A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) solicitou em dezembro o patenteamento de um dispositivo que reduz as emissões de gases de efeito estufa em processos industriais. A invenção, desenvolvida por Alcides de Oliveira Wanderley Neto, Dennys Correia da Silva, Maria Eduarda Mendes dos Santos, Jonathan Oliveira de Lemos e Paulo Henrique Alves de Azevêdo, propõe uma abordagem prática e sustentável para minimizar o impacto ambiental da indústria. O pedido de patente foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e reforça a busca por soluções tecnológicas para a transição energética e a redução da pegada de carbono na indústria.
A tecnologia é fruto da dissertação de mestrado de Azevêdo, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ), do Centro de Tecnologia (CT/UFRN). O pesquisador explica que o dispositivo pode ser aplicado em refinarias de petróleo para reduzir as emissões de gás carbônico (CO₂) na produção de combustíveis. Em plantas químicas, a tecnologia permite um controle mais eficiente das emissões geradas por reações industriais. No setor energético, a inovação pode ser usada em usinas termelétricas, facilitando a captura e o armazenamento de carbono.

A principal aplicação dessa formulação é na captura e controle de emissões de dióxido de carbono, especialmente em indústrias que operam em ambientes com presença de óleos e sais, como refinarias de petróleo, plataformas de exploração de gás e indústrias químicas”, destaca o orientador da pesquisa, Alcides de Oliveira Wanderley Neto. Ele identifica que o resultado é alcançado pois a formulação inovadora tem sua base de composição alicerçada em surfactantes aminados. Estes compostos apresentam uma cadeia carbônica, uma região hidrofóbica, que contribui para capturar o dióxido de carbono (CO₂) em condições desafiadoras, como ambientes oleosos e salinos, onde outras soluções existentes falham. “A inovação está na química única dessa formulação, que combina alta eficiência de captura com estabilidade em meios onde os métodos convencionais geralmente apresentam baixa eficácia”, salienta o professor do Instituto de Química.
Dennys Correia da Silva, co-orientador do estudo, pontua que, entre as facilidades que a descoberta científica traz, estão a compatibilidade com processos industriais existentes, a capacidade de reutilização da formulação e a redução no consumo energético necessário para capturar CO₂. “A importância dessa tecnologia reside em sua capacidade de abordar um dos desafios mais urgentes da atualidade: a mitigação das mudanças climáticas. O dióxido de carbono é um dos principais gases de efeito estufa, e sua emissão descontrolada contribui significativamente para o aquecimento global. Este dispositivo oferece uma alternativa viável para indústrias que enfrentam dificuldades na redução de suas emissões, permitindo a captura e o gerenciamento eficaz mesmo em condições adversas. Além disso, o dispositivo promove a adoção de práticas mais limpas, ajudando as empresas a atenderem às regulamentações ambientais e contribuírem para um futuro mais sustentável”, contextualiza o docente da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Coordenador do Laboratório de Tecnologia de Tensoativos e Processos de Separação (LTT/IQ/UFRN), local onde experimentos ocorreram, Alcides Wanderley destaca que o grupo atualmente explora novas aplicações para a formulação patenteada, investigando seu desempenho em diferentes cenários e ampliando seu potencial de utilização. “Por exemplo, estamos avaliando sua eficiência em processos de separação de outros gases e estudando sua viabilidade como parte de sistemas híbridos que combinem captura desse CO₂ com tecnologias de purificação de água e tratamento de efluentes. Esses estudos não só fortalecem a tecnologia original, como também podem gerar novas patentes e inovações derivadas, consolidando a relevância da pesquisa no contexto acadêmico e industrial”, acentua.
O Programa de Recursos Humanos da ANP PRH-ANP 26 foi o órgão financiador dessa pesquisa, indicativo da relevância de iniciativas semelhantes. Para o grupo de cientistas autores do pedido de depósito de patente, a ação demonstra a capacidade de transformar conhecimento teórico e experimental em soluções práticas para problemas reais. Para eles, o processo de patenteamento valoriza a pesquisa ao protegê-la como propriedade intelectual, garantindo que a inovação possa ser explorada comercialmente de forma ética e segura. “Além disso, reforça o papel das universidades e centros de pesquisa como motores da inovação, aproximando a academia da indústria. Para os pesquisadores, a patente é também um reconhecimento de excelência, destacando o impacto potencial de suas descobertas”, defende Dennys da Silva.

A invenção recebeu o nome de “Formulações à base de solução de tensoativo amina graxa etoxilada e óleo e seu uso para captura de CO₂” e, no momento, está em fase de avaliação do desenvolvimento de protótipos laboratoriais para testes em diversas condições experimentais. “A tecnologia encontra-se em estágio avançado de validação em laboratório, com resultados promissores quanto à eficiência e estabilidade da formulação. Atualmente, trabalhamos na possibilidade de transição para testes em escala piloto, que serão conduzidos em ambientes industriais simulados. Esse passo é essencial para ajustar a tecnologia às demandas práticas do mercado e demonstrar sua viabilidade em larga escala”, avalia Alcides Wandeley.
A UFRN mantém uma vitrine tecnológica com todos os pedidos de patentes e as concessões já realizadas, bem como, com os programas de computador que receberam registro do INPI. A lista contém mais de 700 ativos e está disponível para acesso e consulta no site da Agir. Dentro da Universidade, a Agência de Inovação (Agir) é a unidade responsável pela proteção e a gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador.
O procedimento para um inventor submeter sua descoberta para patentear tem início no próprio Sigaa, na aba Pesquisa, com a notificação de invenção. Após executar esse procedimento, os pesquisadores enviam os dados dos inventores e o texto da patente para o e-mail da Agência de Inovação. Os pormenores seguintes são também acompanhados pela equipe da Agência, bem como os pagamentos de taxas, que são realizados pela Universidade.
Imagens: Cícero Oliveira
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