Especialista fala sobre uso de telas e saúde mental

Vivemos em um mundo conectado, digitalmente falando. Só para se ter uma ideia, dados de uma pesquisa internacional apontam que brasileiros passam, em média, 9 horas e 13 minutos do dia navegando na internet. As informações são do Relatório Digital 2024: 5 billion social media users, produzido pelas empresas We Are Social e Meltwater, que têm atuação multinacional na produção de conteúdo para plataformas digitais. O uso excessivo de telas é um dos pontos de alerta levantados pela campanha Janeiro Branco, que trouxe para o debate, o tema O que fazer pela saúde mental agora e sempre?.

David Lima concluiu, recentemente, o curso de licenciatura em Letras, na modalidade a distância – Foto: Sedis/UFRN

Na rotina dos estudantes de graduação a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), faz-se necessário estar sempre atento ao Mandacaru Acadêmico – ambiente virtual de aprendizagem – usado pelos alunos para ter acesso aos conteúdos das disciplinas, a avisos importantes e a fóruns para discussões. David Lima concluiu, recentemente, o curso de licenciatura em Letras, na modalidade a distância, no Polo UAB/UFRN em Parnamirim/RN, e relembra como foi sua rotina de estudos.

“Geralmente, o horário da noite era o momento perfeito para estudar; sentado à mesa, com o notebook, eu dividia o tempo de estudo em ler o conteúdo do dia, anotações e assistir às videoaulas”, afirma, ao esclarecer que dedicava cerca de quatro horas a essa rotina. “Nos finais de semana, o tempo que eu passava conectado era um pouco maior; os horários da manhã e da tarde somavam em torno de seis horas e confesso que passar tanto tempo conectado me dava, às vezes, um cansaço mental”, finalizou.

Encontrar um equilíbrio pode evitar o surgimento de problemas de saúde que impactem o aprendizado e o comportamento dos estudantes. Nesse sentido, em 13 de janeiro de 2025, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou o projeto de lei que regulamenta a utilização de aparelhos eletrônicos portáteis, incluindo celulares, por estudantes nos estabelecimentos de ensino público e privado da educação básica, em todo o país. A expectativa é que a medida possa resguardar a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes, auxiliando na promoção de um ambiente escolar mais saudável e equilibrado.

Psicopedagoga Thalita Lima atuo durante 3 semestres como tutora da EaD/UFRN – Foto: Arquivo pessoal

De acordo com o que prevê a Lei nº 15.100/2025, é proibido o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante as aulas, recreios e intervalos, em todas as etapas da educação básica, mas essa proibição não se aplica quando ocorrer o uso pedagógico desses dispositivos. Para a psicopedagoga clínica, institucional e especialista em Educação Inclusiva, Thalita Lima, “a lei deixa claro que o uso desses aparelhos eletrônicos poderá acontecer de forma planejada, dentro das metodologias utilizadas pelo professor. Isso é importante, pois sabemos que as ferramentas de tecnologia vêm oportunizando, principalmente a alunos que precisam de adaptações no ensino, êxito na vida escolar”.

Ainda segundo a especialista, “a decisão chegou em um momento crucial, oportuno, pois o uso exacerbado e totalmente sem limites, principalmente de smartphones, está ligado diretamente às dificuldades não só de aprendizagem, mas à piora de quadro de transtornos do neurodesenvolvimento, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA), piorando comportamento social, afetando o emocional, principalmente na infância e na adolescência”, esclareceu. Ao avaliar o que pode ser feito no caso dos estudantes dos cursos superiores de educação a distância, a psicopedagoga, que já atuou como tutora presencial no Polo UAB/UFRN de Nova Cruz/RN, deixou algumas dicas.

“É importante que esse estudante tenha uma rotina organizada, com horários definidos — inclusive, para o momento de sentar-se à frente de uma tela para estudar — prezar e priorizar na rotina um instante para ter ‘tempo de qualidade’, ir à academia, dar uma caminhada na praça, socializar com família e amigos; estipular horários para acessar as aulas, revezar com leitura de livros físicos, artigos impressos, anotações no caderno; não necessariamente se deter ao que está exposto na tela”, complementou.

Saúde mental no Brasil e no mundo

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que os casos de depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia de covid-19. De acordo com um estudo epidemiológico, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Segundo a OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico.

“O uso desenfreado das telas é, sim, um fator ambiental muito forte para desencadeamento de problemas psicológicos, que também impactam diretamente na aprendizagem, principalmente na primeira infância e na adolescência, mas não é o único fator. Atualmente, temos um cenário de famílias disfuncionais, no qual, ao fim do dia, cada um está no seu quarto ou no seu espaço e ninguém sabe e nem se interessa pelo que o outro está fazendo, chamar para uma conversa ou sentar-se para de fato socializar”, concluiu a psicopedagoga.

Imagens: Divulgação 

Fonte: Agecom/UFRN

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