A manhã de domingo da zona sul de Natal foi marcada pela passagem de um pequeno trio elétrico que bradava na avenida Engenheiro Roberto Freire. Porém, o que seria um fato corriqueiro (dada a quantidade de veículos de som que trafegam nos fins-de-semana propagandeando), logo se mostrou algo inusitado devido ao conteúdo do que estava sendo veiculado a plenos pulmões.
Com pouquíssimos carros compondo a famigerada passeata, manifestantes apoiadores do golpe militar de 1964 se enfileiravam buzinando, xingando motoristas e transeuntes do calçadão de Ponta Negra, gritando ‘pérolas’ do tipo “não houve golpe”, “os militares salvaram o Brasil”, “nossa bandeira jamais será vermelha” etc. Foi um ‘espetáculo’ dantesco, ofensivo e digno de pena.
O ódio vociferado pela carreata era tão explícito que não houve sequer uma manifestação de apoio por parte das pessoas que transitavam no entorno. O que se via nos rostos era o assombro, o incômodo de quem foi tirado sem escolha de sua rotina dominical, a certeza de que algo ali estava ultrapassando os limites do que seria considerado ‘aceitável’ ou ‘liberdade de expressão’ (que não é o mesmo que ‘carta branca’ para ofender).
Diante da frieza da recepção popular, o trio elétrico seguiu em frente, com o volume das vozes cada vez mais baixo. O bom-senso e os ouvidos (que não são privadas…) agradeceram.
Imagem: Otaviano Lacet