Ao acessar o grupo do curso de Letras Libras, Sankênnya Lara Moura, aluna do oitavo período, se deparou com uma grata surpresa: a notícia de que, pela primeira vez, o Trilhas Potiguares seria acessível em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ela entende isso como a oportunidade de colocar em prática a inclusão que tanto motiva sua formação como futura letróloga. Empolgada com a novidade, a aluna compartilha a alegria com a amiga Nayana Lariny de Morais, ela não é ouvinte, e também se voluntariou para o projeto. Sankênnya e Nayana foram algumas das mãos responsáveis por assegurar a missão de levar o conhecimento de forma plena à comunidade surda dos municípios.
O Trilhas Potiguares é o maior programa de extensão da UFRN, realizada pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da UFRN, cujo objetivo é identificar as realidades socioeconômicas, culturais e ambientais em pequenos municípios do Rio Grande do Norte, para desenvolver projetos sustentáveis. Neste ano, a temática abordada foi: Saberes em Movimento: Conexões Culturais e Desenvolvimento Social no RN. As atividades aconteceram entre os dias 10 e 13 de dezembro em nove municípios do Estado (Campo Redondo, Rio do Fogo, Afonso Bezerra, Poço Branco, Lagoa de Velhos, Riacho de Santana, Frutuoso Gomes, Serra Negra do Norte e Monte das Gameleiras). Neste ano, todos os grupos foram integrados por um intérprete ouvinte e um surdo do curso de Letras Libras (CCHLA/UFRN).
As alunas Sankênnya e Nayara ministraram a oficina “Comunicação Inclusiva: capacitação em Libras para Educadores e participantes da Comunidade Escolar” no município de Poço Branco. Para Sankênnya, as escolas são uma porta aberta para imbuir uma perspectiva inclusiva na sociedade. “Não sabíamos quantos surdos estariam catalogados e se há surdos ativos frequentando a escola, mas sabíamos que a inclusão começaria antes da acolhida; precisamos nos preparar para as necessidades futuras”, ela conta demonstrando certa emoção.
Débora Mello é estudante do oitavo período de Letras Libras e também fez parte da missão de levar inclusão para o município de Serra Negra do Norte/RN. Com o desafio de orientar uma cidade que não via a Libras como demanda, a aluna planejou uma oficina para ensinar sinais básicos, como cores, alfabeto, sinais de saudação e práticas de diálogo, a fim de preparar a comunidade para quando houver essa necessidade. “Conhecer a língua própria da comunidade surda, pensar sobre diversidade e comunicação com a pessoa surda promove o respeito e amplia as possibilidades de desenvolvimento dos alunos”, garante Débora.
Os alunos Rebeca Juliana da Silva e Marcus Vinícius de Araújo ficaram no município de Lagoa de Velhos, também com o objetivo de ensinar o básico de Libras para a comunidade. Na ótica de Rebeca, sensibilizar as pessoas sobre a importância da inclusão e da acessibilidade ajuda a construir espaços anticapacitistas. “É uma ferramenta de aprendizado e integração social; também abre portas para que as pessoas se conectem de maneira mais igualitária e respeitosa, independentemente da condição de surdez”, descreve.
As oficinas de Libras em Lagoa de Velhos foram realizadas no anexo para professores da escola rural. “A vinda de vocês aqui na nossa cidade foi muito importante, me sinto privilegiada. Precisamos desse apoio”, relata Ana Maria Gomes, professora da escola que assistiu a oficina.
A professora Gisele Oliveira foi quem orientou os 20 alunos oriúndos do curso de Letras Libras (10 ouvintes e 10 surdos) que levaram consigo a missão da acessibilidade. Para ela, a participação de pessoas surdas no Trilhas Potiguares tem um significado muito especial. “Eles estarão no protagonismo de ações sobre eles, como pelotão de frente na promoção de uma mudança social que começa pelo efetivo contato da sociedade com eles ocupando uma posição nova, não mais a de quem não tem o que dizer, mas a de divulgadores de conhecimento”, relata.
Todas as ações foram acessíveis ao público, a partir de metodologias pensadas para a acessibilidade de crianças e adultos surdos, segundo Gisele Oliveira. Na programação do Trilhas Potiguares foram ministradas mais de 30 oficinas focadas especificamente no ensino da Libras para a comunidade dos municípios.
Nas palavras do Pró Reitor de Extensão, Graco Aurélio Viana, a ação do Trilhas promove um ambiente de aprendizado mais diverso e inclusivo para todos os envolvidos. “Ao integrar a Libras às atividades de extensão, fortalecemos o compromisso da UFRN com a equidade, preparando nossos universitários para atuarem em uma sociedade que abraça as diferenças e reconhece o potencial de cada indivíduo”, declara.
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Locomotiva em 2019, cerca de 32% da comunidade surda no Brasil não possui nenhum grau de instrução educacional. Com o Trilhas Potiguares, a UFRN busca superar algumas das barreiras as quais ainda dificultam o acesso à educação para pessoas com deficiência, a nível local.
Essa iniciativa está alinhada aos objetivos estratégicos do Plano de Gestão 2023-2027, que prevê no indicador 13, entre outras ações, o fortalecimento de programas e cursos de extensão inovadores com impacto no desenvolvimento regional. Além disso, busca, conforme previsto no indicador 22, fortalecer e impulsionar as comissões permanentes de inclusão e acessibilidade.
Imagens: Cícero Oliveira
Fonte: Agecom/UFRN
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