Olá, gente! Há tempos que a coluna Crônicas do meio-fio estava parada (praticamente todo o ano de 2024). E neste início de 2025, me vi metido em outros projetos tornando praticamente inviável continuar no mesmo ritmo que gostaria, escrevendo textos. Pensando nisso, convidei a amiga Victória Rincon que vai seguir o barco aqui na coluna; agora, com a sutileza e a sensibilidade, que são característica. que ganha facilmente o leitor.
William Eloi
Com criança não se discute
Eu nunca fui teimosa. Nunca fui de fazer birra, me jogar no chão, bater o pé dizendo que quero, puxar o cabelo da coleguinha, responder a professora. Podem checar meus antecedentes.
Quando eu tinha quatro anos, me perguntaram por que eu sorria tanto e eu disse que por ser feliz. Tempos depois, entendi a joia da resposta e zelei por ela: sorrio, porque sou feliz.
Minha criança, menina gordinha de olhos brilhantes, dizia que queria ser escritora. Mas você sabe… Escritor no Brasil… Não teve esperneio.
Daí em diante foi matemático: se gosta de exatas, engenharia; corpo humano é medicina; ler e escrever igual a direito. Mas criança dá a volta na gente e a minha é esperta, não convence no grito. Ela sorri pro que quer e fica difícil negar.
Nasci em Brasília, mas não sou de lá. Meu pai foi carioca, minha mãe é goiana, eu sou a caçula de três irmãos e o do meio mora a mais de dez mil pés. Viver e morrer teceu minha memória e ter nenhum ou vários lugares é comum para mim. A palavra vem para inventar, dar contorno e criar solo.
Rosa Montero escreveu que “personagens de ficção são marionetes do inconsciente”; Cascudo disse que “o homem é a cidade em que nasce” e Afonso Cruz afirma que “a ficção e a cultura constroem tudo o que somos”.
A escrita é meu brincar de bonecas na vida adulta, meu teatro de uma pessoa só, minhas viagens gratuitas e mapas de terrenos fantásticos. Tudo que escrevo é sobre mim e nada do que escrevo sou eu. É o encanto da arte: um espelho de infinitos reflexos. Venha se mirar.
Victória Rincon é uma talentosa escritora, jurista e poetisa que traz uma riqueza única de experiência e sensibilidade ao mundo das palavras. Com dois livros publicados na área jurídica e uma paixão ardente pela crônica e poesia, ela é uma figura multifacetada que deixa sua marca distintiva em tudo o que faz.
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