COP30 – O aquecimento global muda o funcionamento dos organismos, influencia onde as espécies vivem e altera ciclos naturais, afetando ecossistemas inteiros. O projeto de extensão Conservação de espécies florestais sob mudanças climáticas: abordagem multidisciplinar, vinculado à Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), analisa esse cenário, com foco nos biomas Caatinga e Mata Atlântica. A proposta do estudo é prever impactos ambientais ao combinar Modelos de Distribuição de Espécies (MDEs), dados genéticos e informações socioeconômicas.
Os MDEs são ferramentas computacionais que analisam a relação entre ocorrências conhecidas das espécies e variáveis ambientais, permitindo projetar como as mudanças climáticas podem alterar a distribuição geográfica. Os modelos identificam áreas que podem se tornar climaticamente inadequadas no futuro, bem como novas regiões potencialmente favoráveis.

O projeto da EAJ estuda espécies como carnaúba, jurema-preta, sucupira e orquídea Cattleya granulosa. É investigada ainda a diversidade genética, a concentração de gases do efeito estufa, as barreiras naturais que dificultam a distribuição das espécies e locais prioritários para conservação. Também são examinados os desdobramentos socioeconômicos e a produtividade do extrativismo vegetal. Os resultados subsidiarão o manejo e a conservação das populações naturais, além de fortalecer levantamentos para o Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais (PPGCFL/UFRN).
A coleta dos dados, o processamento de amostras e a análise genética já estão em andamento. Os resultados dos MDEs vão indicar se o ambiente é adequado para as espécies tanto no presente quanto no futuro. Isso será relacionado à diversidade genética das populações, ajudando a identificar áreas prioritárias para conservação e coleta de material genético.
Fábio Vieira, coordenador do projeto e professor na Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), conta que a pesquisa surgiu da necessidade em compreender os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade brasileira, especialmente nos biomas Mata Atlântica e Caatinga, ecossistemas ameaçados na região Nordeste. “Diante das projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas [IPCC], que indicam alterações significativas nos padrões climáticos, nosso estudo busca responder a uma questão crucial: como espécies florestais de importância ecológica e econômica – como a carnaúba, o umbuzeiro e orquídeas nativas – poderão ser afetadas por essas transformações ambientais?”, explica o pesquisador.

A proposta da extensão universitária integra quatro eixos fundamentais de análise. O primeiro é a modelagem espacial por meio dos Modelos de Distribuição de Espécies (MDEs) para projetar mudanças na adequabilidade ambiental. Logo após, vem a indicação de impactos potenciais das mudanças climáticas na distribuição de doenças florestais. Em seguida, ocorrem análises genômicas para avaliar a capacidade adaptativa das populações. Por último, há a parte dos estudos socioeconômicos, que buscam entender os efeitos nas comunidades que dependem do extrativismo dessas espécies. “Essa abordagem multidisciplinar nos permitirá desenvolver estratégias de conservação que considerem tanto a persistência ecológica quanto a sustentabilidade econômica desses recursos naturais”, comenta o docente.
De acordo com o especialista, as espécies florestais da Caatinga e da Mata Atlântica enfrentam desafios como alterações na distribuição geográfica e na adequabilidade ambiental. Possuem ainda uma maior vulnerabilidade a doenças e a possíveis declínios populacionais devido a mudanças fisiológicas e à redução de habitats adequados. “Além disso, a fragmentação dos ecossistemas e a pressão antrópica (impacto das atividades humanas) intensificam essas consequências, comprometendo a regeneração natural e a manutenção da biodiversidade. Espécies economicamente importantes, como o umbuzeiro (Spondias tuberosa) e a carnaúba (Copernicia prunifera), enfrentam desafios adicionais, pois a combinação das mudanças climáticas com a exploração extrativista pode comprometer a viabilidade populacional a longo prazo”, detalha.
A análise genética também contribui para a conservação das espécies pesquisadas. Segundo Fábio Vieira, o estudo dos genes revela a diversidade e a estrutura genética das populações naturais, fornecendo informações para a compreensão da capacidade adaptativa diante das mudanças climáticas e subsidiar estratégias de conservação. “Esses dados são fundamentais para a seleção de matrizes para coleta de germoplasma e o estabelecimento de estratégias de proteção”, relata.

