Ivanilda olha e elogia o desenho que representa ela mesma em frente ao Lar da Vovozinha, onde mora, em Natal. O muro do asilo que abriga 40 idosas foi reformado ao custo de R$ 1.600 – dinheiro todo levantado pelo projeto ReforAmar, através de doações. Mesma alegria teve a dona de casa Bruna Pereira, que viu a casa da sua mãe, que teve um AVC, também reformada.
As duas foram beneficiadas por um projeto de uma jovem de 22 anos, estudante de engenharia civil e tecnóloga em construção de edifícios, que reforma casas de pessoas que não têm condições de arcar com os custos. O sonho de infância de Fernanda Silmara era ter em uma casa sem goteiras e infiltrações. Hoje, ela ajuda outras pessoas a morar em imóveis com mais dignidade.
Voluntários fazem obras nas casas — Foto: Divulgação
“A nossa porta da frente era metade madeira, embaixo era uma lona de praia. Não fechava. Era mais para cobrir mesmo a casa. Eu sempre me emociono, porque acabo lembrando daquele tempo difícil. Mas hoje eu me sinto muito grata por tudo”, lembra ela, emocionada.
Com 10 meses de atuação, o ReforAmar – que une as palavras “reforma” e “amor” – já beneficiou seis casas e já tem a sétima projetada. Iniciado com cinco pessoas, atualmente o projeto conta com cerca de 100 voluntários, como a assistente social Isabelle Silva. “Ele é um projeto que não transforma só casas, mas também transforma vidas”, considera. De acordo com ela, a experiência permite abrir os olhos para problemas sociais e “receber como recompensa o sorriso das pessoas”.
Reforma feita no Lar da Vovozinha, em Natal — Foto: Divulgação
Fernanda Silmara reforça essa ideia. Ela conta que parte do processo para selecionar a casa que será beneficiada é entender a história daqueles moradores, numa espécie de experiência social. “Reformamos uma casa de um senhor de 96 anos que cuidava de duas filhas que têm deficiência mental. Batizamos o lugar de ‘Casa da Resiliência’ por isso”, conta.
Trabalho feito por voluntários
Os mutirões de voluntários para reformas das casas acontecem sempre nos finais de semana após um planejamento de cerca de dois meses. O processo tem início com as avaliações das casas e entrevistas com as famílias que serão beneficiadas. O grupo também pontua se há condições de fazer a obra. A partir daí, e com a análise do local, é apresentada uma maquete digital para a família. “Nós mostramos para eles, que podem fazer algumas alterações, como mudar a cor de alguma parede”, explica Fernanda.
Todo o processo é feito por voluntários e os valores para reformas são arrecadados através de doações. “Nossa próxima casa será a primeira que reformaremos toda a casa, não só uma parte. Ela custará R$ 6 mil”, diz Fernanda.
Projeto reforma casa em Natal de forma gratuita — Foto: Divulgação
A casa
Quando era pequena, a casa de Fernanda sofria com goteiras e infiltrações durante as chuvas. “A casa era de taipa e de tijolo branco. A chuva infiltrava na parede e ficava aquele cheiro estranho, de uma casa abafada, durante um semana”, lembra.
Fernanda é a idealizadora do projeto — Foto: Divulgação
Certo dia, ela levou os amigos para a casa dela. “Eu tinha cerca de cinco anos. E criança não tem papas na língua. Eles falaram que minha casa fedia muito. A partir daí, eu não levei mais ninguém lá. Eu sentia vergonha da minha casa”, relata. Depois de uns anos, ela pediu à mãe para se instalar num quarto que havia sido construído nos fundos da casa, que é onde ela mora até hoje.
Fernanda chegou a morar com a mãe, que se mudou para ficar mais perto do trabalho, em outro bairro, mas decidiu voltar para antiga residência. Para isso, contou com a ajuda de um tio e do irmão na reforma da casa, que estava abandonada há alguns anos. Hoje, a casa já não é mais de taipa e não conta com o antigo cheiro que a incomodava.
Fernanda trabalha nas reformas — Foto: Divulgação
Mais reformas
A maioria das seis reformas feitas até o momento foram no bairro do Alecrim, em Natal, com orçamentos que chegavam até os R$ 1.700. O projeto conta voluntários de todas as áreas e são eles que colocam a mão na massa para fazer a obras nas casas.
Para este ano, o projeto idealiza reformar outras seis casas – uma delas já está programada. Voluntário, o engenheiro civil Rodrigo Medeiros diz que não se incomoda em abdicar de finais de semana para dedicar um tempo a ajudar o próximo. “Ser voluntário é você pegar o que você faz bem para tentar fazer bem a alguém”.
O projeto tem toda a sua divulgação através das suas páginas nas redes sociais, onde também informa as formas de doação de dinheiro e material para as obras.
Um das casas reformadas pelo projeto em Natal — Foto: Divulgação