Toda pesquisa, por mais complexa que seja, carrega o potencial de se transformar em histórias que conectam a ciência à vida cotidiana. Essa ponte entre o saber acadêmico e o público não apenas esclarece e educa, mas também fortalece a imagem de uma instituição como um farol de confiança e inovação. É o que mostra o jornalista Paiva Rebouças, diretor da Agência de Comunicação da UFRN (Agecom), em artigo recém-publicado no livro Comunicação Pública, Cidadania e Informação. O trabalho foi originalmente apresentado no 2º Congresso Brasileiro de Comunicação Pública, Cidadania e Informação (II Compública), da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública), realizado em Natal.
Com o título de Sala de Ciência: a divulgação científica na universidade, o relato de experiência resume o trabalho de popularização da ciência após a inserção do projeto de extensão Sala de Ciência, em 2020, realizado pela equipe da Agecom, sob a coordenação de Paiva Rebouças. Implementado na UFRN para fortalecer a comunicação pública da ciência e criar uma cultura de popularização dos diversos estudos realizados, o Sala de Ciência envolve jornalistas, cientistas, gestores e estudantes de jornalismo. A ideia foi aumentar a presença de notícias científicas nos canais institucionais da universidade e capacitar estudantes para trabalhar com essa linguagem especializada.
Graco Aurélio Câmara, Pró-Reitor de Extensão da UFRN, parabeniza a iniciativa e toda a execução feita pela Agecom. “Esse projeto oferece uma oportunidade valiosa para ampliar a visibilidade da UFRN, destacando a relevância do que está sendo desenvolvido em diversos setores da universidade. Trata-se de uma divulgação de extrema importância, e espero que a iniciativa perdure e continue gerando impactos significativos na comunicação pública da ciência”, comenta.
Já Olivia Morais, Pró-reitora adjunta da Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq), expõe que o Sala de Ciência contribui para a divulgação científica, tecnológica e de inovação. Logo, os resultados da iniciativa fazem a UFRN avançar em ações de divulgação e popularização da ciência, bem como fomentar o impacto social em áreas como energia renovável, preservação ambiental, saúde pública e inclusão social.
O artigo publicado no livro, lançado em live pela ABCPública no último dia 10 de setembro, discute a importância da ciência no desenvolvimento social, destacando como ela estrutura o conhecimento e contribui para o avanço humano por meio da tecnologia e da inovação. Paiva apresenta o distanciamento entre o conhecimento científico e o público não especializado, o que dificulta a popularização da ciência. “Mesmo com o interesse dos brasileiros, muitos têm pouco acesso a esse tipo de conteúdo, devido à escassa divulgação pela imprensa e universidades”, afirma o jornalista.
As publicações de reportagens acompanhadas pelo Sala de Ciência entre 2020 e 2023 elevaram a visibilidade da ciência na instituição. O trabalho envolveu estudantes na produção de notícias, o que contribuiu para a especialização de futuros jornalistas de ciência. A divulgação, por meio do portal institucional (ufrn.br) e do boletim Especial UFRN – enviado por e-mail para a comunidade interna e externa –, gerou milhões de visualizações que mostram o interesse do público e o sucesso da iniciativa na disseminação do saber. Além da Agecom, o projeto recepcionou textos de outras unidades, com destaque para o trabalho da Agência de Inovação (Agir/UFRN), responsável por importantes matérias científicas focadas na concessão de patentes e inovação.
Ex-bolsista do Sala de Ciência, Kayllani Lima, hoje contratada do jornal Tribuna do Norte, reforça a importância de se construir uma ponte entre o repórter e a população para concretizar a popularização da ciência. “Lembro de ter escrito sobre diferentes pesquisas, muitas delas voltadas à saúde, e lembro do desafio que foi compreender os objetos de estudo, a partir da apuração, para colocar esse resultado em uma matéria. Acredito que, quando expomos o papel dos pesquisadores na busca de soluções para problemas que atingem a população, abrimos espaço para o diálogo e para o fortalecimento de políticas públicas voltadas à ciência”, completa a jornalista.
Marcelha Pereira, mestre em Estudos da Mídia com foco na Divulgação Científica, é outra estudante que passou pelo projeto. Segundo a jornalista, como um de seus maiores objetivos é entregar à população todo fato de interesse público, ela pôde vivenciar, com o Sala de Ciência, aquilo que considera ser o seu maior dever profissional. “A ciência é feita pensando no social, logo, deve chegar ao maior número de pessoas possível. Existem muitas formas de fazer isso acontecer, e fico feliz do jornalismo ser uma delas. A ciência, por muitas vezes, está enclausurada nas universidades e nos laboratórios; é nosso papel disseminá-la.”, finaliza Marcelha.
Na visão de Paiva Rebouças, essa popularização é fundamental para inserir a universidade em seu lugar social, ou seja, permitir que a sociedade, leiga ou especialista, saiba o que está acontecendo. Isso significa mediar o conhecimento de forma qualificada. “Quando a gente consegue escrever uma matéria jornalística científica que explica os avanços de determinada área, determinado laboratório ou grupo de pesquisa, oferecemos à sociedade o direito ao conhecimento do papel da universidade pública, uma entidade democrática e que é ancorada no ensino, na extensão e também na pesquisa”, reforça.
Mais visibilidade para a Universidade
A divulgação científica se torna mais do que uma simples comunicação; é um ato de generosidade, uma oportunidade de aproximar pessoas do conhecimento e, ao mesmo tempo, dar visibilidade ao trabalho dos pesquisadores. O artigo de Paiva mostra que a realização desse trabalho traz vantagens para a comunicação institucional da UFRN, pois aumentou a produção e difusão de notícias sobre ciência na página oficial, impactando também os demais canais de comunicação disponíveis, gerando um total de 299 reportagens aprofundadas sobre ciência desde 2020.
“Os números animadores mostram que a newsletter da Agecom, enviada aos e-mails dos inscritos no sistema da universidade, foi aberta 5,1 milhões de vezes desde 2020. Considerando que, desse total, as matérias de ciência representaram 82,5% de todas essas publicações, estimamos 4,2 milhões de visualizações desse conteúdo desde o ano-base, com uma média de 17,8 mil acessos por texto”, destaca o pesquisador em seu trabalho.
Pelo menos 22 estudantes foram qualificados pelo Sala de Ciência até 2023. Acompanhando de perto o empenho dos estudantes de jornalismo, Marcelha aponta que o projeto Sala de Ciência tem uma enorme responsabilidade na formação desses indivíduos, preparando-os para a prática do jornalismo científico. Além disso, desempenha um papel fundamental para o público ao divulgar o que está sendo pesquisado dentro da UFRN. “Fazer a ciência ultrapassar barreiras e chegar de forma democrática a quem não tem o privilégio de fazer parte da restrita comunidade científica é o grande desafio que o Sala de Ciência se propõe a enfrentar”, finaliza.
Paiva Rebouças explica que o livro é mais um passo nesse esforço coletivo de mostrar o trabalho da UFRN em relação à popularização científica. “Nosso trabalho foi aceito para esse livro por sua relevância, por mostrar que a universidade, mesmo sendo do interior do Brasil, tem a oportunidade de oferecer um caso de sucesso em relação ao seu trabalho”, conclui. O jornalista afirma que a redação desse trabalho é um resumo do esforço que tem sido feito nos últimos seis anos na universidade pela Agência de Comunicação. “Um relato de experiência para que a comunidade científica da comunicação saiba o que está acontecendo, sobretudo na comunicação pública”, acrescenta o jornalista.
Fonte: Agecom/UFRN