As investigações acerca do assassinato do policial militar João Maria Figueiredo da Silva, 37, apontam que ele foi morto por duas pessoas. A vítima foi alvejada por quatro tiros, sendo três na cabeça e um no braço, e é o 26º agente de segurança morto no Rio Grande do Norte este ano. Os criminosos levaram a arma do policial, que não estava fardado, e o celular. Os documentos e a moto em que estava foram deixados.
O policial também era conhecido por ser segurança e amigo pessoal da governadora eleita Fátima Bezerra. Em nota, Fátima cobrou investigações e lamentou o crime. “Queria bem a ele como um filho”, disse.
A Polícia Civil deve solicitar as imagens de um motel próximo ao local do crime para saber na tentativa de encontrar indícios para ajudar a elucidação do crime. Policiais que falaram com a reportagem acreditam que essas imagens não flagram o momento do crime por ficarem em uma direção contrária ao local onde foi morto. Por enquanto, não há pista dos autores.
Relatos afirmam que Figueiredo estava saindo de uma residência próxima ao local do crime e estava indo caminhar com um amigo. Ele comumente pegava a estrada de barro onde foi morto por considerar um atalho, encurtando o caminho entre a casa de São Gonçalo do Amarante e a BR-101 Norte, de acesso ao Aeroporto Internacional Aluízio Alves.
O último contato com o policial foi às 15h desta sexta. O crime aconteceu cerca de duas horas depois. A polícia encontrou o corpo depois de ter recebido um chamado e reconheceu o soldado.
Figueiredo foi velado e sepultado neste sábado, 22, em Natal. Familiares e amigos se despediram do policial e exaltaram a participação ativa que tinha dentro da corporação. Formado em direito, a vítima era conhecida por lutar por Direitos Humanos. “Ele foi tudo que quis na vida: policial, advogado, defensor dos direitos humanos”, disse o bombeiro Alberto Aroudo, amigo de infância do policial. “E continua vivo. É um herói”.
Policiais que estavam no velório consideraram uma “ironia do destino” o assassinato porque a vítima sempre alertava sobre os riscos que agentes de segurança sofrem no Rio Grande do Norte. “Ele sempre nos dizia: ‘pessoal, fiquem bem, tomem cuidado e não dêem bobeira”, disse um policial que preferiu não se identificar. “Aí acontece uma coisa dessas, justo com ele. A gente fica com muito pesar”, acrescentou o policial.
Movimento:
João Maria Figueiredo da Silva foi militante dos direitos humanos dentro da Polícia Militar, criador do Movimento Policiais Antifascismo no Rio Grande do Norte e filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Sua atuação na Polícia Militar se pautou sempre pela criticidade. Em 26 de abril de 2016, chegou a ser preso durante 15 dias por criticar a corporação em uma rede social, e reiterou a posição depois da decisão.
“Esse estado policialesco não serve nem ao povo e muito menos aos policiais que também compõe uma parcela significativa de vítimas do atual contrato social brasileiro”, disse á época, criticando a estrutura atual do Estado e chamando atenção para a violência sofrida pelos policiais. “Temos uma Polícia que se assemelha a jagunços, reflexo de uma sociedade hipócrita, imbecil e desonesta!”, concluiu.
Quase cinco meses depois, o Comando da Polícia Militar decretou prisão administrativa por 15 dias no quartel considerando que Figueiredo ofendeu “gravemente” a corporação, usando “palavras não condizentes com a ordem castrense”. O advogado do soldado respondeu à época que essa decisão era ilegal porque não observa princípios constitucionais de liberdade de expressão, era desproporcional e tinha viés político.
Quando a decisão foi publicada, Figueiredo voltou a criticar a corporação. “Quando o código [militar] se sobrepõe à Constituição, ele está no caminho contrário do que prega o verdadeiro militarismo, que preconiza exatamente o respeito às leis do país”, disse.
O policial federal aposentado Sérgio Rodrigues, também criador do Movimento Policiais Antifascimo no estado, também lamentou a morte de Figueiredo. “O nosso movimento visa exatamente combater isso que Figueiredo foi vítima: é lutar contra a barbárie e a favor dos Direitos Humanos”, afirmou o aposentado. “É lamentável o que ocorreu, nós do movimento, enquanto cidadãos e policiais, exigimos que o Estado investigue de forma contundente”.
O policial assassinado participava comumente de mesas-redondas e debates sobre temas como a tortura por agentes do Estado e descriminalização das drogas. Em março deste ano, por exemplo, participou da mesa-redonda na Universidade Federal da Bahia sobre “Violações aos direitos humanos dentro das corporações policiais”.
Fonte: Tribuna do Norte
Imagem: Acervo pessoal/Fátima Bezerra