Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o sonho de estudar no exterior torna-se uma realidade palpável graças aos Acordos de Cooperação Internacional, responsáveis pelo estabelecimento de bases de colaboração mútua com Instituições de Ensino Superior (IES) de outros países. É por meio dessas parcerias que se desdobra um universo de oportunidades para a comunidade interna e externa, como ações de intercâmbio, mobilidade e estágio, pesquisa acadêmica e atuação conjunta para a realização de eventos.
Por meio da Secretaria de Relações Internacionais e Interinstitucionais (SRI) e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PPG), a UFRN mantém parcerias com pelo menos 146 universidades em 28 países. No âmbito da pós-graduação, 32 alunos viajaram para o exterior com apoio da universidade no ano passado, e 48 estão previstos para sair ainda neste ano. Atualmente, a UFRN conta com 66 estudantes internacionais regularmente matriculados e, desde o início do mês, recebeu 25 professores visitantes, que atuarão nos programas de pós-graduação em diversas áreas até o final de setembro.
No que diz respeito à mobilidade na graduação, conduzida pela SRI, a universidade mediou a mobilidade de 203 estudantes entre 2023 e 2024. Desses, 116 são estudantes estrangeiros que vieram para a UFRN, enquanto 73 estudantes saíram para outros países por meio de dois programas: o Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE) e o Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), ambos mantidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Ana Beatriz Freitas, do curso de Engenharia Civil, é uma das estudantes beneficiadas pela boa execução dessas cooperações. Atualmente, a aluna está na França, onde estuda na Université de Technologie de Compiègne (UTC). Foi por meio do programa Brasil-France Ingénieur Technologie (Brafitec) que se tornou claro que a mobilidade internacional era realmente uma possibilidade. Assim, quando surgiu uma chance, ela tentou a seleção e foi aceita.
A discente declara que está vivendo uma experiência transformadora e de muito impacto. “É algo que proporciona uma visão mais ampla sobre práticas profissionais: é possível enxergar como uma temática é tratada e verificar as diferentes abordagens em comparação ao seu país de origem. Pessoalmente, ainda existe a questão da adaptação a costumes e hábitos estrangeiros”, completa.
Evelyn Maia, formada em Engenharia Civil pela UFRN, também foi contemplada pelo Brafitec durante sua graduação. No decurso de sua estadia na França, estudou na École d’ingénieurs (EPF), local que lhe gerou inúmeros aprendizados e amizades que cultiva até hoje. Por mais que o impacto profissional tenha sido profundo, ela revela que sua evolução como pessoa foi ainda mais marcante. “Considero que cresci imensamente. Foi a primeira vez que saí de casa, morei em outro país e aprendi uma língua que nunca imaginei que iria falar. Foi um desafio muito grande, ainda maior do que a parte técnica”, pontua.
Atualmente, Evelyn trabalha com planejamento e gestão de obras. Ela estagiou internacionalmente por seis meses, oportunidade que a fez desenvolver habilidades essenciais para o exercício de sua função. “Eu trago muitas questões de normativas que aprendi na França e faço sempre um comparativo entre a norma brasileira e a francesa. No meu estágio, o fato de ter aprendido sobre planejamento foi uma das coisas que me influenciou a trabalhar nessa área.”
Outra estudante que realizou o tão almejado intercâmbio foi Letícia Araújo, ex-aluna do curso de jornalismo. Graças ao programa Erasmus, ficou por nove meses na Universidade de Bradford (Inglaterra), onde adquiriu saberes indispensáveis para sua formação pessoal e intelectual. A egressa relata ter passado por momentos incríveis e destaca que, se pudesse, viveria tudo novamente. “Consegui conviver e aprender com pessoas de diferentes culturas. Foi uma experiência muito boa e de muito crescimento, principalmente por sair da minha zona de conforto”, conta.
Hoje, Letícia é jornalista e exerce o cargo de editora e produtora assistente em uma emissora de televisão. Ela explica que a capacitação na Inglaterra, principalmente no que cabe ao manuseio de equipamentos e ao entendimento de questões mais técnicas, foi determinante para desempenhar a posição que agora detém.
Impactos da pesquisa internacional
Segundo estudo realizado por Maria Luiza de Santana Lombas, então analista sênior em Ciência e Tecnologia da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), as relações internacionais desempenham um papel-chave na economia global. De acordo com a autora, a intensificação dos estímulos para a inserção de pesquisadores em ambientes produtores de conhecimento de excelência acontece, principalmente, em consequência dos impactos provocados em âmbito científico e tecnológico, oriundos da internacionalização acadêmica.
Uma das grandes contribuintes da UFRN para a proposição e manutenção de tais relações é Maria das Graças Soares, professora do Departamento de Letras (DLET), responsável pelo início de vínculos acadêmicos extremamente prolíficos. Na Suíça, traduziu quatro livros para a Université de Lausanne, ao lado dos docentes Jean-Michel Adam e Ute Heidmann.
Na China, ela integrou um acordo geral com a Guangdong University of Foreign Studies (GDUFS), o qual foi renovado em 2022. Apresentou ainda, em Macau (região situada no oeste chinês), uma exposição acerca da UFRN direcionada aos discentes estrangeiros interessados em língua portuguesa. Outros países com os quais firmou relações são Dinamarca, Israel, Portugal, Espanha, França, Canadá e Romênia.
