A primeira sala brasileira com a tecnologia, que já está presente em 11 países, fica em São Paulo, no complexo Cinépolis JK Iguatemi – que passou por uma grande reforma e está sendo reinaugurado hoje. A sala Samsung Onyx dispensa o projetor porque, na prática, sua tela é uma gigantesca televisão, com 455 polegadas (55 metros quadrados) e 8 milhões de LEDs: um para cada pixel da tela, que tem resolução 4K.
Mas a tela Onyx apresenta uma grande diferença em relação às tvs domésticas de LED-LCD. A televisão que você tem em casa possui um iluminador (backlight) e uma película de cristal líquido, que barra ou deixa passar a luz do backlight e, com isso, forma a imagem que você vê [entenda melhor no gráfico abaixo]. O problema é que sempre acaba vazando um pouco de luz do backlight -e as técnicas para mitigar isso, como piscar o backlight ou desligar partes dele, não são perfeitas. Esse problema também afeta os projetores de cinema, que funcionam de modo parecido (a diferença é que eles têm uma lâmpada de xenônio no lugar do backlight, e microespelhos móveis em vez de cristal líquido). É por isso que as tvs de LED-LCD, e os projetores, não conseguem gerar imagens perfeitas – com as cores saturadas, o preto profundo e o contraste absoluto que caracterizam as telas OLED. Porque deixam vazar luz.
Na tela Onyx, a imagem é formada diretamente por LEDs. É como na tecnologia MicroLED, que deve chegar este ano às televisões – a diferença é que, na versão para cinemas, a distância entre os LEDs é um pouquinho maior (2,5 milímetros, contra 1 mm na MicroLED). Mas o princípio de funcionamento é o mesmo. Não há backlight, nem camada de cristal líquido. Cada pixel gera a própria luz, e só. Não interfere com os demais. Logo, não há vazamento – e, portanto, a tela é capaz de produzir contraste e cores perfeitos. Como se fosse uma OLED, mas com uma vantagem: ela alcança um nível de brilho muito maior.
Na primeira demonstração, realizada hoje pela rede Cinépolis e pela Samsung, a tela Onyx se mostrou realmente impressionante – em alguns momentos, a sensação é de estar olhando para uma (gigantesca) janela aberta, tamanho é o brilho e a definição da imagem. Mas a nova tecnologia também tem seus poréns. Vamos por partes.
O evento começou com a exibição de alguns trailers na sala 01 do Cinepolis JK: uma IMAX de 371 lugares, com tela de 185 metros quadrados e resolução 4K (caso você esteja curioso: no Brasil quase todos os cinemas, IMAX ou não, operam em 2K). A projeção foi boa, mas não excepcional: as legendas estavam ligeiramente tremidas, e os detalhes da imagem suavizados/borrados, sem plena nitidez. O problema das legendas provavelmente foi só um erro de configuração qualquer, fácil de corrigir (mesmo caso do som estridente, com agudos desproporcionais aos graves). Mas a falta de nitidez é um problema clássico dos IMAX de tela muito grande – exceção feita aos IMAX Laser.
A segunda demonstração foi realizada na sala 02, que também traz uma tecnologia interessante: projeção a laser. Essa sala, que tem 118 lugares, ainda está em ajustes e só será inaugurada em março. Ela utiliza um projetor laser DPL-60L, fabricado pela empresa belga Barco. A vantagem é que, como o laser é muito potente, o projetor consegue emitir mais luz – o que melhora a qualidade de imagem. A tela era menor do que a IMAX, mas sua definição de imagem era bem superior. O único porém é que ela apresentava uma certa “sujeira” nos elementos mais claros da imagem, sobretudo em movimento. Esse fenômeno se chama “speckle”, e é característico de um determinado tipo de projetor laser. O efeito é relativamente discreto – se você não souber que ele existe ou como é, provavelmente não irá notá-lo.
