Graças aos smartphones, qualquer pessoa hoje carrega uma máquina fotográfica potente no bolso. E essa facilidade em fazer cliques impacta drasticamente a forma como criamos memórias: bons momentos, quase sempre, servem para alimentar a galeria do celular. Não seria diferente durante a criação dos filhos, alvos preferidos das câmeras de seus genitores – principalmente no início da vida. Pais orgulhosos vão postar até 1.300 fotos de seus pequenos nas redes sociais até que eles completem 13 anos, segundo mostrou este estudo britânico. Mas, para além de registrar os primeiros passos dos filhotes, imagens amadoras também podem revelar aspectos importantes da saúde das crianças.
É nisso que aposta o aplicativo CRADLE (berço, em inglês, mas também a sigla para “detector de leucocoria assistido por computador”), ou White Eye Detector, desenvolvido por pesquisadores americanos. Chama-se de “leucocoria” um tipo de reflexo anormal na pupila, comumente detectado em crianças. O que os criadores da ideia acreditam é que fotos de celular podem ser uma forma simples de se captar sinais do tipo – e diagnosticar problemas de visão logo no começo da vida.
A ferramenta foi lançada ainda em 2014, é gratuita e já soma milhares de downloads em suas versões para iOS e Android. Mas um artigo científico inédito que avaliou o seu funcionamento e eficácia foi publicado na revista Science Advances na última quarta-feira (2).
Assim como fotos com flash às vezes deixam quem posa de olhos vermelhos, doenças na vista (como retinoblastoma ou catarata, por exemplo) fazem os bebês saírem na foto com a pupila esbranquiçada. É algo semelhante ao que você pode ver nas imagens abaixo, feitas pelos pesquisadores que assinam o estudo.
Sabendo que olhos esbranquiçados indicam problemas na visão, o algoritmo busca, então, detectar pixels de cor branca nas imagens. Quando os tais pixels aparecem na região da foto onde estão os olhos dos pequenos, a inteligência artificial acusa a chance de doenças na vista.
Mas como a ferramenta consegue entender isso? A resposta está na tecnologia de aprendizado de máquina. Ela consiste em apresentar milhares de fotos de bebês saudáveis e doentes para treinar o algoritmo – até que ele aprenda a identificar, por tentativa e erro, se há problema ou não na imagem.
No estudo, cientistas testaram o aplicativo com quase 53 mil fotos de 40 crianças diferentes – metade delas tinha alguma doença de visão. A inteligência artificial conseguiu diagnosticar problemas nos olhos de 16, uma eficácia de 80%.
Fonte: Revista Superinteressante
Imagem: Westend61/Getty Images