As chuvas que caíram no Rio Grande do Norte durante esta semana, na qual se comemorou o Dia de São José, em 19 de março, trouxe a expectativa de um inverno bom e de boa colheita para o homem do campo, depois de o Estado ter apresentado no mês passado a pior condição de seca, com a expansão da seca moderada por 81% do seu território. É o quarto ano de boas perspectivas, desde que encerrou o ciclo da primeira seca do século. Graças a isso, aos poucos o RN vem se recuperando do prejuízo estimado em R$ 5 bilhões na economia local, provocado pela longa estiagem.
Em maio de 2012, estava sendo decretada situação de emergência em 139 municípios, em virtude da seca que se estenderia com grande intensidade por cinco anos seguidos. A primeira seca do século e a maior em 30 anos, chegou sem avisar, já que as previsões dos institutos de meteorologia apontavam para um inverno “normal”. Ao invés das chuvas, o homem do campo passou a enfrentar céu frequentemente sem nuvens, com o mato cada vez mais seco e a terra rachada. A perda da produção e do rebanho foram inevitáveis e o cenário de miséria se instalou.
O Secretário de Estado da Agricultura e Pesca, Guilherme Saldanha, explicou que parte do semiárido potiguar que não tem reservatórios suficientes foi a área que mais sofreu, compreendendo as regiões do Seridó, Central e parte do Agreste. É lá onde a pecuária está concentrada. “Impactou de forma que o rebanho, que em 2011 contava com 1,2 milhão cabeça de bovinos, em 2017 ficou em 800 mil. A pecuária foi a mais impactada. A seca de sete anos, até 2018, gerou um prejuízo que acreditamos que tenha ficado em torno de R$ 5 bilhões em perda de produção e seus impactos indiretos na economia do setor rural”, disse o secretário.
A cada ano, cerca de dois decretos eram publicados reconhecendo a necessidade de serem direcionadas ações para os municípios afetados. “Durante sete anos seguidos, o Governo Federal reconheceu a necessidade de conceder a garantia safra aos produtores para ajudá-los a passar pelo período de estiagem. Com os decretos, carros-pipa foram acionados para atender as cidades sem água. Alguns municípios ainda sofrem porque continuam em colapso de água e necessitam de recursos e políticas públicas para as pessoas que vivem neles”, explicou Guilherme Saldanha.
Pelo Decreto nº 30.390, do último dia 8 de março, os municípios de Luís Gomes, Paraná, e São Miguel continuam em situação de emergência pela seca. O decreto anterior, de setembro de 2020, havia reduzido de 132 para 18 municípios.
A queda do número de municípios é reflexo da recuperação da produção agrícola e da pecuária, tanto que, em 2019, o Rio Grande do Norte se tornou o maior exportador de frutas do país e maior produtor de camarão. “O rebanho também vem aumentando e até dezembro de 2020 tínhamos próximo de 980 mil cabeças de bovino”, informou o secretário da Agricultura.
Para Guilherme Saldanha, a retomada do crescimento da pecuária traz boas perspectivas, mas ele afirma que é preciso prevenir e se preparar para o caso de enfrentar uma nova estiagem. “Quem se preparar vai conseguir lidar melhor numa próxima seca. Temos que oferecer condições para que produza e armazene mais grão, palma, forragem. Além disso, somos a única região sem seguro agrícola para a pecuária e agricultura. Alguém precisa cobrir os produtores durante a seca e isso seria feito com o seguro. Há necessidade de uma política de crédito do Governo Federal voltada para o semiárido”, sugeriu o secretário.
Setores tentam recuperar prejuízos
O presidente da Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do RN (Faern) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), José Vieira, destacou que, com exceção dos produtores de áreas com agricultura irrigada, todos os outros afetados pela estiagem estão tentando se recuperar dos prejuízos. Ele reforçou que a pecuária foi a mais atingida e que os endividamentos junto às instituições financeiras dificultaram essa recuperação.
“O governo precisa facilitar o acesso ao crédito e resolver a questão do endividamento, apesar de que temos alguns avanços com as renegociações, liquidez e prorrogação dos débitos. No entanto, a burocracia dos bancos ainda é grande”, enfatizou. Ele também pontuou que a assistência técnica da Emater (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural) foi reduzida.
A cadeia leiteira sofreu uma perda de 50% da produção, segundo o presidente do sistema Faern/Senar e o aumento no custo dos insumos agrava ainda mais o quadro. “A produção está mais cara e muitos não estão conseguindo retomar. A recuperação total deve demorar uns cinco anos porque o ciclo de produção de leite é lenta”, frisou.
Para o diretor geral da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn), Fábio Dantas, se a estimativa de chuvas não se confirmar, os municípios que sofreram com a estiagem ficarão em situação preocupante. “Os reservatórios ainda estão com pouca água e se demorar a regularidade das chuvas, os municípios irão sofrer porque, não se recuperaram dos prejuízos da seca e estão tendo que enfrentar os problemas da pandemia da covid-19″, pontuou Fábio Dantas.
Seca moderada avança no RN
Desde fevereiro de 2020 o estágio da seca não havia avançado no Rio Grande do Norte, mas o painel Monitor da Seca, da Agência Nacional das Águas (ANA), identificou que em fevereiro houve expansão da área com seca moderada para o Oeste e Norte do Estado, devido às precipitações abaixo da média no último trimestre.
Em janeiro a seca moderada, que é a segunda no grau de classificação de estiagem (fraca, moderada, grave, extrema, excepcional), estava em 49% e agora aumentou para 81,81% com impactos de curto e longo prazo em parte do Seridó e Borborema, e de curto prazo nas demais áreas. O momento nem se compara ao que foi verificado, por exemplo em janeiro de 2017, quando a seca excepcional cobria mais da metade do estado e o restante estava em seca extrema, porém, se as chuvas ficarem abaixo da média, a tendência é piorar.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte – Emparn, prevê que o período de chuvas ficará dentro da média histórica ou pouco abaixo. As análises apontam, para o período de março a maio de 2021, precipitações de 533,8 mm no Leste; 479,2 mm no Oeste; 376,9mm, na região Central; e 342,2 mm no Agreste.
Segundo o meteorologista da Emparn, Gilmar Bistrot, nos últimos três anos as águas do Atlântico Sul, nos meses de janeiro e fevereiro apresentaram temperaturas acima do normal, provocando nestes meses chuvas também acima do normal. “Então, o sertanejo, o natalense se acostumou com as chuvas em janeiro e fevereiro, mas o esperado é que a Zona de Convergência, que traz chuvas para o Sertão de fevereiro à maio, atue nos meses de março e abril, que são os meses nos quais mais chove aqui no Nordeste”, disse.
Crédito das Fotos: Magnus Nascimento
Fonte: TRIBUNA DO NORTE