A educação abre caminhos e o esporte também tem o potencial de iluminar vidas. Assim, essas duas grandes áreas vão revezando a tocha que põe luz na história da humanidade. Na mesma perspectiva, ao dar destaque ao esporte em um contexto repleto de referências históricas, a cidade luz [Paris – França] realiza, nos próximos dias, os Jogos Olímpicos e os Jogos Paralímpicos. Aliando educação e esporte, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), projetos da instituição dão suporte a atletas que vão representar o RN e o Brasil, em um dos maiores espetáculos esportivos do mundo.
Nesta edição, em referência ao lema da Revolução Francesa, em busca de mais “liberdade, igualdade e fraternidade”, pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, o número de atletas homens e mulheres será idêntico. Além disso, é a primeira vez que a capital francesa receberá os Jogos Paralímpicos, que contará com a participação de atletas do Núcleo de Esportes para Pessoa com Deficiência (Neped) – projeto de extensão do Departamento de Educação Física da UFRN -, em parceria com o Centro de Referência do Comitê Paraolímpico.
Um desses atletas é Arthur Silva, que faz parte da seleção brasileira de judô desde 2011 e já participou de duas Paralimpíadas. “Desde que me entendo por gente já pratiquei todo tipo de atividade física. Fui perdendo a visão aos poucos, e em alguns esportes eu não conseguia mais praticar, até que recebi o convite de amigos para treinar judô. Fui, gostei e desenvolvi bem até aqui”, há 17 anos ele é judoca.
Para a edição de 2024 dos Jogos Paralímpicos, que contará com a participação de outra potiguar, Rosicleide de Andrade, Arthur promete brigar pela medalha de ouro. “O esporte é um estilo de vida, é minha fonte de sustento, meu trabalho e a minha maior ferramenta de inclusão social, para pessoas com deficiência, de baixa renda e de todas as instâncias de diversidade”, afirma.
Já no atletismo, a tricampeã mundial, Thalita Simplício, representará mais uma vez o país nas Paralimpíadas. “Ser atleta é um estilo de vida, que a gente abre mão de muita coisa para quem sabe ter uma medalha. Até chegar na final, tem muita coisa que a gente precisa passar na vida pessoal e profissional”, ela contou que sua rotina de treino ocorre de segunda a sábado, na pista da UFRN e do Caic-Lagoa Nova.
O seu treinador há 12 anos e atleta-guia, Felipe Veloso, que também é coordenador de Atletismo do Neped-UFRN, relatou que o trabalho é feito com atletas em três fases, que são a iniciação, a transição e o alto rendimento. Nessa última etapa, além de Thalita, estarão nas Paralimpíadas Efraim de Andrade, Maria Clara Augusto da Silva, Clara Daniele Barros da Silva e Daniel Tavares Martins. “Tem que ter muito manejo para lidar com os atletas, principalmente porque não é só uma questão física, há a questão emocional que impacta no desempenho”, fala sobre os principais desafios.
Conforme levantamento do Neped, o Rio Grande do Norte terá dois atletas nos Jogos Olímpicos, no futebol e no handebol. Já nos Jogos Paralímpicos, serão 12 atletas, além de dois atletas-guia, nas modalidades do atletismo, bocha, judô, halterofilismo, canoagem, goalball e natação.
Marathon Pour Tous
Uma outra novidade dos Jogos Olímpicos é a Marathon Pour Tous [Maratona para todos], onde corredores amadores poderão seguir o mesmo percurso dos atletas profissionais da Maratona Olímpica. “O objetivo do formato é permitir que o público ultrapasse seus limites e participe de um momento excepcional em que podem seguir os passos dos atletas olímpicos”, afirma o site do evento.
Vencendo a maratona da vida, a jornada da estudante da UFRN, Magna Costa, é marcada por surpresas, desafios e superações. Ela contou que, após passar por uma demissão, encontrou na UFRN uma maneira de transformar sua jornada profissional. “Na pandemia, eu resolvi fazer o Enem, para um curso chamado de bacharelado Interdisciplinar em Humanidades. Li sobre o curso, me identifiquei bastante e passei”, contou a aluna da primeira turma do bacharelado, que tem previsão de formatura para este ano.