Já os aspectos socioeconômicos permitem compreender a dependência humana desses seres, como no caso do extrativismo de produtos florestais. Isso possibilita a orientação de formulação de políticas públicas que conciliem cuidado ambiental e uso sustentável, especialmente para organismos economicamente relevantes, como a carnaúba e o umbuzeiro. “Analisaremos dados oficiais sobre extrativismo – produção e valor econômico – e indicadores, relacionando esses conteúdos com a adequabilidade ambiental. Isso permitirá inferir os impactos das mudanças climáticas nas comunidades extrativistas e nas indústrias que dependem desses recursos, orientando estratégias de manejo sustentável”, observa Fábio Vieira.
Além das espécies de alto valor econômico, como a carnaúba e o umbuzeiro, orquídeas como Cattleya granulosa e Cattleya labiata estão entre as mais ameaçadas, devido à coleta predatória e à destruição dos habitats naturais. A Cattleya granulosa, por exemplo, é a flor símbolo do estado do Rio Grande do Norte. Essas plantas, de modo geral, são bioindicadores sensíveis às mudanças ambientais e refletem rapidamente as alterações no clima e na qualidade de onde estão localizadas, tornando-se modelos importantes para estudos de impacto climático. Também incluída no estudo está a espécie Bowdichia virgilioides (sucupira), uma árvore que pode desempenhar um papel relevante na restauração florestal em cenários de mudança climática, considerando sua ampla distribuição geográfica.
Fábio Vieira explica que os resultados do estudo podem subsidiar a criação de unidades de conservação, planos de manejo adaptativo e estratégias de coleta de germoplasma. “Assim, a implementação de bancos de germoplasma e sementes em áreas críticas torna-se essencial para a conservação e o desenvolvimento de florestas plantadas produtivas. Essas iniciativas ajudam a reduzir a pressão sobre as populações naturais e garantem a sustentabilidade de recursos”, afirma.
Formação acadêmica
Estudantes participam das diversas etapas do projeto, incluindo a coleta de dados em campo; análises genéticas e de doenças das plantas (fitopatológicas); modelagem climática; e integração de dados socioeconômicos. Durante as atividades, desenvolvem competências em ecologia florestal, genética populacional e ferramentas estatísticas aplicadas à conservação. O professor Fábio Vieira explica que a extensão contribui para a formação de novos pesquisadores, que também atuam como “multiplicadores dos conhecimentos adquiridos”. “O projeto conta com a participação de alunos da graduação em Engenharia Florestal e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PPGCFL/UFRN), vinculado à EAJ, além de pós-doutorandos”, explana.

O projeto Conservação de espécies florestais sob mudanças climáticas: abordagem multidisciplinar conta com parcerias. Uma delas é com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), por meio do professor Richeliel Albert Rodrigues Silva. A iniciativa também despertou interesse internacional. Um exemplo é a colaboração com pesquisadores da Memorial University of Newfoundland(MUN-Canadá), focada no sequenciamento de DNA para estudos filogenômicos. O termo se refere às pesquisas que analisam a história evolutiva de espécies, neste caso mais específico, da carnaúba e da relação da planta com outras palmeiras do gênero.
Fábio Vieira conta que estão previstas atividades de extensão com comunidades locais e escolas. As programações tem o objetivo de promover a integração entre conhecimento científico e saberes tradicionais, fortalecendo ações de educação ambiental e conservação participativa. “Além disso, serão realizados eventos voltados para crianças, um público que vai vivenciar diretamente os efeitos das mudanças climáticas. Tudo isso inclui o desenvolvimento de materiais didáticos e atividades escolares voltadas à conscientização ambiental”, relata.
COP 30
O tema da pesquisa está ligado aos debates que serão realizados na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). O evento acontece entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025 em Belém, no Pará. Será a primeira vez que uma reunião da COP terá sede na região amazônica, um dos ecossistemas mais importantes do planeta para o equilíbrio climático global.

A primeira COP ocorreu em 1995, em Berlim, na Alemanha. Desde então, líderes mundiais, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil se reúnem anualmente para debater compromissos de redução de emissões de carbono e estratégias de financiamento para a transição ecológica.
A Conferência busca ampliar a conscientização sobre as mudanças climáticas e os eventos ambientais extremos, a partir da apresentação de pesquisas científicas e de relatos de comunidades afetadas por fenômenos intensificados pelas mudanças climáticas.
Fonte: Agecom/UFRN
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