O livro Memórias de um Fusca, escrito e publicado originalmente em 1972 pelo jornalista Orígenes Lessa – membro da Academia Brasileira de Letras -, conta a história de um velho fusquinha que após sofrer um acidente, decide escrever uma autobiografia.
Minha história com essa obra começou por acaso, ao encontrá-lo perdido em uma das estantes da biblioteca da faculdade, decidi dar uma chance àquela história, que me parecia simples e confesso estar com as expectativas baixas com relação a ele quando iniciei a leitura. O que posso afirmar com toda certeza é que o Fusca de placa Rio de Janeiro – RJ AC-6049 – me conquistou logo nos primeiros capítulos (bem como a escrita cativante de Orígenes Lessa).
No início do livro, AC-6049 discorre sobre seus tempos de juventude na linha de produção e o quanto afirmava sonhar com um motorista responsável para chamar de dono, mas teve suas expectativas completamente destroçadas ao ser comprado por um grande “barbeiro” mulherengo que atendia pelo nome de Genésio Pimenta, o qual nosso amigo AC-6049 constantemente nos alerta ser um motorista imprudente e definitivamente alguém que não deveria possuir um carro.
Existe um charme na simplicidade dessa história curiosa, que é narrada de forma divertida e inteligente por uma fonte inusitada e original. A maneira com que o fusquinha reflete sobre a natureza humana enquanto os compara com as máquinas é interessante e muito à frente de seu tempo, algo que eu definitivamente não esperava.
Além do jeito agradável que o AC-6049 tem para conversar conosco sobre suas lembranças, a escrita é fluida, acessível e elegante, que constrói um humor incrivelmente perspicaz, especialmente quando AC-6049 descreve suas desventuras enquanto propriedade do flamenguista descuidado Genésio Pimenta. Trata-se de um livro rico, engraçado e incomum, que eu definitivamente recomendo para todos, tanto pela história absurdamente hilária quanto pela total surpresa que ela me causou, em particular para aqueles que adoram um livro bem humorado.
Fonte: O Barquinho Cultural