Já no campo do esporte, a corredora amadora disse que sempre se manteve ativa nos exercícios físicos ou na participação da organização de eventos desportivos, a exemplo da Copa do Mundo de 2014, que teve Natal como uma das sedes dos jogos no Brasil. Contudo, em dezembro de 2023, foi quando retornou com mais dedicação para a corrida, após ser sorteada para participar da Marathon Pour Tous de Paris. “A maratona abriu oportunidade para amadores. Mas, para isso, eu teria que cumprir alguns desafios. O último teste foi em agosto de 2023, que foi correr 23km”, Magna explicou que essas atividades são registradas, por meio de um aplicativo, na plataforma dos Jogos Olímpicos.
Entre as aulas da graduação em Humanidades, além das de violoncelo na Escola de Música (EMUFRN), Magna começou a treinar para a maratona na pista da UFRN. Hoje ela tem a orientação de diversos profissionais, entre eles Marcos Gomes. “Estamos construindo uma periodização no treinamento, gradativamente, respeitando os limites”, o treinador reforçou que o foco é a saúde da corredora.
Atualmente, Marcos também é presidente da Federação de Atletismo do RN. Desse ponto de vista, ele considera que a abertura para a participação de amadores nos Jogos Olímpicos é uma oportunidade de dar destaque à modalidade. “A maratona é a ‘mãe’ das Olimpíadas, tanto que a prova fica no final dos jogos para fechar a festa esportiva”, opina.
“Tem potiguar aqui?”
A Marathon Pour Tous terá a participação de 20.024 corredores amadores de 110 países. Do Brasil, em torno de 130 pessoas foram selecionadas para participar, que criaram um grupo em um aplicativo de mensagens, no qual um dia surgiu a pergunta: tem potiguar aqui?
Para surpresa de Magna Costa, o emissor da questão foi o jornalista Ayrton Freire, que também havia sido sorteado para a prova. “Eu procurava diariamente brasileiros também selecionados e não encontrava. Até que um dia achei, e essa pessoa me adicionou a um grupo de WhatsApp. Já cheguei perguntando se tinha alguém do Rio Grande do Norte. E Magna respondeu! Marcamos de nos encontrar e hoje treinamos juntos e organizamos nossa ida a Paris juntos”, contou Ayrton.
Conciliando com a rotina de trabalho como jornalista, Ayrton considera que sua preparação para a prova tem sido levada a sério, semelhante a de um atleta olímpico, na medida do possível. “Esse ciclo me mostrou que podemos (como pessoa) arrumar tempo pra tudo o que a gente realmente quer fazer”, a rotina inclui cinco a seis treinos semanais de corrida, musculação e dieta.
Pouco tempo depois, Magna e Ayrton descobriram que o Rio Grande do Norte também teria a participação de outro representante. “No dia 24 de janeiro de 2024, recebi a notícia de que fui selecionado para correr os 10 km, o que foi uma surpresa incrível!”, recordou o empresário Juliano Araújo.
Enquanto realiza parte dos seus treinos na pista da UFRN, Juliano planeja participar da Marathon Pour Tous e, também, assistir às Olimpíadas com seu filho de seis anos de idade. Dessa forma, ele destacou que participará da prova representando a família, os amigos, o estado e o país, o que é “mágico e emocionante, mas também traz uma grande responsabilidade”.
Além do treinamento, visto que a preparação exige investimento em diversas áreas, o desafio dos sorteados potiguares para as Olimpíadas também é ter suporte para se deslocar e se hospedar na capital francesa durante o período da prova. “Eu não sou uma atleta profissional, mas a gente começou a ver as dificuldades que o atleta profissional tem”, Magna disse que a participação de amadores nos Jogos Olímpicos serve para conscientizar sobre o esforço e a dedicação dos atletas que vivem profissionalmente do esporte.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN