O monitoramento de imagens de satélite da costa brasileira para investigar a origem das manchas de óleo no Nordeste não mostra indícios da substância na superfície marinha. O resultado da análise reforça a teoria de que o óleo, que já contamina 166 localidades, não veio boiando pelo oceano até atingir as praias, mas que estava submerso, o que dificulta a localização da origem do vazamento.
A informação foi obtida pelo G1 em entrevistas com servidores do setor de emergências ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em nota, o instituto confirmou apenas que “monitora as áreas atingidas utilizando imagens de satélite disponíveis e com sobrevoos” e que “não foram detectadas manchas de óleo visíveis.”
Um servidor da Coordenação-Geral de Emergências Ambientais do Ibama que não quis se identificar garantiu que, segundo a análise, é possível concluir que a mancha de óleo não chegou à costa brasileira pela superfície do Oceano Atlântico.
“Ela está vindo na coluna d’água, submersa e fora do mar territorial brasileiro. Isso é certeza. Neste caso não tem o que fazer em termos de monitoramento por satélite e todo o esforço com sobrevoos de aeronaves é sem sentido. O Ibama não tem condições de fazer mais nada”, diz o servidor.
No geral, os satélites são mais eficazes em trechos mais próximos da costa. Por isso, o servidor avalia que a origem do óleo está fora do mar territorial brasileiro.
“A partir de certa distância da costa não existe passagem de satélite. Em alguns conseguimos ver um raio de até 800 km da costa, mas são só duas imagens por mês, que podem sofrer interferência por nuvens. No satélite que é o melhor para ver manchas de óleo e que não sofre interferência de nuvem, com imagens a cada seis dias, o foco é no máximo 300 km da linha de costa”, explica.
Em entrevista na segunda-feira (14), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reforçou a hipótese de que o óleo não pode ser visto por imagens aéreas.
“Não há grandes manchas sendo visualizadas nem pelo sistema de satélites, estrangeiros inclusive, e os voos com avião-radar do Ibama, aviões e helicópteros também da Aeronáutica”, disse.
Investigação da origem
Especialistas ouvidos pela reportagem dizem que não é possível determinar a origem das manchas de óleo que atingem o Nordeste. Por isso, ainda não se pode afirmar o que deve acontecer daqui para frente.
Duas análises apontam que o petróleo encontrados nas praias é de origem venezuelana: uma feita em relatório interno da Petrobras, mencionada pelo ministro Ricardo Salles na quarta (9), e outra feita pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e divulgada na quinta (10).
Os resultados, no entanto, não indicam que o petróleo veio de um vazamento das plataformas localizadas no país nem de um navio de bandeira venezuelana, mas apenas que o óleo encontrado no Brasil é compatível com o que é extraído na Venezuela.
Especialistas com conhecimento sobre a indústria petrolífera e correntes marítimas dizem que não é plausível supor que o material tenha saído da Venezuela e percorrido uma grande distância pelo mar até chegar à costa do Brasil. Para os analistas, o mais provável é que ele tenha vindo de um navio.
Após a análise de imagens de satélite, um servidor do Ibama acredita que há apenas duas hipóteses ainda possíveis.
“Ou houve um naufrágio e o óleo está sendo liberado a partir do fundo do mar ou algum navio teve uma avaria e foi preciso despejar sua carga, o que é aceito pelas normas de navegação, pois a prioridade é a salvaguarda dos tripulantes. Nas duas situações o transporte estava sendo feito de maneira clandestina, porque esses acidentes deveriam ser comunicados às autoridades. Agora, cabe à Marinha investigar”, diz.
O Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) do incidente de poluição de óleo no litoral do Nordeste é composto pela Marinha do Brasil, pelo Ibama e pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A investigação da origem das manchas de óleo é conduzida pela Marinha, já a criminal é objeto de apuração da Polícia Federal. Já o Ibama fica responsável pelo balanço de localidades e de animais atingidos pelo óleo e também pelo monitoramento de imagens do oceano.
Fonte: G1
Imagem: divulgação/Marinha