Todas as tentativas de se criar um perfil de “paciente-padrão” para o coronavírus falharam miseravelmente. O fato é que ninguém sabe o que determina que uma pessoa vá ter a forma grave ou leve da doença, muito menos quem vai morrer ou sobreviver a ela. Grupos de risco? Há casos de idosos centenários, com comorbidades, que venceram a doença; da mesma forma, infelizmente, o mesmo não ocorreu com jovens atléticos que foram vencidos pelo vírus. E aí?!
Paraibano de 106 anos vence a covid-19:
Jovem de 26 anos que corria maratonas morre de covid-19:
Enquanto verdadeiros imbecis discutem teorias da conspiração, culpando a imprensa, a ciência e até profissionais de saúde, o covid-19 segue vitimando. Porém, a verdade é que o não-contágio continua sendo a arma mais eficaz contra o vírus e, principalmente, contra a morte! Sim, pois falando sem meias palavras, quem se coloca desnecessariamente em situação de risco está jogando indubitavelmente uma roleta-russa! Será você o paciente que vai desenvolver a tal “gripezinha”? Ou vai ser a forma grave, que debilita o organismo até a morte? A sorte está lançada e a aposta na mesa é a sua vida.
Outro ponto, muito discutido e que irresponsavelmente minimiza a gravidade da situação, é a ação dos remédios milagrosos da moda. Hidroxicloroquina, Azitromicina, Ivermectina, Remdesivir, Heparina, Dexametasona e tantos outros surgidos, além de nunca terem sua eficácia 100% comprovada em nenhum caso, se utilizados de forma incorreta e/ou na etapa errada da doença, podem simplesmente piorarem (e muito) as coisas. Só que tendo o desespero por conselheiro, muitos são os que chutam o pau da barraca e simplesmente tomam o que lhes dá na telha, seguindo “receituários de WhatsApp” e ainda retransmitindo a ‘fórmula mágica’ a granel. Outro porém é que, mesmo sem qualquer comprovação certeira, os medicamentos trazem uma falsa sensação de segurança, de anteparo médico, que induz a comportamentos permissivos e favoráveis ao aumento da transmissão da doença.
O egocentrismo dos “sabe-tudo”:
A pandemia expôs mazelas, deficiências e desigualdades de um Brasil desde sempre injusto em seus mais amplos aspectos. 75% dos brasileiros dependem unicamente do SUS para tratamentos médicos e não foi surpresa que este sistema burocrático, desguarnecido e alvo primário de corruptos tenha sido o primeiro a colapsar, enquanto infectados pertencentes a política e ao serviço público de alta patente passavam ‘temporadas’ agradáveis de ‘férias’ em hospitais particulares de luxo. Não obstante a isso, muitos foram aqueles que não puderam ficar em casa, tanto por trabalharem em setores tidos como ‘essenciais’, como também por questão de sobrevivência.
O mais incrível porém, foi ver tais constatações serem utilizadas como desculpas para o não-isolamento justamente por aqueles que podem SIM ficar em casa. É sério: aposentados, pensionistas, funcionários em home office (que continuam recebendo integralmente o salário) engrossam a lista daqueles que furam o isolamento social para tomarem uma cervejinha no bar, praticarem cooper, irem as praias, fazerem festinhas clandestinas, entre outras coisinhas mais. A desculpa na ponta da língua? “O frentista do posto não tem a opção de ficar isolado, então porque eu deveria?!” ou então a máxima: “você só está em isolamento porque alguém não está e trás os produtos até você, por isso eu não fico!“, responde resignado um maluco que acha que tem consciência social.
O pior de todos os tipos de acéfalos é aquele que vem munido das mais estapafúrdias teorias (pseudo) científicas para justificarem o mal comportamento. Sem refletir ou se importar com os riscos inerentes a “aposta” que faz não respeitando o isolamento e/ou as regras sanitárias deste, não só se torna propagador dessas crendices (que encara como verdades absolutas), mas também do vírus para outros seres humanos que não escolheram endossar tais teorias. Jogam utilizando não só a própria vida como ficha, mas também a de terceiros. Essa postura é semelhante a alguém que opta por consumir álcool e dirigir, assumindo o risco de acabar com a vida de inocentes que não decidiram “pagar para ver” se realmente um indivíduo “dirige melhor quando bebe”.
Festa de aniversário deixa 18 pessoas infectadas:
Polícia Militar fecha festa clandestina com 100 pessoas em Santa Rita-RN:
O pior exemplo vem de cima:
Independentemente de qualquer postura ou direcionamento político, em matéria de “saúde pública”, Donald Trump e Jair Bolsonaro são dois asnos batizados. Aparentemente, o posicionamento deles para estes e outros assuntos é “ser do contra” qualquer coisa que faça o mínimo de sentido, vejam:
- Usar máscaras: não usam;
- Evitar aglomerações: eles promovem aglomerações;
- Evitar contatos físicos: abraçam, beijam, põem no colo etc;
- Ficar em casa: saem pelos motivos mais desnecessários, como comer um cachorro-quente;
- Crer nos médicos: além de discordarem, adotam qualquer teoria de whatsapp;
- Crer na ciência: cientistas são postos de lado em nome da opinião de figuras como Olavo de Carvalho.
