Matilda é uma garotinha muito inteligente, porém tem pais que jamais perceberam sua genialidade, sendo considerados do início ao fim da história os piores pais que alguém pode ter. Harry e Zinnia Losna tem dois filhos e são negligentes com a educação de ambos, irresponsáveis sobre cuidados básicos que os pais deveriam ter, como não deixar crianças sozinhas em casa, por exemplo e trapaceiros da pior espécie. Sendo pessoas completamente alienadas pela televisão e mantendo-se o mais distante o possível de qualquer coisa que seja considerada intelectual, nunca imaginariam ter uma filha que gostasse tanto de leitura e como o próprio livro diz: a tratavam como uma casca de ferida.
O livro “Matilda” (1988), de Roald Dahl, se inicia quando a menina Matilda, que é autodidata, leu todas as revistas e livros de culinária que existiam em sua casa, pois o conjunto limitado de conhecimento que aqueles exemplares reuniam fez com que Matilda quisesse buscar outras maneiras de se entreter e ao mesmo tempo, exercitar a mente e aprender coisas novas – o que ela adorava. Sendo assim, a menina dirigiu-se a uma biblioteca pública à procura de livros apropriados para a idade dela – aproximadamente 5 anos – e pouco tempo depois se vê envolvida por romances como Moby Dick.
Acompanhamos Matilda em sua vida como uma desajustada em sua própria família e como uma aluna muito mais avançada que a turma na qual está inserida, sua amizade com os colegas da classe, seu elo com a Srta. Mel – professora da menina – e o medo que todos os alunos da escola nutrem da terrível e assustadora Sra. Taurino, diretora da Escola Primária Crunchem Hall.
Graças ao filme de mesmo nome lançado em 1996, a história de Matilda fez parte da infância da maioria das crianças dos anos 90 em diante, tanto que grande parte delas sequer sabe da existência do livro de Dahl, o que é uma pena. Eu mesma me recordo de assistir ao filme muitas vezes na infância, acredito que ele possua um charme difícil de explicar e mesmo após ler o livro, continuo achando que é um filme excelente, contudo a história não é exatamente a mesma, o que pode ser interessante para os fãs do longa enxergá-lo sob uma nova perspectiva.
Devo admitir que fiquei receosa de ler o livro, acreditando que por já conhecer a história, não seria capaz de me surpreender com ela novamente e me enganei. Além da sensação de nostalgia presente em toda a leitura, pude conhecer Matilda novamente e reimaginar aspectos diferentes para a história que me era tão familiar. A obra trouxe uma visão interessante sobre outros personagens, como a Lavanda, que tem um papel muito mais ativo na trama do que no filme e a Srta. Mel, de quem conseguimos perceber e assimilar questões emocionais e financeiras muito mais do que no filme.
Existem semelhanças e diferenças entre o livro e sua adaptação cinematográfica e afirmo que a leitura do livro não vai estragar a infância de quem cresceu vendo ao filme nem que ver a adaptação danifique de alguma maneira a experiência do livro. Para mim, ambos se complementam de uma forma muito interessante, contando uma mesma história, cada plataforma adicionando seu toque especial.
A escrita de Dahl é agradável e divertida, capaz de fazer o leitor gargalhar logo no primeiro capítulo bem como se encantar com a inteligência e independência da garotinha. Trata-se de uma obra inteligente e bem humorada, que apresenta uma realidade aparentemente normal com um toque de magia. Outra curiosidade a ser notada acerca do livro é que os vilões criados por Roald Dahl são caricatos e protagonizam situações completamente inusitadas, como o caso da Supercola, que tanto no livro quanto no filme é descrito e interpretado de maneira hilária.
Matilda é um dos meus filmes preferidos e também tornou-se um dos meus livros preferidos. E é interessante ressaltar que Roald Dahl é autor de outros livros que se tornaram filmes de sucesso e marcaram infâncias, como “Charlie e a fábrica de chocolate” (1964), que deu origem ao filme “A fantástica fábrica de chocolate”, de 1971 e ao remake do diretor Tim Burton feito em 2005; outra obra de Dahl que inspirou uma adaptação cinematográfica foi “As Bruxas” (1983), que em 1990 tornou-se o filme “Convenção das Bruxas”, protagonizado pela atriz Angelica Huston. Todos os filmes mencionados anteriormente foram feitos são live action.
Outros filmes menos famosos inspirados pelos livros de Dahl foram “James e o Pêssego Gigante” (1961) adaptado pela Walt Disney Pictures também em 1996 enquanto “O Fantástico Senhor Raposo” (1970) foi adaptado em 2009 com direção de Wes Anderson, ambos filmes foram feitos em animação stop-motion.
O que mais posso dizer sobre a leitura de “Matilda” é que gostei muito do estilo de escrita do autor e da forma como ele conversa com os leitores enquanto nos conta uma a história e mesmo tendo assistido à todas as adaptações, estou muito ansiosa para ler cada um dos livros de Roald Dahl.
Lúcio Amaral é jornalista e advogado pós-graduado em Direito e Processo Trabalhista. Certificado de Estudos Aprofundados em Psicanálise. Ganhador do II Prêmio de Rádio e Jornalismo em Saúde e Segurança do Trabalho, promovido pelo MPT em 2008.