O mundo já não é mais o mesmo e os comportamentos mudaram desde que o novo coronavírus se espalhou por todos os continentes e vitimou mais de 400 mil pessoas ao redor do planeta até a semana passada. No Rio Grande do Norte, para medir a dimensão das modificações nos hábitos de consumo impostas pelo “novo normal”, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio RN) realizou uma pesquisa que aponta redução na intenção de compras e o aumento no endividamento entre as famílias que ganham até três salários mínimos.
Cerca de 79% dos potiguares que responderam ao questionário informaram que deverão sair da pandemia com um nível de dívidas acumulado igual ou superior ao pré-isolamento social. Os dados foram obtidos com exclusividade pela TRIBUNA DO NORTE.
Na pesquisa, a Fecomércio RN através do Departamento de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DEES) aponta que procurou “entender as expectativas dos norte-rio-grandenses quanto ao tempo que o isolamento vai durar, os hábitos de consumo ao final das medidas de restrições, e como as pessoas estão imaginando se comportar após a pandemia do novo coronavírus”. Os pesquisadores ouviram, por telefone, mil pessoas entre 8 e 14 de maio. O erro amostra máximo atingido é de 3% com intervalo de confiança de 95%.
Para a maioria dos entrevistados, 53,4%, o isolamento social deverá terminar até o mês de julho. Para 26,6%, os decretos que impõem as regras de distanciamento social deverão vigorar até o mês de agosto e/ou setembro, período no qual a pior fase da pandemia deverá ter findado. Aproximadamente 10% acreditam que o período de restrição de circulação de pessoas e fechamento de empreendimentos não essenciais perdurará até os meses de outubro e/ou novembro.
A pesquisa aponta que os setores que permaneceram a maior parte do período do isolamento fechados, como barbearias e salões de beleza, serão os mais procurados ao final da pandemia. Em até 40 dias após o término do isolamento social, 55,5% dos consumidores deverão procurar salões de beleza e/ou barbearias no Estado. A compra e venda de imóveis deverá ser requisitada por 52,1%. A visita a uma concessionária de veículos por 51,4%; as lojas de eletrônicos e eletrodomésticos por 50,8%; as lojas de rua e shoppings centers por 45,7%; as academias de ginástica por 39,2% e os cultos religiosos por 37,8%. Esse ponto do estudo mostra que a retomada do consumo se dará por bens/produtos com baixo valor agregado.
Há, porém, quem aproveitou as promoções da quarentena para adquirir bens mais caros que já estavam programados há um tempo. É o caso de Felipe Jesus, que atua como gerente numa empresa multinacional. “No primeiro mês não comprei devido à diminuição do salário, mercado muito incerto. Lojas fechadas, diminuindo acesso às vitrines. Mas logo veio o desejo de consumir algo. Na pandemia, comprei televisão, tênis, celular, perfume, cortina, louças e roupas. Mas tudo isso com descontos obtidos em lives de artistas e em sites nos quais eu já era cadastrado. Na plataforma virtual eu aproveitei muitas promoções”, relata.
Atividades de lazer
O ano de 2020 será referencial histórico em decorrência da maior crise sanitária do Século XXI. Desde março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a Covid-19 como uma pandemia, as medidas de isolamento social para frear o avanço da infecção pelo mundo fez teatros, espaços de lazer, praças, espaços públicos e festivais musicais diversos serem fechados e cancelados, respectivamente.
No Rio Grande do Norte, conforme a pesquisa Expectativa dos Consumidores Pós-Pandemia Do Covid-19, da Fecomércio/RN, “as atividades como cinemas/teatros museus (47,2%), feiras de negócios/congressos (44,7%) e shows musicais etc. (41,9%) serão os setores que os consumidores irão demorar um pouco mais para frequentar, na sua maior parte, a médio prazo, entre 41 e 150 dias após o fim da pandemia. Outras atividades da economia começarão a ter uma retomada a longo prazo (acima de 150 dias), após o fim das medidas restritivas, é o caso dos segmentos ligadas ao turismo que engloba, principalmente, a hoteleira, agências de viagens e transportes, entretenimento e atrativos dos mais variados (37,2%)”.
Endividamento tende a aumentar entre mais pobres
Outro resultado apurado pela pesquisa foi sobre nível de endividamento dos potiguares. A redução parcial ou total da renda ocasionada pela pandemia do novo coronavírus vai refletir nas contas das famílias e deve causar desequilíbrio após o fim da pandemia.
Cerca de 79% dos entrevistados revelaram que ao final do isolamento social o nível de endividamento será maior ou igual ao adquirido durante a pandemia, somente 20,9% afirmaram que após o fim das medidas restritivas as contas terão reduzido.
