Na época em que tudo era mato na internet, um jovem funcionário de um grande banco foi transferido para um posto no Oriente. Um salário bom nos Estados Unidos vira um sonho em qualquer outro país — e o jovem executivo deitou e rolou. Literalmente. Alugou um apartamento imenso e um carro extravagante, jogou-se numa vida de luxo e dissipação. Tudo teria acabado bem, ou pelo menos durado um pouco mais, se, levado pelo entusiasmo, ele não desandasse a escrever emails para os amigos falando da sua nova vida maravilhosa. Contava detalhes das suas noites calientes, e dizia que, mesmo namorando uma moça diferente a cada dia, podia se dar ao luxo de não repetir de quarto em casa nem uma vez por semana.
Mesmo naqueles tempos longínquos houve quem achasse um pouco muito. E, como o desavisado jovem usava o email da firma para as suas confissões, logo a diretoria ficou sabendo, e ele foi sumariamente demitido — não sem que, antes, os seus emails chegassem aos jornais, transformando-se num dos primeiros escândalos do mundo conectado.
Para quem estava esperto, o episódio ofereceu lições para toda uma vida online. Entre as mais importantes, jamais usar o email corporativo para conversas particulares e, especialmente, jamais escrever algo num computador que não possa sair nas primeiras páginas dos jornais (ou também, hoje, viralizar nas redes sociais).
Para quem não é do ramo da segurança e não é paranóico com isso – e mesmo essas características não garantem ninguém – não existe privacidade em objetos ligados à internet. Simples assim. Enviamos mensagens inbox e emails com informações confidenciais só para os amigos mais íntimos, temos criptografia no WhatsApp e no Telegram, mas tudo pode vazar ali adiante.
Há falhas de segurança com que nem sonhamos – no outro dia mesmo, ficamos sabendo que o FaceTime, da Apple, em tese sempre tão competente, deixava usuários ouvirem o que acontecia do outro lado antes que a ligação fosse atendida. Tipo: “Olha aquele chato insuportável ligando de novo!”. Ou “Shhhh, silêncio aí que eu disse que não ia trabalhar porque estava doente!”. Ou… imaginem o potencial de confusão disso.
E nudes? Nada no mundo vaza mais do que nudes. Há poucas coisas tão perigosas para a vida profissional (e, eventualmente, para a autoestima) do que um nude caindo em mãos erradas. E nudes, conforme a gente sabe, têm o perverso hábito de sempre cair em mãos erradas – seja por causa de ex-namorados vingativos, seja pela simples curiosidade alheia, seja por momentos de distração em que se manda para o Instagram a foto que devia ser particular. Depois fica difícil explicar dizendo que a conta foi hackeada, porque ninguém mais acredita nessa história.
Até Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, dono da Amazon e do Washigton Post, foi alvo de chantagem por causa de nudes vazados . Essa é uma longa história cheia de ramificações políticas e personagens importantes. O que mais espanta nela, porém, não é o vazamento dos nudes, e sim que um homem com o seu conhecimento, e na sua posição de poder, ainda não tivesse aprendido a lição básica da vida online: não existe privacidade onde existe internet.
Tomem cuidado.
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Fonte: https://oglobo.globo.com