População de Natal prioriza transporte público e drenagem

Melhorias na infraestrutura do transporte público são necessárias, segundo a enquete - Foto: Magnus Nascimento

Iluminação, qualidade das vias e estradas, quantitativo do transporte público, drenagem eficiente e pavimentação de ruas ainda carroçáveis. Para os natalenses, essas devem ser as prioridades, nas áreas de Infraestrutura e mobilidade, do próximo gestor da Prefeitura de Natal, que irá administrar a cidade pelos próximos quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2025. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE foi às ruas para ouvir a população, a qual apontou quais as áreas que necessitam de melhorias e investimentos.

Para a recepcionista Cristina Vanessa, os alagamentos que ocorrem ao longo da cidade causam os principais transtornos para a população. Ela observa que, durante o período de chuvas, o bairro do Alecrim é um dos mais afetados pelo problema. “Infelizmente, a gente vê esse cenário quando chove. Eu espero que a próxima gestão tenha iniciativa e assim haja melhorias para a população”, afirma.

O estudante Luiz Ribeiro aponta a mobilidade e a drenagem como as principais questões – Foto: Magnus Nascimento

O estudante Luiz Ribeiro aponta a mobilidade e a drenagem como principais questões a serem visadas pela próxima gestão. Ele relata que, devido ao fluxo intenso de veículos e os transtornos de mobilidade, ele decidiu morar com uma colega de faculdade. “Eu divido um apartamento com a minha amiga aqui, mas também moro na zona Norte, justamente para poder evitar esse problema.

A maioria das pessoas também estudam aqui e trabalham aqui”, conta. A iluminação foi indicada por ele como um problema presente na cidade. “Eu volto da faculdade tarde da noite e sinto uma sensação de insegurança”, relata.

A dinâmica no trânsito natalense impacta a rotina da população. Auxiliar de cozinha e moradora da zona Norte, Eduarda da Silva aponta os engarrafamentos como um problema no seu cotidiano, e afirma que precisa sair de sua casa ainda durante a madrugada para chegar no local de trabalho, localizado na zona Sul, em um horário apropriado. “Isso prejudica muito os trabalhadores no trajeto, seja na ida ou na volta. Eu chego a ficar, em média 40 minutos na estrada”, disse.

Eduarda da Silva relata ainda que a falta de iluminação também é uma realidade, e traz preocupação, principalmente, no momento em que sai de casa. “Quando eu saio para trabalhar, ainda está muito escuro. Meu bairro não é tão perigoso, mas na hora em que eu saio, está bem esquisito. Já tomei vários sustos”, explica.

A cozinheira Lizoneide Ferreira elenca como prioridade a revitalização das ruas e avenidas na capital potiguar. “Eu vejo que falta um maior cuidado com as estradas e ruas de Natal. Estão muito acidentadas”, indica.

Usuário frequente das vias natalenses, o motorista de ônibus Arimateia Rodrigues também acredita que falta investimento em ruas de localidades como o Conjunto Leningrado, localizado na zona Oeste da capital. “Muitas ruas ainda são carroçáveis por lá. No papel há a informação que muitas delas já foram asfaltadas. Mas na realidade, não foram”, disse.

Outra problemática da mobilidade envolve o transporte público. Para o estudante Elton Victor, as falhas na mobilidade da zona Norte incomodam os usuários da malha viária, bem como os pedestres que transitam por estradas de areia. Mas, para além disso, a ausência de transportes entre bairros mais distantes da região é uma questão a ser sanada.

“Se for pegar de um extremo ao outro da zona Norte, ou você tem que ir a pé ou pedir um Uber pra isso. Há também estradas que estão abandonadas, o que torna passar por lá um caos. Seja de bicicleta, automóvel ou a pé”, conta.

O estudante relata ainda que, devido a esta situação, possui dificuldades para visitar parentes. “Tenho a casa de tias, que mal consigo visitar devido a mobilidade, porque não há transporte público da minha casa para lá. Sai mais em conta ir à pé do que pegar três, dois ônibus”, relatou.

Ações necessárias

Na visão do arquiteto e urbanista, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Walter Pedro, os problemas apontados pela população exigem intervenções. Quanto a iluminação, ele explica que o poder público iniciou um processo de trocas das lâmpadas antigas para LEDs, mas salienta que a ação precisa de maior celeridade.

