Um estudo realizado pelo Instituto do Cérebro (ICe), Centro de Ciências da Saúde (CCS) e pelo Centro de Biociências (CB), utilizou DMT vaporizado para investigar a eficácia da substância contra a depressão resistente a tratamento. Publicado no periódico Psychedelic Medicine e disponível on-line, a pesquisa da UFRN mostrou que houve uma redução na severidade da depressão dos seis pacientes que participaram do experimento com doses do psicodélico vaporizado.
A realização da pesquisa, intitulada Os efeitos antidepressivos da N,N-Dimetiltriptamina vaporizada: um ensaio aberto em depressão resistente a tratamento, contou com um suporte cuidadoso. Teve como apoio a preparação psicológica dos pacientes, havendo um especialista na área. Assim, os pacientes receberam uma dose menor de DMT, de 15 mg, seguida de uma maior (60 mg, 1h30 depois); cada indivíduo comunicava os efeitos da DMT durante o período de aplicação, com um psicólogo presente para atender os pacientes em relação aos efeitos.
Para avaliar como a depressão tinha redução a partir do uso da substância, os pesquisadores utilizaram dois métodos: a escala Montgomery–Asberg de mensuração de depressão, conhecida pela sigla MADRS — criada em 1979 pelos pesquisadores em neurociência e psiquiatria, Stuart Montgomery e Marie Asberg, como forma de avaliar psicopatologias — e o Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) — questionário entregue aos pacientes em que descrevem como estão em relação aos sintomas depressivos.
Os participantes avaliados tinham pelo menos 20 pontos na escala MADRS (que indica depressão moderada/severa) e já tinham tomado outras medicações para tratamento da doença, mas sem sucesso. Depois da aplicação da DMT, os resultados foram promissores: “a pesquisa observou que não houve eventos adversos psicológicos […], o que pode ser considerado um bom sinal em termos de segurança da substância.”, afirma Dráulio Araújo, professor do ICe e um dos realizadores do estudo.
Ou seja, isso aponta que a substância pode ser administrada sem haver complicações graves. Mesmo assim, é necessário contar com cautela ao fazer uso da substância como forma de tratamento. “Se a DMT for utilizada como medicamento no futuro, o acompanhamento psicológico seria essencial para maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar possíveis efeitos adversos”, explica o pesquisador.
Graças ao alívio da depressão verificado no estudo, existe a preparação para contar com experimentações futuras, que serão mais rigorosas. Com isso, segundo Dráulio, espera-se “explorar mais a fundo o potencial terapêutico da DMT”. “Futuras direções para a pesquisa incluem aumentar o número de pacientes, avaliar a necessidade de doses repetidas ao longo do tempo e utilizar um design experimental mais controlado, com randomização [garantia de que os pacientes sejam escolhidos aleatoriamente para um grupo de controle, com placebo, ou de experimento, com a substância]”.
Como autores, estão diversos pesquisadores, além de Dráulio Araújo. São eles: Marcelo Falchi-Carvalho, Handersson Barros, Raynara Bolcont, Sophie Laborde, Isabel Wießner, Sérgio Ruschi B. Silva, Érica J. Pantrigo, José V. Costa-Macedo, Fernanda Palhano-Fontes (pesquisadores do ICe); Daniel Montanini (Hospital de Emergência de São Bernardo do Campo); Ewerton Teixeira, Rodrigo Florence-Vilela, Flávia Arichelle, Raissa Almeida, Rosana K. A. de Macedo, Nicole Galvão-Coelho (Departamento de Fisiologia e Comportamento da UFRN); David C. Barbosa e Emerson Arcoverde (HUOL).
Fonte: Agecom/UFRN