisa: Avaliação de tecnologia em saúde por meio da realização de estudos de revisões sistemáticas; e Desenvolvimento e validação de dispositivos assistivos para pessoas com deficiência e incapacidade funcional.
“Sou muito feliz em fazer parte da UFRN, uma instituição cujos pilares são voltados para a inovação, inclusão e ações socialmente referenciadas. Agradeço inclusive a todo o apoio que recebi da instituição para o desenvolvimento desta pesquisa, incluindo o incentivo à qualificação que recebi em um período do doutorado, apoiado pelos colegas do Departamento de Engenharia Biomédica e do Centro de Tecnologia”, completa Luciana Mendes.
Fonte: AGECOM/UFRN