De repente, menos dor

A invenção de um dispositivo que permite cirurgias mais seguras e com menor trauma para os pacientes. Trata-se de um equipamento que proporciona melhor ergonomia para o cirurgião, mesmo através de incisões menores e em condições de reconhecida dificuldade técnica, como as observadas em pacientes obesos. O produto foi desenvolvido pelo cientista José Luiz de Souza Neto e recebeu a concessão da carta-patente na última terça-feira, 3.

O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) afirma que conseguiu desenvolver o novo instrumento cirúrgico a partir de um trabalho meticuloso de observação, revisão de anterioridades e testes simulados. “Essa tecnologia tem, em sua essência, a finalidade de permitir o afastamento eficaz e gentil dos tecidos, visando possibilitar certos procedimentos, sobretudo os que requerem menores incisões ou em situações técnicas menos favoráveis, como em um paciente obeso”, afirma José Luiz.

A invenção é composta de três regiões: corpo, colo e cabeça 

O pesquisador explica que os instrumentos usualmente utilizados para esse fim são, em sua maior parte, centenários. Entretanto, esses dispositivos existentes possuem eficiência limitada, especialmente em pacientes obesos, sendo muitas vezes necessário reposicioná-los constantemente, realizar tração excessiva dos tecidos e fazer incisões maiores. A conjunção dessas situações provoca traumatismos indesejáveis aos pacientes, já que quanto maior a tração e lesão tecidual, maior a inflamação e a dor no pós-operatório. Assim, o desenvolvimento de um novo equipamento, como o patenteado, representa uma atualização em um contexto onde, cada vez mais, os procedimentos são realizados com incisões menores.

“Incisões maiores também estão associadas a mais sofrimento no pós-operatório e são responsáveis por cicatrizes maiores. Outro aspecto a ser destacado é a ergonomia para o cirurgião, pois o equipamento permite uma exposição eficaz dos tecidos com menor esforço manual e maior conforto. Uma visualização adequada dos tecidos é fundamental para a execução segura de uma cirurgia”, destaca o cientista.

Patentear e linha de pesquisa: pensando fora da caixa

Com quatro depósitos de patentes realizados pela UFRN, esta é a terceira concessão (clique aqui para saber sobre o “Dispositivo ajustável ao corpo e personalizável para treinamento em manejo de feridas”, e clique aqui para saber sobre o “Dispositivo ajustável ao corpo para treinamento de acessos vasculares”) de José Luiz de Souza Neto. O pedido de patente desta tecnologia ocorreu em 2017, sob o nome de “Afastador cirúrgico modificado”, sendo o primeiro nessa linha de novos instrumentais cirúrgicos.

Com 75% de patentes concedidas, Jose Luiz tem alto índice de sucesso

Embora considere o movimento ainda relativamente novo, o inventor defende que a proteção industrial das boas ideias criadas dentro da Universidade deve ser valorizada. “Percebo uma preocupação crescente no meio acadêmico nesse sentido, sobretudo porque, se não formos capazes de valorizar nossas próprias soluções, continuaremos perdendo oportunidades de produzir conhecimento, desenvolvimento científico e até mesmo econômico. O papel da Agência de Inovação tem sido crucial no fomento de uma cultura de valorização da inovação e do processo de patenteamento”, pontua o professor do Departamento de Medicina.

Outro ponto defendido pelo docente é que essa patente pode abrir caminho para uma linha de pesquisa voltada à criação de novos dispositivos dedicados à área cirúrgica. Ele acredita que a iniciativa pode também estimular os cirurgiões a pensarem “fora da caixa” e buscarem alternativas para termos cirurgias mais seguras. “Creio que cada patente que nasce na UFRN demonstra que somos uma academia criativa e que se esforça constantemente para produzir soluções relevantes para o bem de nosso povo, do nosso estado e de nosso país”, afirma José Luiz. Ao falar dos desafios envolvidos no processo de patentear, o cientista enumerou várias ações realizadas durante a concepção e posterior materialização da ideia, mesclando emoção e satisfação.

“Posso garantir que o desenvolvimento consumiu muito tempo pessoal, esforço e dedicação. Até os desenhos da patente fui eu que fiz, o que gerou ainda mais economia no processo, e todo o projeto não exigiu mais financiamento do que meu próprio salário, uma caneta e algumas folhas de papel. Mas digo que valeu o esforço e que é possível fazer muito com pouco. A inovação pode ser algo simples e nem sempre exige investimentos milionários. Sempre digo que o povo brasileiro é muito criativo, somos capazes de muito, mas muitas vezes não acreditamos em nossas capacidades e não protegemos nossas boas ideias. No momento em que entendermos a importância de acreditar em nossa capacidade de encontrar soluções e proteger nossas boas ideias, criando uma cultura de inovação, transformaremos o Brasil em um grande celeiro de pensadores, oportunidades, desenvolvimento e riqueza. Para que tudo isso aconteça, não há outro caminho: precisamos parar um pouco, encontrar tempo, pensar muito e agir”, finaliza.

Imagens: Cícero Oliveira

Fonte: Agecom/UFRN 

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