Os casos de aumento do nível de endividamento envolvem todas as classes sociais, mas os mais pobres serão os mais afetados. Entre os que possuem rendimentos familiares mensal de até três salários, 81,9% responderam que as dívidas irão aumentar ou manter o mesmo nível da pandemia. Já no universo de renda acima de 10 salários, essa situação foi afirmada por 75,5%.
Além disso, observou-se que ao final da pandemia os mais endividados serão as mulheres (80,4%), população com até nível médio de ensino (85%) e os moradores de Natal e Região Metropolitana (80,7%).
Volume de consumo
O estudo avaliou como os consumidores pretendem se comportar após o fim do isolamento social, em relação ao volume de compras. Para todos os setores testados, a maior parte pretende manter no pós-covid o nível de consumo seguido durante o isolamento, revelando que as pessoas não estão preparadas para retomar o mesmo nível de compras anterior à pandemia do novo coronavírus.
Mas alguns segmentos terão um volume de consumo ampliado após o fim das medidas restritivas, são eles: setores de vestuário e calçados (32,1%), bares e restaurantes (27,7%), cosméticos (25,7%), produtos de limpeza (25,2%), produtos de higiene pessoal (22%) e eletrônicos/eletrodomésticos (19,7%).
Adoção de novos hábitos deve ficar
Outra questão sobre o futuro após a pandemia investigada pela Fecomércio RN foi a mudança em alguns hábitos das pessoas. O novo coronavírus impôs novas medidas que mudaram a forma das pessoas conviver, se comportar, comprar produtos e muito mais. Desse modo, foram apresentados aos entrevistados 10 hábitos comuns atualmente, e eles foram questionados se acham que eles vão durar ou acabarão junto com a pandemia.
O destaque fica por conta dos hábitos de higiene. Para 91,8% dos respondentes, serão mantidos os cuidados com a higiene após a pandemia. Cerca de 7,9% acham que as pessoas vão deixar de se preocupar tanto quando tudo passar. Além disso, 85,2% dos entrevistados disseram ainda que as pessoas vão continuar com o hábito de comprar de pequenos produtores e produtores locais. Outro hábito que se destacou e, na percepção de 76,2% dos potiguares, deve continuar, é o de fazer compras online/via delivery.
O costume de usar máscaras vai permanecer, pelo menos por um período após a pandemia, para 58,8% dos entrevistados, assim como hábito de curtir lives e shows pelas redes sociais (54%).
Enquanto isso, algumas das práticas adotadas atualmente não devem continuar populares após a pandemia, na visão dos potiguares. Fazer a própria faxina e dispensar a diarista não deve durar, após a pandemia, para 65% dos entrevistados. A maioria dos respondentes da pesquisa (58,1%) também acham que o trabalho remoto não será uma prioridade das empresas, bem como fazer reuniões por vídeo (55,9%). A prática de atividades físicas em casa também não devem continuar sendo um hábito comum após o fim da pandemia, na opinião de 52,7% das pessoas.
Veja o resultado da pesquisa da Fecomércio RN
Quando o potiguar acredita que iá terminar o isolamento social?
25,9% em julho
18,9% em junho
16,6% em agosto
10% em setembro
6,5% em novembro
5,8% a partir de 2021
3,5% em outubro
Hábitos que serão mantidos
91,6% – mais cuidados com a higiene
85,2% – comprar de pequenos produtores/comerciantes locais
76,2% – comprar online/delivery
58,8% – usar máscara na rua
54% – ver lives e shows nas redes sociais
Setores em que aumentarão os gastos do potiguar no pós pandemia
32,1% – roupas/calçados
27,7% – bares e restaurantes
25,7% – cosméticos
25,2% – produtos de limpeza
22% – produtos de higiene pessoal
19,7% – eletrodomésticos/ eletroeletrônicos
15,9% – alimentos no supermercado
Onde o o potiguar irá consumir após o fim do isolamento social?
De imediato
23,6% – salões de beleza
21,1% – eletrodomésticos e eletroeletrônicos
20,5% – lojas de rua e shoppings centers
18,1% – concessionárias de veículos
17,7% – academia de ginástica
17,7% – imobiliárias
15,3% – bares e restaurantes
Em até 40 dias após o fim do isolamento social
23,6% – salões de beleza
21,1% – eletrodomésticos e eletroeletrônicos
20,5% – lojas de rua e shoppings centers
18,1% – concessionárias de veículos
17,7% – academia de ginástica
17,7% – imobiliárias
15,3% – bares e restaurantes
Entre 41 e 150 dias após o fim do isolamento social
47,2% – cinemas e teatros
44,7% – feiras de negócios e congressos
41,9% – shows
39,8% – bares e restaurantes
36,6% – turismo e viagens
Com informações da Fecomércio RN
Crédito das Fotos: Reprodução/TN, Cedida/Arquivo Pessoal e Fernando Frazão/ABR
Fonte: TRIBUNA DO NORTE