Mudanças climáticas em Natal

Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) analisa como a cidade de Natal/RN e sua região metropolitana podem ser afetadas de maneira diferente pelas mudanças climáticas. O estudo está relacionado ao aquecimento do planeta causado pela emissão excessiva de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono.

Intitulado Justiça Climática no Contexto Urbano da Região Metropolitana de Natal, o projeto tem como coordenador o professor Francisco Castelhano, do Departamento de Geografia (DGE/UFRN), vinculado ao Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA/UFRN).

O estudo irá realizar um levantamento cartográfico que envolve a aplicação da técnica das Local Climate Zones (do inglês – Zonas Climáticas Locais). Por meio da metodologia, é possível constatar e mapear a relação entre mudanças climáticas e vulnerabilidade social. Com isso, serão feitas coletas de dados como temperatura, umidade relativa do ar e conforto térmico. Ao final, será possível debater questões da justiça climática e dos processos de mudanças ambientais em Natal e nas cidades que compõem a região metropolitana da capital potiguar.

Um dos sinais das extremas mudanças climáticas são as altas temperaturas – Foto: Fernando Frazão -Agência Brasil

O professor Francisco Castelhano, coordenador da iniciativa, conta que o projeto surgiu a partir de reflexões acerca da promoção da justiça ambiental. “É um conceito muito contemporâneo que está passando a ser discutido no campo das mudanças climáticas. Envolve a percepção de que determinados grupos da sociedade vão sofrer muito mais os impactos do aquecimento global do que outros mais privilegiados”, explica.

De acordo com o docente, outro ponto que motivou a análise foi a forma como Natal/RN cresce e se desenvolve de modo não planejado. “Alguns bairros apresentavam condições ambientais mais favoráveis, com parques, árvores arborizadas e vias largas. Já outros mostravam condições não tão ideais de desenvolvimento”, afirma.

O professor avalia que, diante da condição desigual, é possível que em certas localidades se formem fenômenos como as ilhas de calor. O termo designa áreas urbanas que podem apresentar temperaturas mais altas. Elas são causadas pela ação humana e pelo acúmulo de estruturas que absorvem e liberam calor lentamente. “São problemas relacionados à exclusão social da cidade”, completa.

As ondas de calor são impulsionadas pelo asfalto presente nas cidades. O material retém calor devido à capacidade de absorver a radiação solar – Foto: PMPB

 

Castelhano acredita que a questão é complexa, interdisciplinar e urgente. “A situação diz respeito às altas taxas de crescimento populacional; à constante luta contra desigualdade e segregação socioespacial; e aos acumulados e iminentes danos sofridos por extremos climáticos. Por isso, o mapeamento da vulnerabilidade social em municípios do Brasil tem apresentado a existência de diferentes realidades urbanas dentro de um mesmo território”, relata.

Etapa atual

O projeto foi contemplado pelo Edital nº 03/2024 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Atualmente, oito estudantes participam da iniciativa, entre graduação e pós. Cinco atuam por meio de iniciação científica. Outros dois desenvolvem trabalho de conclusão de curso e um mestrando fará a dissertação baseada no projeto.

Além disso, a ação é supervisionada por seis professores. Os vinculados à UFRN são Adriano Troleis, Max Anjos e o próprio Castelhano, todos do Departamento de Geografia; e Mariana Dias, do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA/UFRN). Os docentes externos que contribuem com a iniciativa são Ana Saraiva, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), e Antônio Lopes, da Universidade de Lisboa (ULisboa/Portugal).

Em janeiro de 2025, 14 termômetros foram instalados para monitorar o município de Extremoz, o Distrito Industrial de Macaíba e locais em Natal como: o Bosque dos Namorados, a Via Costeira, a Avenida Roberto Freire e a Vila de Ponta Negra. “Escolhemos, a critério de níveis de renda e raça, para captar tanto territórios com desigualdade social um pouco mais latente quanto bairros mais ricos. O método se estende à morfologia urbana”, explana Castelhano.

A previsão é que, em 12 meses, os resultados do monitoramento estejam prontos. A partir da finalização desta fase inicial, os pesquisadores coletarão os dados para gerar os modelos de aprendizagem de máquina, ou seja, algoritmos que analisem e identifiquem padrões. O passo final é estimar as localizações onde o estresse térmico é mais latente e observar se há alguma relação com a vulnerabilidade social da população.

Mudanças climáticas e a COP30

A pesquisa desenvolvida pela UFRN faz parte das iniciativas mundiais que estudam os impactos das alterações nos padrões do clima, como aumento da temperatura, secas, enchentes e eventos climáticos extremos.

As queimadas estão entre os principais fenômenos climáticos extremos – Foto: Daniel Beltra – Greenpeace

Um dos principais eventos que debaterá o tema em 2025 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará. Esta será a primeira vez que a reunião será realizada no Brasil e na região amazônica, um dos ecossistemas mais importantes do planeta para o equilíbrio climático global. O evento reunirá líderes mundiais, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil para debater compromissos de redução de emissões de carbono e estratégias de financiamento para a transição ecológica.

A Conferência busca ampliar a conscientização sobre as mudanças climáticas e os eventos ambientais extremos, a partir da apresentação de pesquisas científicas e de relatos de comunidades afetadas por fenômenos intensificados pelas mudanças climáticas.

Fonte: Agecom/UFRN 

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