Menos corrosão, mais proteção – “Capa” para recobrimento de metais é nova tecnologia desenvolvida na UFRN

Uma nova tecnologia de recobrimento para superfícies metálicas, capaz de melhorar características como resistência à corrosão e brilho, teve seu pedido de proteção industrial registrado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no dia 5 de agosto. Sob o nome “Processo para eletrodeposição de zinco, em meio alcalino e isento de cianeto, utilizando glicerol residual como aditivo e produto obtido por este processo”, a invenção é assinada pelos cientistas Karen Giovanna Duarte Magalhães, Jussara Câmara Cardozo, Carlos Alberto Martínez Huitle e Elisama Vieira dos Santos, vinculados aos programas de Pós-Graduação em Química e em Engenharia Química.

A orientadora da pesquisa, Elisama dos Santos, destaca que o processo é realizado sem o uso de cianeto, uma substância tóxica e cancerígena, substituída por um resíduo proveniente da lavagem do biodiesel. Ela ressalta que o nível de maturidade tecnológica do processo é elevado, entre seis e sete, o que possibilita sua aplicação em escala comercial, além de ser uma alternativa sustentável.

Elisama contextualiza que, até a década de 1970, a maioria dos processos de eletrodeposição de zinco utilizava banhos à base de cianetos. No entanto, com o aumento das exigências e regulamentações ambientais, surgiu a necessidade de buscar alternativas que reduzissem os impactos desses banhos, preservando as propriedades das camadas de zinco depositadas. A transição para soluções menos nocivas ao meio ambiente levou ao estudo e desenvolvimento de técnicas e formulações de banhos eletrolíticos isentos de cianeto. Na elaboração do produto, que resultou na patente, o grupo de cientistas utilizou glicerol—subproduto da síntese de biodiesel—como aditivo no processo de eletrodeposição de zinco em meio alcalino.

Pesquisadores durante interação em laboratório

“As principais vantagens deste processo são a composição sustentável com o uso do resíduo da lavagem de biodiesel, o baixo custo e a excelente estabilidade. Atualmente, a indústria utiliza agentes tóxicos, como o cianeto, na eletrodeposição de metais, o que traz riscos significativos à saúde e ao meio ambiente. Nesse contexto, utilizar um resíduo que gera impactos ambientais e custos elevados em seu tratamento confere a esta invenção uma abordagem alinhada ao conceito emergente de economia circular, com um impacto social positivo”, destaca a professora da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT).

Karen Magalhães, mestranda na UFRN que participou do desenvolvimento experimental do invento, salienta que o produto obtido melhora o nivelamento da espessura do recobrimento, bem como a distribuição uniforme do filme metálico. Ela enumera as principais aplicações do processo de recobrimento, que incluem setores como automotivo (peças estruturais e de acabamento, parafusos, porcas, molas), construção civil (portões, grades, telhas, estruturas metálicas, tubulações), eletroeletrônica (gabinetes, carcaças, componentes internos), naval (cascos de navios, plataformas marítimas, hélices), petroquímico (tubulações, válvulas, bombas, tanques), têxtil (aviamentos, teares, máquinas, ferramentas) e agronegócio (implementos agrícolas, máquinas, ferramentas), além de seu uso por consumidores finais para proteger peças e ferramentas.

Ciência de ponta

A Notificação de Invenção é o primeiro passo para se obter uma marca, patente ou registro de software de um invento. O procedimento é realizado pelos pesquisadores no próprio Sigaa, na aba de pesquisa. Após a comunicação, uma equipe da Agência de Inovação (Agir) entra em contato para dar suporte nos passos seguintes.

Grupo já teve patente concedida recentemente

Com uma concessão recentemente alcançada (“Do carbono e da cortiça, novos sensores”), parte do grupo já conhece bem o processo de patenteamento e os benefícios que ele traz. “Produtos inovadores abrem novas possibilidades para criar ciência de ponta, além de promover uma maior proximidade entre os pesquisadores e as empresas. Especificamente, o Laboratório de Eletroquímica Ambiental e Aplicada, junto com o Grupo de Energias Renováveis e Sustentabilidade Ambiental, tem dedicado esforços em estudos experimentais de processos eletroquímicos que visam aplicações em diversas áreas industriais”, explica Elisama.

Ela acrescenta que o grupo atua principalmente em projetos voltados ao desenvolvimento de tecnologias para proteção e remediação ambiental, em paralelo com a produção de energia renovável. “Atualmente, temos nos dedicado a entender e aplicar processos eletroquímicos para a remoção de poluentes persistentes na água e no solo, produção de oxidantes e conversão de resíduos em combustíveis, com destaque para o hidrogênio verde. No âmbito de monitoramento, temos desenvolvido sensores eletroquímicos para detectar e quantificar compostos orgânicos e inorgânicos”, conclui.

Imagens: Cícero Oliveira

Fonte: Agecom/UFRN

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