Estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) busca entender como um medicamento (atomoxetina), usado para tratar o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), se comporta no corpo humano, analisando suas propriedades químicas e como é absorvido, distribuído, metabolizado e excretado. A pesquisa investiga, também, os possíveis efeitos tóxicos do medicamento usando métodos in silico – realizados por meio de simulação computacional. Os resultados ressaltam a necessidade de monitoramento rigoroso e de estudos adicionais para avaliar a segurança da atomoxetina em diferentes populações de pacientes.
O estudo publicado na conceituada revista brasileira na área de Psiquiatria Trends in Psychiatry and Psychotherapy, destaca que, historicamente, o tratamento do TDAH tem sido dominado por estimulantes como o metilfenidato e a lisdexanfetamina. Jonas Ivan, professor do Departamento de Biofísica e Farmacologia da UFRN (DBF), fala sobre como a introdução da atomoxetina no Brasil representa um marco no tratamento do TDAH: “este medicamento, não estimulante, é especialmente benéfico para pacientes com condições associadas, como tiques, ansiedade, distúrbios do sono e transtornos por uso de substâncias”.
Segundo o pesquisador, a atomoxetina surge como uma alternativa terapêutica com vantagens significativas para casos em que os estimulantes tradicionais podem não ser a melhor escolha. Na pesquisa, é ressaltada a importância de estudos mais aprofundados sobre como a atomoxetina age no corpo e seus possíveis efeitos colaterais, considerando sua recente introdução no Brasil e a escassez de dados sobre sua segurança a longo prazo. Jonas destaca a importância de uma avaliação rigorosa da segurança da atomoxetina no tratamento do TDAH, “isso pode levar a práticas clínicas mais seguras, promovendo a saúde e o bem-estar dos pacientes”.
O estudo aponta que a identificação de potenciais riscos toxicológicos contribui para a conscientização da comunidade científica e do público em geral sobre a necessidade de monitoramento contínuo e personalização das dosagens, fortalecendo a confiança na utilização de tratamentos farmacológicos para TDAH. Também é destacado que o uso de ferramentas computacionais pode ajudar a prever como a atomoxetina se comporta no organismo e orientar futuras pesquisas.
Na pesquisa, foi realizado um processo de otimização da geometria molecular utilizando técnicas clássicas e de química quântica, especificamente a Teoria do Funcional da Densidade (DFT), por meio do software Gaussian disponível no Núcleo de Processamento de Alto Desempenho (NPAD/UFRN). A análise do estudo incluiu a avaliação de 26 parâmetros físico-químicos, 16 regras de química medicinal e 129 parâmetros de toxicidade, proporcionando uma compreensão detalhada do perfil do fármaco que pode influenciar sua eficácia e segurança no tratamento do TDAH.
Segundo Jonas, a utilização de métodos in silico representa uma abordagem inovadora e eficiente para a triagem de medicamentos. Para o pesquisador, o estudo contribui para a área de farmacologia e toxicologia ao fornecer uma análise detalhada das propriedades ADMET (Absorção, Distribuição, Metabolismo, Excreção e Toxicidade) da atomoxetina, facilitando uma compreensão mais aprofundada de sua segurança e eficácia no tratamento do TDAH.
Jonas destaca que a Atomoxetina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em julho de 2023. “Nosso estudo veio destacar a necessidade de um acompanhamento pelos órgão regularizadores, afinal sempre existe a possibilidade de fármacos saírem do mercado após reações adversas/toxicológicas estatisticamente recorrentes na população”, acrescenta Jonas. Após essa aprovação, a realização de monitoramento pós-comercialização e análises de risco-benefício em populações diversas será essencial para assegurar a segurança a longo prazo do uso da atomoxetina no tratamento do TDAH no Brasil.
O próximo passo da pesquisa busca validar os futuros métodos in silicorealizados sobre a atomoxetina por meio de estudos experimentais mais robustos, incluindo análises in vitro e in vivo. Segundo Jonas, os pesquisadores estão em busca de instituições e laboratórios especializados que possam conduzir esses testes experimentais, sendo de fundamental importância para confirmar os riscos toxicológicos identificados, como a potencial hepatotoxicidade, cardiotoxicidade e outros efeitos adversos previstos no perfil da atomoxetina. Para ele, que também é coordenador de pesquisa do NPAD, o papel desempenhado pelo núcleo, ao fornecer o suporte computacional necessário para as análises de química quântica, é de extrema importância.
Imagens: Divulgação
Fonte: Agecom/UFRN
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