“Natal está precisando dessa mudança de potência (das lâmpadas). Principalmente para garantir a segurança do pedestre comum, do estudante e qualquer outra pessoa. Isso contribui no deslocamento”, avalia.

Ponto que gera reclamação para muitos, a incidência do transporte público na capital foi abordada por Walter Pedro. Em sua análise, ele explicou que, de acordo com os critérios de medição usados por Natal, a capital tem uma cobertura de 92% da presença de ônibus, indicando que a localização das pessoas está a uma distância razoável dos transporte público.

Ele aponta que a tecnologia pode auxiliar como uma ferramenta de maior comodidade, e que diminua o tempo de exposição nos pontos de embarque. “A gente possui um problema com relação a frequência e horários. O que a gente acredita é que, além de maior oferta em algumas linhas de ônibus para diminuir o tempo de espera nas paradas, o que se precisa é de informação.

A população precisa de um aplicativo robusto de informação para ter garantias de que o ônibus vai passar quando deve passar. Não se admite que ela fique em uma passagem exposto, esperando entre 30 e 40 minutos, quando ela deveria saber o horário do ônibus passar”, explica. Ele analisa ainda que a extensão do corredor exclusivo para o transporte público é uma maneira de dar maior agilidade para a população que depende deste serviço.

Para a melhoria do fluxo de veículos na capital, Walter Pedro indica que o uso de semáforos adaptativos, embutidos com tecnologia para regular o tempo para cada sinal conforme os horários de pico em cada local, é uma alternativa mais econômica, ao invés da criação de viadutos ou outros equipamentos viários. “Nós temos uma malha de circulação viária em vários corredores que permitem uma implantação. Eles priorizariam mais um lado ou outro conforme o corredor”, diz.

Para além da mobilidade e infraestrutura, a pavimentação de ruas passa pela questão ambiental, o arquiteto e urbanista explicou que os asfaltamento de todo o município não seria uma medida sustentável, pois o piche, matéria usada no processo, poderia contribuir para o aquecimento da cidade. O uso de paralelepípedos e do piso intertravado surgem como opções acessíveis para promover maior infraestrutura com responsabilidade. “O piso intertravado absorve o calor e permite a filtração de água. O assentamento dele é bom, então favorece o fluxo de veículos e diminui a trepidação”, diz.

Atrelado a deficiência da pavimentação em localidades de Natal, o urbanista avalia que a má drenagem percebida pela população na cidade está relacionada também com a falta de manutenção e roubo de bombas de absorção em lagoas de captação. “Infelizmente, a cidade precisa de maior vigilância para evitar isso. Só a câmera de monitoramento não é suficiente”, diz.

Como exemplo positivo, ele cita que obras de drenagem como a do Largo do Atheneu (realizado a fim de recuperar o sistema de drenagem das Rocas e Ribeira) podem contribuir para mudar este cenário.

Licitação

Questionado sobre qual a importância da implementação da licitação para o transporte público na próxima gestão, o arquiteto e urbanista salienta que o benefício seria jurídico, pois um contrato deveres e obrigações que garantem a disponibilização do serviço. “Há dois anos atrás, a Justiça estava obrigando a Prefeitura a fazer as empresas operarem e as empresas não operaram porque tinham um contrato com a Prefeitura. O acordo entre as partes não tinha uma obrigação uma para com a outra”, diz.

O possível acordo, porém, irá exigir atenção aos detalhes. Walter Pedro afirmou ainda que os termos do contrato devem visar quantas pessoas serão beneficiadas e quanto será necessário para manter a qualidade do serviço.

”Se você aumenta a qualidade desse ônibus com ar-condicionado, piso baixo, etc., o custo aumenta. E hoje, quem paga exclusivamente, é o passageiro. Não existe gratuidade para o0 sistema. O sistema é pago e alguém paga. Há a impressão que alguns usam sem pagar (no caso de idosos), mas esses usam porque há alguém pagando pór eles”, projeta.

Crédito das Fotos: Magnus Nascimento

Fonte: TRIBUNA DO NORTE

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