O idioma pode ser um dos maiores patrimônios culturais de um país. Para o potiguar Estevam Fortunato, de 26 anos, que é formado em letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e trabalha como professor e tradutor, os idiomas são objeto de trabalho e de diversão.
Ele fala 15 idiomas, nove deles fluentemente e outros seis em nível intermediário. Parte desse aprendizado o professor mostra em um vídeo de nove minutos em uma rede social falando em 10 idiomas diferentes sobre as peculiaridades de cada língua. São cerca de 1,7 milhão de visualizações.
Estevam conta que começou a se interessar por idiomas ainda na adolescência. Aos 12 anos, começou a aprender espanhol, francês e italiano lendo livros de passo a passo do escritor e linguista norte-americano Charles Berlitz.
Entre os nove idiomas que Estevam fala com bastante fluência estão línguas mais conhecidas como o português, espanhol, francês, italiano, grego e inglês. Apenas no aprendizado do último ele contou com ajuda. “Comecei o inglês em um curso de idiomas, onde estudei por dois anos. A partir daí, continuei aprendendo a língua sozinho. Todos os outros aprendi por conta própria”, disse.
Estudioso das línguas românicas, também aprendeu o galego, originário do noroeste da Espanha; catalão, falado em Andorra e regiões da Espanha como Barcelona e Valência e o occitano, usada em áreas da Espanha, França, principado de Mônaco e Itália.
Fortunato disse que se interessou por aprender estes idiomas com menos falantes pelo prestígio que eles tinham na literatura durante a idade média. “São um tesouro linguístico e literário. Mas como não se tornaram oficiais nos países, caíram no esquecimento internacional”, comentou.
Ele acredita que as línguas românicas mais famosas, como espanhol, francês e italiano tiveram sorte. “Estas línguas se tornaram símbolo de status. Quando elas nasceram, surgiram outros idiomas que não tiveram essa sorte. Algumas destas línguas chegaram a ter grande proeminência, mas acabaram caindo”, observou.
Segundo um levantamento do Ethnologue, a maior enciclopédia sobre idiomas do mundo, são 7.111 línguas reconhecidas no planeta. O Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) registrou que no Brasil existiam 274 idiomas indígenas. Um deles, o nheengatu, falado na amazônia brasileira, colombiana e venezuelana, é um dos objetos de aprendizado de Fortunato, que está em um nível intermediário.
No mesmo nível de proficiência do idioma indígena, estão o hebraico, árabe, latim, holandês e chinês. Em entrevista ao G1, o tradutor contou que desde criança achava idiomas algo instigante. “Era muito legal quando eu pegava um manual multilíngue. Achava interessante quando via as instruções em grego, hebraico ou outros idiomas”, relembrou.
Didática
Estevam, que aprendeu sozinho os idiomas, aproveita a curiosidade e os conhecimentos do curso de Letras para aprender uma nova língua. Segundo o tradutor, o aprendizado começa na leitura. “A primeira coisa que faço é ler sobre o idioma sem estudar a língua em si. Vejo a família linguística que pertence. Aí, já sei o que esperar dele”, contou.
A partir daí, o próximo passo de Estevam é ler materiais didáticos sobre o idioma para construir uma base sobre o idioma na cabeça, para só então partir para a conversação. “Quando sinto que a questão estrutural e de vocabulário estão legais, procuro alguém que fale a língua para colocar em prática”, disse.
Quanto à comunicação, ele disse que já colocou em prática com todos os idiomas que já aprendeu. “Idiomas maiores, como inglês ou espanhol eu precisei usar mais vezes. Falantes dessas línguas esperam encontrar pessoas que falam os idiomas deles”, atentou.
Mas diz que alguns idiomas que não são oficiais em países como catalão, galego e occitano causaram um impacto emocional diferente. “Eles não esperavam! Perguntavam ‘como você aprendeu? Você fala tão bem’. Muitos diziam que parecia um falante nativo”, contou. Ele também aproveitou para treinar os idiomas em viagens pelo mundo.
Falando em nível de proficiência, ele disse que fez apenas o Teste de Inglês como uma Língua Estrangeira (do inglês, Test of English as a Foreign Language), conhecido como Toefl. Quanto à avaliação dos outros idiomas, Fortunato aponta os trabalhos como intérprete em tradução simultânea. “A qualidade do meu nível foi reconhecida por isso”, afirmou.
Por Douglas Lemos
Imagem: Redes Sociais
Fonte: G1 RN