Outro professor também presente no processo de estabelecimento de colaborações estrangeiras é Reidson Pereira Gouvinhas, do Departamento de Engenharia de Produção (DEP). Ele atua no Brafitec, em especial com a École Nationale Supérieure d’Arts et Métiers (ENSAM) e a Université de Technologie de Troyes (UTT), instituições onde também foi professor convidado.
O pesquisador relata que o trabalho conjunto originou publicações de artigos e organizações de palestras com graduandos e pós-graduandos. No que concerne aos benefícios estudantis provocados pelo programa, ele enfatiza o aperfeiçoamento da língua francesa, a maturidade acadêmica e a competência técnica. “Além disso, a experiência de mundo obtida facilita a entrada no mercado de trabalho. O estudante passa a ter uma visão mais global, algo muito solicitado pelas empresas”, afirma.
Para Renata Archanjo, secretária de relações internacionais, essas participações são primordiais e cumprem um papel fundamental tanto para o avanço quanto para a visibilidade acadêmica da UFRN. “Hoje, nós temos um bom número de acordos vigentes que estão em bom funcionamento, com pesquisas e estudos sendo realizados. A cada assinatura, nós buscamos garantir que a atividade executada esteja sendo um trabalho de sucesso”, explica.
Lenise Santiago, responsável pelo setor de Acordos Internacionais da Secretaria de Relações Internacionais (SRI), também realça o caráter benéfico e esclarece a relevância das conexões globais para a política de internacionalização da Universidade. “Os acordos promovem o fortalecimento dos processos de intercâmbio de modo pacífico e produtivo, bem como veiculam e incentivam as ações de produção técnico-científica entre a UFRN e suas parcerias no âmbito de ensino, pesquisa, extensão, inovação e gestão”, declara.
Proposta e formalização
Para que um acordo seja efetivado, é necessário inicialmente que um professor de alguma das instituições envolvidas proponha um plano de trabalho, devendo apresentar obrigatoriamente o direcionamento e as implicações da colaboração. Concluída essa etapa, esse documento (chamado de minuta padrão) deverá ser encaminhado para a SRI, entidade responsável pela análise da documentação e realização das demais exigências burocráticas solicitadas.
Antes da formalização, ocorrem as tratativas de interesses comuns relacionadas ao tipo de acordo, bem como os ajustes da parceria e as atividades a serem executadas, que serão especificadas no Plano de Trabalho. Por fim, o representante máximo de cada universidade assina um documento que oficializa a cooperação (no caso da UFRN, o reitor).
Modalidades de acordos
Ao todo, são quatro tipos diferentes de classificação para estas ações. A mais abrangente é o Acordo Geral, classificado como uma ferramenta jurídica que objetiva o desenvolvimento de múltiplos exercícios acadêmicos, sem repasse financeiro. Outra categoria é a de Intercâmbio, que tem como finalidade o fomento das relações acadêmicas e científicas, além da promoção de habilidades técnicas e culturais. É destinado aos estudantes de graduação e pós-graduação, professores e servidores técnico-administrativos entre a UFRN e as universidades parceiras.
Há ainda a modalidade de Cooperação e Cotutela, voltada exclusivamente ao nível de doutorado. Por meio dela, um doutorando pode ter orientação conjunta de dois docentes oriundos de diferentes IES (uma brasileira e uma estrangeira). O aluno também tem direito, após a defesa de sua tese, a dois diplomas, concedidos pelas universidades participantes nesse tipo de acordo.
Por fim, existem os acordos para Ciência, Tecnologia e Inovação, que almejam a realização de atividades conjuntas de pesquisa em prol do fornecimento de produtos, processos e serviços inovadores, a transferência e a difusão de tecnologia, com ou sem transferência de recursos públicos, facultada a interveniência da Fundação de Apoio.
Cada uma dessas ações tem cinco anos como período máximo de vigência, com possibilidade de renovação.
Plano de gestão 2023–2027
Fomentar a pesquisa é um dos principais objetivos da UFRN. Nesse sentido, aumentar o número de acordos de cooperação internacional é uma das metas do Plano de Gestão do período 2023–2027, incluída no indicador 16. Estão previstos 60 para 2025 e 2026, respectivamente. Em 2027, a expectativa é que até maio haja a formalização de 30. No que se refere a 2024, já houve a formalização de 10 cooperações somente neste primeiro semestre, sendo que outros 30 já estão em trâmite. Até o final do ano, espera-se que 50 sejam formalizados.
De acordo com o reitor José Daniel Diniz Melo, as diretrizes para esse novo período reforçarão o compromisso institucional de avançar na qualidade acadêmica, na inclusão e na inovação. “Em busca do fortalecimento contínuo do valor público da instituição, o Plano foi estruturado com um Mapa Estratégico, que agrupa os desafios institucionais em três perspectivas inter-relacionadas — Sociedade, Desenvolvimento Acadêmico e Desenvolvimento Institucional —, compostas de objetivos estratégicos, mensurados por indicadores e metas”, completa.
Ainda segundo o reitor, as ações da gestão continuarão balizadas pelas lições dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados em 2015, por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. “Esses objetivos reafirmam, a cada dia, o compromisso com uma gestão pautada pela ética, pelos valores democráticos, pelo respeito à diversidade, pela defesa da pluralidade de ideias e da formação cidadã”, conclui.
Fonte: Agecom/UFRN