Um oceano inteiro separa o Brasil da África. Cerca de 14 horas de voo para ir de um continente a outro. Entretanto, nem o enorme volume de água, tampouco as muitas horas dentro de um avião são suficientes para frear as ações de expansão da educação e do desenvolvimento para pequenas comunidades. Cuidado, ajuda e acolhimento são sempre bem-vindos, independente do local de origem.
É com esse pensamento que o Trilhas Potiguares realizou mais uma edição, dessa vez, com um novo reforço, vindo de outro continente: pela primeira vez, o projeto contou com a participação de africanos. O programa de extensão, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (Proex), já carrega mais de 25 anos de intervenção e é um dos maiores exemplos da efetiva interação entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a população de pequenos municípios. Este ano, o tema escolhido foi Saberes em Movimento: Conexões Culturais e Desenvolvimento Social do RN.
Naturais de Moçambique, Angola, Gana, Guiné-Bissau e Cabo Verde, esse público está atualmente inserido em diversos cursos, seja de graduação ou pós-graduação, na UFRN. A proposta de ajudar na intervenção em municípios de um país que não é seu por origem, foi acolhida afetuosamente por eles.
É o caso de Arsénio Tesoura. Doutorando em educação na UFRN, natural de Moçambique e trilheiro no município de Riacho de Santana, ele confessa que essas vivências vão agregar bastante em sua tese. “Em uma das oficinas em que participei, trabalhamos com crianças e assim pude observar como é o processo de inclusão delas durante suas atividades lúdicas”, declara.
Casimiro Waete Agostinho também compartilha desse mesmo entusiasmo. Trilheiro no município de Frutuoso Gomes, acredita que, muito além de passar o conhecimento, ele foi buscá-lo. O moçambicano e doutorando em Engenharia Elétrica e Computação, foi o responsável por ministrar oficinas de Inteligência Artificial.
“Fui muito bem recebido pelos ouvintes da oficina. Claro que existem muitas dúvidas ainda. Por outro lado, temos pessoas muito ansiosas, pois é uma área bem promissora. Grande parte já sabia de muita coisa, mas com o conhecimento trazido pela oficina, foi possível organizá-lo mais”, afirma.
Para o Trilhas 2024, foram selecionados cerca de 15 africanos, entre estudantes e professores, para compor a equipe de ações. A seleção foi mediada pelo professor Francisco Fransualdo de Azevedo, o qual também é coordenador e articulador dessa cooperação. Docente dos programas de Pós-Graduação em Geografia e em Turismo, ele não esconde a felicidade em vivenciar tamanha experiência.
“O Trilhas é um dos programas de extensão mais antigo que temos, extremamente importante nessa relação ensino, pesquisa e extensão. Além da relevância dentro da UFRN, temos um impacto muito positivo na sociedade, nos municípios e nas comunidades onde o projeto é desenvolvido. É a primeira vez que estamos tendo a integração de um grupo tão significativo e tão expressivo de estudantes e professores africanos no Trilhas”, reflete.
Ainda que seja um programa de extensão tão antigo, a inserção de outro grupos diversos, como os africanos, demorou para se concretizar. Fransualdo explica que esse tardamento deu-se por causa das inúmeras fases pelas quais o Trilhas passou. Contudo, para o docente, a resiliência do projeto e sua função social dentro da universidade são muito maiores do que certos obstáculos no meio do caminho.
Atualmente, a UFRN vive um momento marcante no quesito inclusão. A cooperação entre Brasil e África nunca trouxe tantos africanos para estudarem na universidade como agora. Essa expressiva presença advém de um caso especial. Em 2017, o Trilhas Potiguares desembarcou na África com uma equipe de cerca de 40 pessoas para realizar ações que atenderam mais de três mil africanos. O resultado foi a vinda de diversos estudantes para a universidade com intuito de realizar a pós graduação.
Com o projeto de extensão, a UFRN busca atender aos indicadores 11 e 15 do seu Plano de Gestão 2023-2027. O primeiro refere-se ao número de alunos estrangeiros e o segundo, ao índice de programas estruturantes, projetos e cursos de extensão inovadora com impacto no desenvolvimento regional.
A edição de 2024 do Trilhas Potiguares terminou deixando um enorme legado: as mãos que acolhem também podem ser de outro continente. Tanto Arsénio quanto Casimiro estão a mais de nove mil quilômetros de seus países de origem, mas não medem esforços para ajudar a transformar a vida de pessoas que vivem nos interiores de um país tão grande.
Fonte: Agecom/UFRN
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