Bolsonaro e o embaixador norte-americano (ambos sem máscaras…) comemorando o 04 de julho, tudo na contramão do bom senso:
Também sem máscara e causando aglomerações, Donald Trump discursa na mesma data nos EUA:
O dinheiro fala (e manda):
Só quem não se deu o trabalho de aprofundar-se nas questões envolvidas é que não percebeu o que está sendo colocado nos pratos da balança durante esta pandemia. Um dos exemplos mais claros pode ser encontrado aqui mesmo em nosso estado, com a recente abertura do comércio. Somando hoje 33.910 pessoas oficialmente infectadas, 45.614 casos suspeitos, 1.200 mortes confirmadas e 171 sendo investigadas, o RN não fez NADA que o fizesse merecer a benesse de reabrir as portas do comércio, muito pelo contrário.
Aos números supracitados somem-se uma taxa de isolamento que raríssimas vezes ultrapassou os 40% e o fato de as duas principais cidades do estado (Natal e Mossoró) não terem recorrido ao lockdown, mesmo diante da recomendação tácita dos cientistas componentes do Comitê Científico do Consórcio Nordeste. Como se não bastasse, a mais de um mês a capital potiguar registra uma ocupação de 100% dos leitos de UTIs da rede pública e da mesma situação calamitosa padecem outras regiões do estado: Guamaré (100%), Oeste (100%), Grande Natal (97,7%), Pau dos Ferros (88%) e Seridó (72%). Diante de tantos números cabais, como achar lógica ou sentido na reabertura do comércio no estado? Pois é, não existe. É o que é e pronto, assim nos enfiaram goela abaixo.
Desde o início da pandemia se estabeleceu uma batalha velada sobre qual foco deveria ser levado em conta na hora de decidir as ações futuras. Por um lado tínhamos o viés humanitário, priorizando a segurança e a vida das pessoas acima de tudo, obrigando o Estado a de fato direcionar seus recursos para a proteção dos cidadãos (e não apenas para alimentar a si: um ‘elefante branco’ burocrático recheado de ‘parasitas sangue-sugas’); do outro temos a ‘lente’ dos interesses econômicos e suas demandas que só englobam o fator humano quando isto lhes convém. Ora, mas tão logo a pandemia foi recrudescendo, a resposta sobre o tipo de foco a ser dado ficou cada vez mais óbvia, no que era preciso travestir os ‘interesses financeiros’ com um manto social, escondendo-lhe a face monstruosa e fria que de fato tem. E neste ponto o trabalho foi bem feito, sem preconceitos ideológicos e fazendo uso tanto de personagens da direita quanto da esquerda brasileira.
Logo começaram a mostrar inúmeras empresas fechando e a agonia das famílias sem uma fonte de renda, como se tudo fosse uma só questão — o que não é verdade. Sim, é uma lástima para a economia de qualquer país o fechamento de empresas, mas o fato é que estas podem ser reabertas, ou serem substituídas por outras, mas o que dizer dos seres humanos mortos pela doença? Na visão financeira, estes trabalhadores podem ser substituídos como “peças” e as atividades continuarão; mas para as famílias que ficam… cada vida é insubstituível e uma perda irreparável. Vou falar uma obviedade ridícula, mas necessária: desempregados vivos podem se reinventar, criar novos caminhos, lutar pelo pão da sua família; empregados que morrem… não.
Ora, não vou aqui demonizar o lucro ou a busca honesta por ele, mas conte comigo para escorraça-lo a pontapés quando tais iniciativas suplantarem o valor da vida humana. Vale a pena então reabrir as portas e expor pessoas a um risco de morte simplesmente para que a roda da economia gire novamente? Os postos de trabalhos serão protegidos, mas os trabalhadores não! Infelizmente, essa lógica insana foi “engolida” e aceita em nosso estado, sob a pressão da FIERN, CDLs e afins. Não foram os pequenos comerciantes do Alecrim que bateram as portas de nossa Governadora e nem nas dos gestores municipais, mas sim aqueles que entram sem agendar, que têm passe-livre nas chamadas “casas do povo” e lá negociam seus interesses. E num estado depauperado, devedor de salários, mal gerido por décadas a fio e sangrando por todos os lados, fica difícil não atrair tubarões.
No âmbito nacional, os mesmos empresários, industriais e ruralistas que ajudaram a eleger Jair Bolsonaro, voltaram agora como credores. O afã de nosso Presidente por “abrir tudo” sem qualquer critério chega a ser engraçado (#SQN), pois o desespero torna evidente a pressão pela qual está subjugado no exato momento da história e quem são os promotores desta. Luciano Hang (vulgo “Zé Carioca”, segundo Olavo de Carvalho, ou ainda simplesmente “Véio da Havan”, para os íntimos), Flávio Rocha (Riachuelo), Sebastião Bomfim (Centauro), Edgard Corona (SmartFit) e Washington Cinel (Gocil) são apenas alguns com “um pires na mão” e uma dívida nunca lembrada pela Receita Federal brasileira.
Faça por você mesmo: eles não irão te salvar!
A cura da pandemia não será feita por decreto e não é de hoje que o brasileiro sabe que o poder público está pouco se lixando para ele. Não há e nem surgirá nenhum “salvador” político, muito menos qualquer outro advindo do topo da pirâmide brasileira. Cabe a cada um de nós se informar, erigirmos conhecimentos sólidos que não sejam mera “agenda alheia” ou panfletagem ideológica (seja de que lado for), para que possamos realmente cuidar de nós e dos nossos.
Está claro que neste jogo somos meras peças disposta num tabuleiro e movimentadas por quem de fato tem o poder para tanto, mas não precisa ser assim. Que se danem os fanáticos partidaristas, os arautos do fim-do-mundo financeiro, os heróis de ocasião e os tiozões sabe-tudo do whatsapp: sejamos nós a causa pela qual lutemos, pois ninguém mais o fará se desistirmos, nos entregarmos ou formos “catequizados” por motivações esdrúxulas que, no fim, só beneficiam interesses outros.