O sexo desempenha papel crucial na manifestação do Transtorno Depressivo Maior (TDM), uma das principais causas de incapacidade no mundo, afetando cerca de 300 milhões de pessoas. Estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), observa que as diferenças biológicas entre homens e mulheres podem influenciar tanto os sintomas quanto a resposta ao tratamento, levantando a necessidade de políticas públicas que considerem essas variações no diagnóstico e na abordagem terapêutica.
Iara Souza, pesquisadora de Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Bioinformática (IMD/BioME), destaca que de acordo com a literatura mulheres apresentam, em média, duas vezes mais risco de desenvolver o TDM ao longo da vida. “O transtorno se manifesta de maneira diferente em homens e mulheres, com as mulheres apresentando maior susceptibilidade em determinados períodos da vida”, explica Iara. Esses achados reforçam a importância de adaptar os serviços de saúde mental às particularidades biológicas de cada sexo, promovendo tratamentos mais eficazes e personalizados.
A pesquisa utilizou uma abordagem de bioinformática para identificar genes com alterações transcricionais (TAGs) em amostras de tecido cerebral de homens e mulheres com TDM. No total, foram analisadas 263 amostras de cérebro, comparando-se as expressões gênicas entre indivíduos dos dois sexos. “Observamos que os perfis de expressão gênica são bastante distintos entre homens e mulheres, e essas alterações são específicas para cada região cerebral”, afirma Iara. A pesquisa destacou que o córtex frontal é uma das regiões mais afetadas pelo transtorno, especialmente em mulheres.
Para alcançar esses resultados, foram utilizados dados públicos de sequenciamento de RNA, coletados de amostras de tecido cerebral post-mortem de indivíduos com TDM e pessoas saudáveis. As amostras passaram por uma análise detalhada, utilizando protocolos padrão para identificar as diferenças de expressão gênica entre homens e mulheres. “O Núcleo de Processamento de Alto Desempenho (NPAD) da UFRN forneceu a infraestrutura necessária para o processamento e análise dos dados”, acrescenta a pesquisadora.
Além de contribuir para o entendimento das diferenças biológicas no TDM, a pesquisa também abriu novas frentes de investigação em doenças neuropsiquiátricas no grupo de pesquisa do professor Rodrigo Dalmolin, do Departamento de Bioquímica da UFRN (DBQ) e filiado ao Centro Multiusuário de Bioinformática (BioME). “Os próximos passos incluem a identificação de variantes genéticas associadas a um maior risco de desenvolver o transtorno, assim como a análise das alterações transcricionais específicas de cada sexo em nível celular”, conclui Iara.
Fonte: Agecom/UFRN