Chegamos à sala 05, onde estava o que todo mundo queria ver: a tela Samsung Onyx. A primeira impressão, logo ao entrar, não é das mais impactantes. A sala tem apenas 79 lugares, e a tela não é lá muito grande – principalmente se comparada às anteriores. Tem 55 m2, muito menos que os 185 m2 da IMAX. Mas também não chega a ser pequena; é como as telas que você encontra em cinemas “de arte”, ou nas salas secundárias dos multiplex de shopping center. Tamanho razoável. A tela Onyx é formada por módulos encaixados, ou seja, seria possível construir uma maior que a desta sala (que tem 2.300 módulos). Outra particularidade é que ela é 100% plana; não levemente curva, como nos cinemas convencionais.
Quando a luz se apaga, para o início da demonstração, a sala é preenchida por um suspiro de espanto coletivo – porque ela fica absolutamente, incrivelmente, escura. A sensação não é de estar numa sala de cinema; é de mergulhar num buraco negro. Isso acontece porque, ao contrário dos projetores, a tela de LED não emite absolutamente nenhuma luz indesejada. É o chamado “contraste infinito” – um termo que costuma ser usado de forma indevida no mercado de televisões, mas que, neste caso, tem cabimento.
Alguns segundos depois, o filme começa, e a tela se acende. E o efeito é igualmente impressionante. Em algumas cenas (a Samsung exibiu um clipe de demonstração, seguido do filme “Alita: Anjo de Combate”), você tem a impressão de estar olhando por uma janela aberta – porque as partes mais brilhantes da imagem reluzem com força e naturalidade incríveis, como se fossem cenas reais. Isso acontece porque a tela LED é capaz de alcançar 300 nits de brilho, dez vezes mais do que os projetores convencionais. Outra diferença é que a tela não tem absolutamente nenhuma imperfeição, sujeira ou textura visível: você enxerga, apenas, a imagem do filme (que, por isso, é visivelmente mais nítida). E as cores são perfeitamente saturadas, não têm aquele tom meio “lavado” típico de cinema.
Somando tudo, o salto de definição é espantoso. Lembra como foi quando você, acostumado com as televisões de tubo, viu uma LCD de alta definição pela primeira vez? Não é um pulo tão grande assim. Mas é quase. Não dá vontade de voltar a frequentar cinemas com telas comuns – mesmo se elas forem maiores do que a Onyx.
O outro lado da moeda é que, se as telas Onyx ganharem espaço, a indústria do cinema terá de aperfeiçoar seus efeitos especiais (mais ou menos como a televisão teve de evoluir com a chegada da alta definição). Mesmo em “Alita”, um filme altamente produzido, a tela Onyx revela algumas imperfeições: o rosto da protagonista, que é gerado em computador, nem sempre se integra perfeitamente ao resto das cenas, gravadas com atores. Outro porém está em cenas com movimento.
Aparentemente, a tela Onyx estava utilizando pouquíssima ou nenhuma interpolação de quadros (que nas televisões LCD costuma vir ligada de fábrica, e deixa qualquer filme com aspecto de novela mexicana). Isso é ótimo, e ela se comportou de forma quase irrepreensível no quesito movimento. A exceção foram cenas com deslocamento lateral de câmera (o chamado “pan”), em que a imagem apresentou vibrações bem perceptíveis (“judder”). Esse efeito também acontece -em menor intensidade- nos cinemas convencionais, não é o fim do mundo, e pode estar relacionado à diferença entre a taxa de quadros em que o filme foi gravado (provavelmente, 24 por segundo) e a taxa de atualização nativa da tela Onyx (segundo as especificações da Samsung, 3.072 Hz). A conferir.
O último porém diz respeito ao cansaço visual. Num cinema comum, a luz é disparada pelo projetor contra a tela, que a rebate para os seus olhos. No cinema LED, a tela é muito mais brilhante, e dispara diretamente em você. Na demonstração da Samsung/Cinepolis, eu sentei na sétima das oito fileiras do cinema – e não senti fadiga ocular durante o filme. Mas pude perceber que, para quem estava nas fileiras mais à frente, a intensidade da luz era consideravelmente maior. No fim das contas, isso depende da sensibilidade de cada pessoa. Mas, se você for visitar a sala Onyx, é aconselhável escolher um lugar da metade para trás – o que vale, aliás, para qualquer cinema.
Fonte: Revista Superinteressante
Imagem: Samsung/Divulgação