O termo Mom Brain, ou cérebro de mãe, levanta a discussão das transformações que ocorrem com a mulher durante a gravidez e no pós-parto – fenômeno que pode causar mudanças no comportamento. De acordo com o neurologista do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol-UFRN/Ebserh), Clécio Godeiro, durante a gravidez, o cérebro passa por uma remodelação, com alterações estruturais, funcionais e neuroquímicas.
“Essas mudanças são ocasionadas por diversos fatores hormonais, genéticos, aspectos ambientais e, objetivamente, vêm com o intuito de preparar a mãe para a questão da maternidade. Estudos recentes demonstram que a gravidez pode levar até a uma redução temporária da substância cinzenta, que é o grupo de neurônios que fica no nosso córtex cerebral, em áreas específicas do nosso cérebro, como o córtex pré-frontal, e em regiões envolvidas no processamento social e emocional. Preparando o cérebro para a questão da maternidade”, explica o neurologista do Huol, Clécio Godeiro.
O profissional ainda avalia que a mudança é considerada um aspecto adaptativo de conexão entre a mãe e o bebê, detalhando o papel hormonal nessa fase. “A oxitocina talvez seja um dos mais importantes. Esse hormônio promove o vínculo afetivo, a conexão emocional entre a mãe e o bebê, além de provocar uma certa redução do estresse e aumentar a sensibilidade da mãe”, enfatiza.
O neurologista explica que os hormônios estrogênio e progesterona aumentam durante a gestação e influenciam na plasticidade cerebral, permitindo essas mudanças estruturais e funcionais no cérebro e o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e bebê. “Essa modulação hormonal promove a neuroplasticidade e prepara o corpo materno para os desafios físicos e emocionais durante a gestação”, afirma.
“Essas mudanças no córtex, no comportamento cerebral, levam a algumas alterações no comportamento da mãe, da mulher, como uma maior sensibilidade ao choro. Existem áreas como a amígdala, que é uma região envolvida no processamento de diversos aspectos emotivos, ela fica mais ativa durante a gestação, isso permite que a mãe identifique, responda mais rapidamente a qualquer sinal de mudança do bebê”, exemplifica.
De acordo com Clécio Godeiro, essas transformações não preparam apenas a mulher para cuidar do bebê, mas também causam implicações profundas na saúde mental materna. Em paralelo com o aumento dos níveis hormonais, a vulnerabilidade de algumas mulheres a desenvolver transtornos também aumenta, a exemplo da depressão pós-parto. O especialista enfatiza a importância do apoio emocional durante a gestação. “Cada vez que compreendemos esses mecanismos neuronais e hormonais, essas modificações na plasticidade cerebral da mulher durante a gestação, podemos promover intervenções mais adequadas, melhorar a saúde mental materno infantil e, consequentemente, o bem-estar da família”, pontua.
Mudanças de humor
De acordo com a psicóloga hospitalar da Maternidade Escola Januário Cicco (Mejc-UFRN/Ebserh) Fabiana Lima Silva, durante a gravidez, o corpo da mulher passa por uma série de mudanças físicas, além de alterações hormonais, que podem afetar o comportamento e o humor da mulher. “Há um aumento nos níveis hormonais que podem impactar o cérebro, favorecendo alterações que podem afetar a regulação emocional, além de gerar instabilidade emocional e dificuldades na vivência desse período. Portanto, é possível que algumas mulheres se mostrem mais sensíveis, fiquem irritadas, ansiosas, instáveis emocionalmente”, explica.
A psicóloga esclarece que após o parto há uma queda brusca desses hormônios, o que também pode favorecer o surgimento de sentimentos como tristeza, medo, incapacidade, inadequação, associado ao cansaço e expectativas existentes no puerpério. “Essas transformações no humor e no comportamento podem ser consideradas naturais, como parte desse processo, mas se intensas e permanentes, interferindo na vida e nas relações da mulher, é relevante buscar avaliação e acompanhamento profissional”, alerta.
De acordo com Fabiana Lima, há maneiras de controlar as mudanças emocionais durante a gravidez e no pós-parto, em favor do bem-estar da mãe e do bebê. “É muito importante que as gestantes e puérperas possam ter conhecimento sobre essas fases e compreender sobre o que estão vivendo, como também seus familiares e pessoas próximas. De modo que as gestantes e puérperas possam receber o apoio necessário, favorecendo que sejam compreendidas e auxiliadas e não criticadas ou exigidas”, avalia.
A psicóloga ainda alerta sobre a importância do cuidado integral com a saúde, das gestantes estarem atentas aos cuidados necessários a uma gestação saudável, adotando hábitos saudáveis de alimentação, sono e atividade física para uma melhor qualidade de vida.
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Fonte: Agecom/UFRN