Aconteceu neste domingo, 1° de dezembro, na Casa de Cultura do Butantã, a primeira edição da Butantã GIBICON, um evento focado na divulgação do trabalho de autores nacionais, publicação de quadrinhos independentes e oficinas. O evento foi idealizado por Sandro Merg Vaz, que é um assíduo colecionador de quadrinhos muito conhecido no cenário paulista por apoiar muitos projetos independentes em financiamentos coletivos para divulgar novos talentos.
Por mais que a CCXP seja considerada o grande evento do ano, acredito que a Gibicon seja não somente uma mostra, mas uma comprovação de que a expressão cultural e artística nacional é muito rica e vibrante bem como a produção de quadrinhos brasileiros é uma das mais interessantes do mundo.
Ao conhecer os artistas e participar da Gibicon, percebi que ele impacta diretamente o “Complexo de Vira-lata” dos brasileiros em relação à nossa própria cultura, pois ao acontecer às vésperas de um grande evento que basicamente divulga e celebra elementos da cultura pop estrangeira, a Gibicon conseguiu quebrar o pensamento intrínseco em nosso comportamento de que tudo o que vem de fora do país é incrível e que tudo o que criado aqui não é tão bom.
Claro que a CCXP é um evento incrível e todos nós somos fãs de muitas coisas produzidas no exterior, a exemplo essa redatora que vos fala ser fã de carteirinha de Harry Potter, mas o que quero dizer é que precisamos valorizar mais quadrinistas brasileiros além de Maurício de Sousa.
Omar Viñole, um dos autores presentes na Gibicon, é um dos criadores de uma HQ inspirada nos Orixás, que são deuses africanos também presentes na cultura afro brasileira. Viñole é naturalizado brasileiro, porém afirmou que a escolha dos autores do tema era justamente evidenciar elementos da cultura brasileira e mostrar que ela é tão interessante quanto a mitologia greco-romana, por exemplo, que até hoje é adaptada para livros e quadrinhos, além de diversas produções audiovisuais.
Além de colocar em evidência esses autores e seus projetos, também existe a questão da diversidade e representatividade no mundo dos quadrinhos.
A oficina de Thania Thaddeu, editora e redatora do site Minas Nerds, focou exatamente nesse tema ao propor uma análise coletiva de diversos quadrinhos feitos e/ou protagonizados por mulheres e dessa forma poder nos identificar com essas personagens e mulheres inspiradoras. Thania utilizou HQs como “Mônica: Força”, de Bianca Pinheiro e “Tina: Respeito”, da autora Fefê Torquato, além do “Gibi de Menininha”, um compilado de histórias de terror de várias autoras. Alguns exemplos dessa representatividade afora os utilizados na oficina são a HQ “Dora e a Gata”, escrita pela quadrinista e jornalista Helô D’angelo, protagonizada por mulheres LGBT+ e a tirinha “Rê Tinta”, criada pelo escritor e quadrinista Estevão Ribeiro, protagonizada por uma garotinha negra, que além de ser muito espontânea, tem muito orgulho de sua ancestralidade.
O Nordeste também foi muito bem representado na Gibicon, especialmente por autores do Coletivo Estação 9, formado por artistas da região do Cariri, no Ceará, que criaram uma revista chamada “Linha Alternativa”, que consiste em uma série de histórias em quadrinhos de diversos temas feitas com a colaboração de vários autores independentes.
Foi um evento simplesmente fantástico, no qual conversei com diversos autores incríveis, muitos dos quais já conheço o trabalho e sou fã das publicações. É uma sensação indescritível estar rodeada por centenas pessoas cujo trabalho muito se admira. Gostaria de expressar mais uma vez que os artistas brasileiros são incríveis e precisam de mais visibilidade.
Todos os autores que participaram da Gibicon estarão com mesas na CCXP e vale muito a pena conhecer o trabalho de todos. Algo interessante que notei a respeito da Gibicon é que eu não percebi que era tão fã de quadrinhos independentes até participar desse evento e conhecer esses autores pessoalmente, só posso dizer que estou muito ansiosa para a próxima Butantã Gibicon.
Imagens: Fernanda Iana
Fonte: O Barquinho Cultural