Originário do Oceano Indo-Pacífico, o Peixe-leão é carnívoro e se alimenta de peixes e invertebrados. O animal foi avistado pela primeira vez na América do Norte em 1985. Na última década, começou a avançar em direção à costa sul-americana. A situação preocupa especialistas, pois o predador tem um impacto negativo em ecossistemas não nativos. É o caso de Liana Mendes, professora do Departamento de Ecologia (Decol), vinculado ao Centro de Biociências (CB/UFRN), que foi uma das palestrantes na Semana do Peixe-Leão em Fernando de Noronha.
O evento, organizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), teve como objetivo discutir formas de manejo e mitigação dos impactos do peixe-leão no arquipélago insular de Fernando de Noronha. Durante a palestra, a docente da UFRN falou sobre a espécie ser mais encontrada em áreas de proteção integral onde o manejo é restrito. Ela destacou, também, que é necessário ter um monitoramento contínuo dessas regiões a partir de uma abordagem participativa entre órgãos públicos e sociedade civil.
Liana coordena alguns projetos de pesquisa em Fernando de Noronha e, atualmente, orienta Ariston Pereira, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGECO/UFRN). Um dos temas de estudo do discente é a dieta do Peixe-leão na ilha. A professora conta que ela e o orientando já estariam no Arquipélago neste mês de agosto, o que possibilitou, após alinhar com o ICMBio, a participação deles no evento.
Nos anos de 2017 e 2018, a professora realizou o pós-doutorado na Universidad de Costa Rica (UCR). Lá, a docente avaliou os recifes caribenhos, onde a espécie tem a população estabelecida há mais de 15 anos. Desde 2020, o Peixe-leão tem aparecido com frequência nos recifes de Fernando de Noronha. Liana, então, percebeu a necessidade de elaborar um projeto na ilha que ajudasse na compreensão dessa ocupação indesejável, bem como desdobramentos negativos.
A professora destaca que eventos como esse auxiliam na divulgação do problema ambiental relacionado ao Peixe-leão. Por meio de palestras, capacitação e treinamento, os participantes tiveram a oportunidade de entender mais sobre os perigos que ele representa e como lidar com a situação. “A espécie chega a comer mais de 20 peixes por hora e se reproduz liberando milhares de ovos várias vezes ao ano. No Atlântico, potenciais predadores como tubarões, meros, garoupas, moreias e polvos ainda não o reconhecem como item alimentar. Ou seja, estão confortáveis em nossos recifes cheios de comida e sem predadores naturais”, comenta.
O Peixe-leão ocupa o espaço de animais nativos, além de dizimar espécies de peixes e invertebrados, como os crustáceos, que são organismos cruciais para manter o ecossistema saudável. Em relação às estratégias de manejo para impedir o seu avanço na costa sul-americana, a professora conta que uma possibilidade é a realização de campeonatos de captura envolvendo a espécie, aliada ao estabelecimento de programas de educação ambiental alertando a sociedade para o risco do Peixe-Leão.
Outra possibilidade seria transformar o peixe invasor em um atrativo rentável, já que a carne do animal é apreciada na culinária e a pele pode ser utilizada na confecção de carteiras. Há ainda a expectativa de que, com o passar do tempo, os potenciais predadores comecem a se alimentar da espécie, havendo então um controle natural.
Imagens: Reprodução/Liana Mendes
Fonte: Agecom/UFRN