A Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb) dará continuidade, ao longo desta semana, às investigações sobre uma nova ocorrência de água servida na praia de Areia Preta, na zona Leste da capital potiguar. A área foi considerada imprópria para banho por mais de um ano, em razão do esgoto que era despejado na praia e que passou a ser chamado popularmente de língua negra. A reportagem esteve no local na manhã desta segunda-feira e identificou a presença de duas línguas-negras. O cenário, acompanhado de mau cheiro, incomoda os frequentadores. Alguns deles, evitam entrar na água.
A funcionária pública Renata Sabino, de 32 anos, conta que se sente bastante incomodada com a situação. Ela foi à praia na manhã da segunda, mas preferiu ficar somente na areia.
“Evito bastante vir para cá, justamente por conta desse histórico. O que é uma pena, porque é uma praia muito tranquila, mas para banho não dá. E isso é ruim para o turismo. Acho que as pessoas devem refletir bastante sobre isso, afinal, estamos em época de mudanças climáticas e é preciso proteger o meio ambiente. Eu, particularmente, não vou tomar banho. Vou só fazer uma leitura e pegar uma vitamina D. Para o banho, prefiro ir à Praia do Forte ou Santa Rita e Genipabu”, relata.
O operador de máquinas Bruno Etelvino, de 32 anos, veio de São Paulo para aproveitar as belezas da capital potiguar. Encantando com a cidade, ele se diz frustrado com as condições de Areia Preta.
“As praias daqui são lindas, é impossível compará-las às de São Paulo, mas infelizmente a gente se depara com situações como essa”, pontua o turista. Até falar com a reportagem, ele não tinha reparado na água escura que escorria para o mar e espalhava mau cheiro, e por isso, havia entrado no mar.
É algo muito ruim. Agora que soube do esgoto, eu procuraria outro lugar para tomar banho. Não dá para insistir em um local que não está apropriado”, falou o operador de máquinas. Já a garçonete Jade Ramos, de 28 anos, ainda estava em dúvida se entraria na água, mesmo ciente da situação.
“Confesso que estou bem receosa. Cheguei mais cedo aqui e ainda estou pensando se vou dar um mergulho. A questão é que isso é muito chato. A gente vem para a praia, quer ter uma segurança, mas esse esgoto nos causa preocupação, porque pode provocar contaminações”, aponta a garçonete.
De acordo com último boletim do programa Água Azul no domingo (13), a Praia de Areia Preta segue própria para o banho, mesmo com a água servida que segue para o mar. A classificação das condições de balneabilidade, segundo o Idema, órgão responsável pelo programa, é feita com base nas últimas quatro coletas semanais de uma região específica.
Desde o dia 17 de agosto, a área é considerada própria para banho. Até então, por 21 meses (de novembro de 2022 a agosto de 2024), a praia esteve contaminada e apresentava altos índices de coliformes fecais, como ocorreu na última semana de maio deste ano.
À ocasião, foram registrados índices de 92.000 coliformes por amostras de 100 ml de água, 92 vezes mais do que o limite aceitável pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que é de 1.000 coliformes por 100 mililitros. Uma vistoria feita pela Semurb em parceria com a Companhia de Águas e Esgoto do RN (Caern) em agosto detectou que um condomínio, um restaurante e um motel estavam lançando água de esgoto irregularmente na praia.
As equipes de fiscalização autuaram os três empreendimentos com multas que somadas chegavam a R$ 154,5 mil, além de obrigá-los a resolver o problema. Desta vez, de acordo com a Semurb, a situação de água servida foi identificada no dia 4 de outubro.
Segundo a fiscalização ambiental, a suspeita é de que a origem do problema esteja relacionada ao bairro de Mãe Luiza, o que levou a uma interrupção temporária do levantamento que estava sendo realizado na Avenida Sílvio Pedroza. A pasta não comentou o que estaria levando a esta suspeita. Procurada, a Caern também não comentou, alegando que as investigações estão a cargo da Semurb.
A Secretaria convocou uma reunião de urgência no último dia 8, com representantes da Caern e da Agência Reguladora de Saneamento Básico (Arsban) para intensificar as investigações sobre o caso. Na última sexta-feira (11), uma operação conjunta entre a Semurb e a Companhia de Águas foi realizada, mas sem que a origem do problema fosse detectada.
“Nossa equipe esteve no local, mas ainda não foi identificada a origem dessa descarga de esgoto na praia. É necessário verificar todo o sistema de drenagem e esgotamento. Garantimos que a investigação seguirá até que a origem seja encontrada”, disse o supervisor geral de fiscalização ambiental, Leonardo Almeida.
Crédito da Foto: Magnus Nascimento
Fonte: TRIBUNA DO NORTE