Acordo e mergulho no ritual da feitura cafezal com pão integral e queijo branco com devidos acompanhamentos, curto show de Krishna Das no YouTube e parto para peregrinação em Ponta Negra revestido de fina capa plástica e disposição para um tour diferente.
E assim fui vendo guarda-chuvas no lugar de guarda-sóis e proteção substituindo exposição solar.
Na reflexão dessas coisas da vida, tão naturais quanto dormir e estar alerta, ouço um jovem afirmando ser a água da bica que o banhava, abençoada.
Aí lembrei que dias atrás li que um outro jovem frequentava seu templo predileto, após assaltos bem–sucedidos, para agradecer a divindade pelo êxito alcançado.
Em minha especialização defendi a hipótese que a religião expressada no sistema prisional da Grande Natal é – em sua maior parte, falsa, uma vez que o altíssimo índice de retorno dos religiosos ao sistema, após serem soltos, corroborava a premissa que utilizavam essa fé apenas para obter pequenos ganhos pontuais do sistema, não havendo de fato uma conversão, posto que seria óbvio em havendo, não retornar o sujeito às práticas criminosas.
Deduzo então que precisando de muletas para confessar suas faltas, impossibilitados de diálogos com pessoas próximas, esquecem as condenações feitas por pessoas como Jesus, por exemplo, de condutas inadequadas, e se apegam ao lado do perdão, encontrando no Mestre um amigo, uma pessoa a quem é possível até agradecer por malfeitos, acreditando não haver repreensão por isso, e sim, compreensão, perdão e até apoio, no juízo torto de muitos.
A deturpação, apropriação e até formulação de maneiras pessoais de interpretar a religião – todas elas, propicia que se mate em nome dos seus eleitos, exterminem contrários à sua fé e cometam delitos por estarem desempregados ou com o intuito de ajudar a comunidade em que estão inseridos.
Muitas vezes, estas condutas são apoiadas pelas formas de governo, seja armando grupos, flexibilizando a legislação penal ou até corroborando a falácia que os ricos são do mal e merecem mesmo perder seus bens. Neste aspecto, muitas vezes o próprio Estado faz esse papel.
Estando no Rio sofri pequeno surrupiamento de uma bolsa contendo pouco mais de cem reais e, quando anunciei no lugar que estava, o ocorrido, um senhor vendedor de miçangas, com cara de satisfação, sem me conhecer, se apressou em dizer: – bem feito, tem muita gente besta que merece ser roubado.
Percebi na hora que os bestas para ele, são todos aqueles que conseguiram de alguma forma, uma condição de vida melhor que a dele.
Assim como aquele senhor, muitos pensam por aí que roubar, matar, exterminar, é até uma cruzada, algo divino, apoiado por seres superiores, como uma espécie de vingança, justiça ou distribuição de renda.
Bom, continuei caminhando na chuva de Ponta Negra e refletindo: eis a vida, sol, céu, nuvens brancas, negras, chuva, pessoas que agradecem as divindades por coisas boas e até quem agradece por coisas ruins.
Que situação, rapaz…
Flávio Rezende aos 31 dias do mês três, ano dois mil e dezenove. 10h08.
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Uma excelente semana para todos. Luzzzzz?❤✨?☀⚡⭐?