No contexto do Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização da prevenção ao suicídio, uma pesquisa aceita para publicação na revista científica Plos One (cujo os dados estão disponíveis no repositório Zenodo) traz informações detalhadas sobre os métodos e os fatores relacionados ao suicídio de mulheres no Brasil, desde 1980. O estudo foi realizado pelo grupo de pesquisa Lexis da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ESNP/FIOCRUZ), sob coordenação de Raphael Mendonça Guimarães e Karina Cardoso Meira do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPgDem/UFRN). Além de expor o cenário preocupante, propõe caminhos essenciais para a promoção da saúde mental e a prevenção.
A análise, que se baseia nos registros de óbito do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DataSUS), revela um panorama alarmante, mas transformável por meio de estratégias bem direcionadas. Entre 1980 e 2019, o país registrou 49.997 suicídios de mulheres, com destaque para métodos como enforcamento e sufocamento. Mais do que revelar números, o trabalho busca compreender os fatores subjacentes que intensificam essa realidade e, sobretudo, como é possível mitigar o problema.
Fatores como desigualdade de gênero, instabilidade no mercado de trabalho e acúmulo de responsabilidades familiares afetam principalmente mulheres entre 15 e 49 anos, aumentando a vulnerabilidade desse grupo. No caso das mais idosas, o isolamento social e o abandono familiar surgem como fatores de risco predominantes. Enquanto o enforcamento aparece como o método mais comum, observa-se uma redução no uso de armas de fogo e auto-intoxicação, especialmente entre as mais jovens, o que reflete as transformações sociais e econômicas ao longo do tempo.
Uma contribuição importante do estudo está na ênfase à necessidade de políticas públicas regionalizadas, adaptadas às realidades socioeconômicas e culturais do Brasil. O Sul, por exemplo, apresenta as taxas mais altas de suicídio, enquanto regiões como o Norte e Nordeste sofrem com redes de apoio psicossocial frágeis. Em locais onde a auto-intoxicação é prevalente entre jovens, como no Norte e Centro-Oeste, torna-se imprescindível a implementação de programas específicos de prevenção. Já para mulheres mais velhas, um olhar cuidadoso sobre as questões emocionais e um suporte psicológico adequado são vitais.
Embora o suicídio seja uma questão complexa, há soluções viáveis e efetivas. O fortalecimento das redes de atenção à saúde mental, a ampliação da infraestrutura de apoio e a promoção de campanhas de conscientização, como a do Setembro Amarelo, são passos fundamentais para transformar essa realidade. A campanha de 2024, com o lema Se precisar, peça ajuda!, destaca a importância do apoio e do cuidado com a vida em todas as fases.
Em última análise, a pesquisa revela que, apesar dos números alarmantes, existe a possibilidade real de prevenir o suicídio entre mulheres no Brasil, desde que as políticas públicas sejam ajustadas às particularidades regionais, demográficas e raciais. Isso é crucial para garantir que cada mulher receba o suporte necessário para enfrentar desafios com dignidade e apoio adequado.
Além de Raphael Mendonça e Karina Cardoso, participam do trabalho os pesquisadores Eder Samuel Oliveira Dantas do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/UFRN); Taynãna César Simões do Instituto de Pesquisa René Rachou (IPRR/FIOCRUZ de Minas Gerais); Rafael Tavares Jomar do Instituto Nacional de Câncer (INCA); e Glauber Weder Santos Silva do Hospital Giselda Trigueiro, da Secretaria de Saúde Pública do RN (SESAP/RN).
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Fonte: Agecom/UFRN