Metal Gear, Castlevania, Silent Hill, Contra… estas são só algumas das franquias que estão no enorme repertório da Konami, por bem ou por mal. E eu, propositalmente, omiti uma que é sempre nomeada quando se fala do arsenal da empresa: Suikoden.
A amada série de RPG, como suas irmãs, teve uma fase gloriosa até ser menosprezada pela própria companhia e, no mais novo esforço de preservação de seus jogos, a Konami relança a duologia Suikoden I & II do PSP como
Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars. Mas será que vale a pena retornar aos clássicos ou é melhor deixar na memória? Venham comigo, vai ser uma longa viagem.
Contos de uma guerra iminente
Suikoden I (1995) conta a história de Tir, filho do renomado general Teo McDohl do Império da Lua Escarlate. Amado por todos em sua cidade, Teo deve deixar seu filho para mais uma incursão em nome do imperador e seu poder expansionista.
Acompanhado de seu melhor amigo, Ted, e de serventes de seu pai, o jovem Tir parte para começar seu legado no exército, lutando batalhas até descobrir a corrupção que jaz dentro do Império, revelando o mar de sangue e corrupção que os líderes malignos causam no mundo e, assim, decide entrar na resistência para desafiar o mal que assola a sociedade.
Já Suikoden II (1998) se passa três anos após os eventos do primeiro jogo (e cujo progresso pode ser transferido de um para o outro). O Reino de Highland, sob bandeira do cruel e louco príncipe Luca Blight, invade as Cidades-Estado de Jowston ao orquestrar o ataque de um pequeno batalhão de seu próprio exército, dando pretexto para a guerra. Nesse time, está nosso novo protagonista, Riou, e seu melhor amigo, Jowy.
Após conseguirem escapar do massacre e encontrar velhos conhecidos (se o jogador tiver jogado o primeiro título), Riou decide derrotar Luca e o exército de Highland, pondo fim a essa guerra sem sentido. Esses são breves resumos da narrativa dos jogos, um pequeno deleite para histórias complexas sobre guerra, esperança, amizade e os laços que unem os corações dos atores nesse palco voraz.
As tramas e os personagens da duologia continuam ricos e interessantes mesmo que três décadas tenham passado; além disso, eles são baseados no romance chinês do século XIV, Margem da Água, e no contexto dos 108 heróis protagonistas do épico, sendo seres pecaminosos que se arrependeram de seus erros e unem-se para espalhar o bem maior, em linha com os temas dos jogos.
Estrelas no céu
Suikoden opera como um bom JRPG: andando a esmo pelo cenário e enfrentando inimigos em combates aleatórios. O básico de um RPG. O que destaca Suikoden, no entanto, é que nossa equipe pode suportar até seis personagens e sendo possível recrutar até 107 personagens (alinhando para o paralelo dos 108 herois mencionados), apesar de que nem todos são possíveis de colocar no grupo de ataque. O combate continua intuitivo e divertido de executar, com diferentes estratégias dependendo do alcance das armas, as magias acessíveis com as Runas especiais e como a equipe evolui com o número de pessoas no grupo, inclusive tendo ataques em conjunto entre os membros. Em Suikoden II, ainda existem lutas de exércitos contra as forças de Highland, aumentando o escopo de guerra e dando mais grandiosidade à narrativa.
Como dito, este remaster é baseado na coletânea de PSP, anteriormente exclusiva para o Japão, que já contava com melhorias nos ports e agora com mais como suporte direcional para oito direções, tela widescreen e traduções mais corretas para o segundo jogo. Além disso, é possível correr sem a necessidade de Runas (anteriormente uma habilidade relegada a certas relíquias) e também agora é possível automatizar as lutas e até acelerar a velocidade dos combates para serem mais rápidos.
Com o tempo, o jogador adquire um castelo onde cada uma das Estrelas vai ficar para se estabelecer, dando um enorme sentido de união e lar e é lá onde ficam nossos aliados e os herois que não são selecionáveis para combate. Algo interessante a se notar é que não existe loja de armas em Suikoden (apenas para armadura), sendo necessário reforçar as armas utilizadas. Este é um aspecto único que destaca ainda mais a franquia, além de prover um jogo de cintura ao jogador, precisando racionar o quanto de recursos gastar para melhorar certo personagem até poder melhorar o resto da equipe.
Outras adições bastante bem-vindas são o minimapa (acessível com o apertar de um botão), autosave, o registro de conversas para não se perder na narrativa e, principalmente, a possibilidade de trocar equipamentos entre os personagens sem a necessidade de abrir o menu de itens, tudo para melhorar a praticidade. Em questão de performance, o trabalho é fenomenal, com o tempo de carregamento sendo praticamente inexistente e a direção de arte mais bela do que nunca, com painéis de perfil dos personagens redesenhados e os pixels refinados para tudo parecer mais lindo.
Ruínas da batalha
Infelizmente, a remasterização comete alguns erros que impedem uma experiência infalível. Para começar, os jogos estão totalmente em inglês, uma heresia para um RPG robusto como este que impede a compreensão dos jogadores brasileiros que não entendem bem a língua anglo-saxão. Também tem a questão do menu de itens de Suikoden I, no qual CADA personagem tem seu próprio inventário e que logo fica irritante para poder cuidar de cada um dos slots, inclusive para poder vendê-los, se tornando um trabalho irritante. Este defeito não se aplica a Suikoden II, o que deixa bastante confuso do porquê dessa melhoria não ter sido aplicada ao título original.
Por fim, em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e Suikoden I&II HD é um exemplo básico disso.
No lançamento original, já existia o menu Galeria, contendo músicas, cinemáticas e eventos dos jogos. Muito legal e básico, mas omitindo artes conceituais e de desenvolvimento dos títulos é, no mínimo, estranho em um relançamento.
Esperança para um futuro melhor
Pequenos tropeços não tiram o enorme mérito que a existência de Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars é, revivendo dois clássicos da era de PS1 (sendo o segundo declarado o melhor JRPG do console, ao lado do imortal Final Fantasy VII) com excelentes melhorias para aperfeiçoar a experiência.
Basta agora esperar se os títulos de PS2 (III, IV e V) vão receber o mesmo tratamento de preservação. No tempo em que vivemos, com guerras brutais acontecendo no Oriente Médio, no coração da Europa e a iminência de ameaças loucas de um certo “líder”, a esperança de um amanhã claro se alinha com as narrativas de Suikoden. Parafraseando o romance que inspirou os games, “um vizinho amigo é mais valioso que um parente distante”.
- Belíssimos visuais remasterizados, além de performance consistente e sem carregamentos;
- Histórias poderosíssimas, com os mesmos personagens carismáticos e temas complexos de guerra, amizade e esperança;
- Jogabilidade continua impecável, com um sistema de luta imersivo;
- Melhorias de relançamento, como minimapa e aceleramento de combate, bastante bem-vindas.
Contras
- Galeria funciona, mas a falta de artes conceituais é bizarra na preservação de conteúdo;
- Ausência de legendas em português;
- Manejar os itens em Suikoden I é tedioso e pouco intuitivo.
Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars — PC/PS4/PS5/XSX/Switch/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise feita por Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Fonte: Nintendo Blast
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